
A ata do Copom divulgada em março confirmou o tom mais duro já sinalizado no comunicado anterior, refletindo a leitura do Banco Central de que, apesar de sinais de desaceleração da atividade econômica, os riscos inflacionários continuam relevantes. Para Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, a política monetária entrou em uma nova fase: a de sintonia fina, com ajustes mais cautelosos, mas ainda possíveis.
A Warren mantém a projeção de Selic terminal em 14,75%, com duas altas de 25 pontos-base em maio e junho. No entanto, Goldenstein vê crescente chance de um novo aumento de 50 bps já na próxima reunião, o que poderia levar a taxa básica de juros a 15% ao ano, caso o cenário inflacionário siga pressionado.
A ata reconhece alguma moderação da atividade econômica, com indicadores fracos de consumo, crédito e produção, especialmente na indústria e comércio. Ainda assim, o Comitê pondera que parte dessa desaceleração pode ser sazonal e que o setor agrícola pode sustentar o PIB do 1º trimestre, o que exige cautela na interpretação dos dados.
Já no campo da inflação, o tom é claro: os serviços seguem pressionados, os repasses da depreciação cambial ainda não cessaram, e os preços de alimentos permanecem em patamares elevados. As expectativas para a inflação de 2025 e 2026 seguem acima da meta, e o Copom volta a enfatizar que isso exige manutenção dos juros altos por mais tempo.
Leitura da Warren
Segundo Goldenstein, a leitura da Warren é de que o BC deseja ganhar flexibilidade sem comprometer sua credibilidade. “O Copom está calibrando a política monetária com mais sensibilidade aos dados. O objetivo é não errar para cima nem para baixo, já que o ambiente é instável e o custo de decisão errada é alto”, afirma o estrategista.
Outro ponto importante da ata foi o recado direcionado ao governo. O BC ressaltou a importância de manter os canais de transmissão da política monetária funcionando plenamente — uma crítica indireta à ampliação de programas de crédito subsidiado, que enfraquecem o efeito da taxa Selic sobre a economia real.
No cenário externo, o Copom apontou como riscos relevantes a elevação das taxas longas nos EUA, o impacto de tarifas comerciais e pressões fiscais na Europa. Apesar da valorização recente do real, o câmbio segue sendo citado como fator de risco altista, o que pode ser revisto nas próximas comunicações, caso a tendência de apreciação se confirme.
Para Goldenstein, o Copom não encerrou o ciclo, mas entrou numa fase mais delicada. “A postura ainda é de vigilância. A inflação segue desafiadora, e a desancoragem das expectativas exige firmeza, mas não há mais espaço para uma postura automática. O Banco Central busca agora ajustar com precisão, sem exageros”, conclui.
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O post Selic perto do limite, mas pode ir a 15%, diz Warren apareceu primeiro em BM&C NEWS.