Entregador de Campinas (SP) diz que rotina incessante é para dar futuro melhor ao filho e conquistar casa própria. Levantamento aponta que profissionais de app ganham 2 salários mínimos e trabalham mais de 40 h por semana. Jornada de trabalho de motoristas de aplicativo é de 46 horas semanais
Trabalhar menos e ganhar mais. Esse é o sonho do moto entregador Ricardo Luiz, de Campinas (SP), assim como o de muitos brasileiros. Hoje, a rotina do trabalhador por aplicativo confirma o retrato destacado pelo IBGE em pesquisa divulgada nesta quarta-feira (25): longas horas de trabalho em busca de um rendimento médio mensal maior.
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“Trabalho 7 dias por semana, sem folga. Não tem [lazer], são 12 horas trabalhando direto. Paro duas horas e depois continuo, das 20h às 22h. Até agora não constou [nenhum problema de saúde], mas dizem que dá, sim. Principalmente coluna, essas coisas”, relatou à EPTV, afiliada da TV Globo.
Hoje, os esforços do moto entregador são focados em realizar os sonhos da família: conquistar a casa própria, cuidar dos problemas de saúde do filho e formá-lo em uma faculdade. “Dar um futuro melhor para ele, o que eu não tive. Tudo pela minha família”, afirma.
Ricardo Luiz é moto entregador e mora em Campinas (SP)
Reprodução/EPTV
Levantamento inédito
A pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que entregadores e motoristas que trabalham em plataformas e aplicativos digitais de serviços ganham, em média, dois salários mínimos, com jornadas acima de 40 horas semanais.
Qual é o perfil desses profissionais?
Homens
Com idade média entre 25 e 39 anos
Moradores da região Sudeste
Além de entregadores e motoristas, o levantamento inclui outros profissionais que utilizam apps para prestar seus serviços, tanto gerais (eletricistas e faxineiros, por exemplo) como funções mais específicas (serviços de TI, tradução, design, etc.).
Ganha mais, trabalha mais
A pesquisa também apontou que, no geral, os chamados trabalhadores “plataformizados” têm um rendimento mensal maior, de R$ 2.645, quando comparado à média salarial das pessoas que trabalham sem utilizar plataformas, de R$ 2.510 (veja o gráfico abaixo).
Apesar disso, os trabalhadores dessa categoria têm jornadas semanais mais extensas: uma média de 46 horas. Os demais profissionais brasileiros costumam trabalhar 39,5 horas por semana.
Entenda como ganham os motoboys Outros destaques da pesquisa
Do total da população ocupada no Brasil (87,2 milhões de pessoas), 2,1 milhões realizam trabalho por meio de plataformas digitais de serviços ou obtêm clientes e efetuam vendas por meio de plataformas de comércio eletrônico no trabalho principal. Desse total, 1,490 milhão de pessoas trabalham por meio de aplicativos de serviços (1,7%), e 628 mil utilizam plataformas de comércio.
O maior percentual mora no Sudeste, que concentra 57,9% (862 mil pessoas) do total de pessoas que trabalham por meio de aplicativos de serviços.
Na pesquisa do IBGE, os trabalhadores poderiam responder que atuavam em mais de um tipo de aplicativo. Foi constatado que, do total de 1,5 milhão de trabalhadores de plataformas, 52,2% (778 mil) exercem o trabalho principal por meio de aplicativos de transporte de passageiros, em ao menos um dos dois tipos listados (de táxi ou excluindo táxi).
Na distribuição por sexo, o levantamento mostrou que a maioria dos trabalhadores por app são homens (81,3%). Na lista geral de trabalhadores ocupados no Brasil, os homens são 59,1%.
E, enquanto entre os trabalhadores brasileiros em geral, 60,8% contribuíram para instituto de previdência; entre os “plataformizados”, essa porcentagem é de apenas 35,7%.
Quanto ganham os trabalhadores de plataforma no Brasil
Kayan Albertin/g1
O rendimento médio real habitualmente recebido pelos trabalhadores por aplicativo é 5,4% maior do que a média salarial das pessoas que não utilizam plataformas para trabalhar.
Isso não acontece, no entanto, com os profissionais de todos os níveis de escolaridade. Entre as pessoas com nível superior completo, o rendimento dos “plataformizados” é 19,2% inferior ao daqueles que não trabalham por meio de aplicativos de serviços.
Na região Sudeste, o rendimento dos trabalhadores convencionais também é maior do que o dos que atuam por meio de aplicativos.
Apesar do rendimento médio mensal maior, no geral, os trabalhadores por aplicativos também têm uma jornada de trabalho habitual 6,5 horas mais extensa do que a dos demais ocupados.
Quantas horas por semana os trabalhadores de plataforma trabalham no Brasil
Kayan Albertin/g1
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