Maior feira a céu aberto da América Latina e patrimônio do Brasil, Ver-o-Peso é símbolo de cultura e história da Amazônia


Cartão-postal de Belém do Pará, espaço chega aos 398 anos nesta quinta-feira (27) em reformas para a COP 30. Complexo reúne mercados e praças, e se mantém símbolo da região, inspirando artistas. Complexo do Ver-o-Peso
Agência Belém
Mais emblemático cartão-postal de Belém, o Ver-o-Peso completa 398 anos nesta quinta-feira (27). Considerado a maior feira livre da América Latina, o espaço é um complexo arquitetônico e paisagístico de 25 mil metros quadrados, tombado como patrimônio histórico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Erguido com características da Belle Époque francesa às margens da baía do Guajará, o complexo reúne mercados, praças, vias públicas e é cenário de fé, arte, cultura, gastronomia e história, conectando a Amazônia urbana e ribeirinha.
“O Ver-o-Peso remonta à formação de Belém no século 17. O processo de ocupação da cidade se dá do ver o peso em direção à igreja de Santo Antônio. Não à toa nos temos os dois bairros históricos a partir do Ver-o-Peso: a Cidade Velha e a Campina. O Ver-o-Peso se torna um símbolo muito forte em relação à cultura popular de Belém”, diz o historiador Michel Pinho – veja a entrevista completa no vídeo abaixo.
Nós temos um modo muito específico de comunicarmos nossa cultura e nossa identidade. O Ver-o-Peso é um dos locais mais fotografados de Belém, desde o começo da fotografia, na metade do século 19, até hoje
Historiador Michel Pinho fala sobre o Ver-o-Peso
Em reforma, após mais de vinte anos sem amplas obras de manutenção, o Ver-o-Peso se prepara para a COP 30, maior conferência mundial sobre o clima, que será sediada em Belém no mês de novembro de 2025.
São cerca de R$ 64 milhões destinados à reforma completa do Complexo do Ver-o-Peso, com ações em andamento pela Prefeitura, via Seurb, com recursos garantidos pelo Governo Federal, pela Itaipu Binacional. As obras no local continuam e os feirantes estão realocados em uma feira provisória na mesma área.
Este ano, o aniversário será celebrado com o tradicional bolo de gigante e programação musical, com as apresentações de DJ Dinho, grupos folclóricos e outras atrações, em frente ao Solar da Beira.
São cerca de R$ 64 milhões destinados à reforma completa do Complexo do Ver-o-Peso
Agência Belém
Mercado de Carne passa por reforma
Agência Belém
O que compõem o complexo?
A casa do Ver-o-Peso foi instituída, no século XVIII, como mesa fiscal, onde eram pagos os impostos dos gêneros trazidos para a sede das capitanias. As canoas se refugiavam na ampla doca aberta por onde desaguava o extenso Igarapé do Pirí e acredita-se que a casa do Ver-o-Peso ficava nas proximidades da Rua da Cadeia, no desenbocadouro do Largo do Palácio fazendo frente para o canal, entre as atuais ruas 15 de Novembro e João Alfredo.
O Ver-o-Peso é considerado um dos mercados públicos mais antigos do País. O complexo compreende uma série de construções históricas:
Boulevard Castilhos França: uma das primeiras vias largas da cidade, projetada com preocupação paisagística com influência Art Nouveau. O Boulevard é formado por sobrados conjugados com casas comerciais no térreo. Alguns sobrados são revestidos por azulejos.
Ver-o-Peso e arredores (1935)
Robert Swanton Platt/ Projeto Laboratório Virtual – FAU ITEC UFPA
Durante o Círio, imagem peregrina de Nazaré atravessa o Ver-O-Peso cercada pela multidão de fieis
Manoel Campos
Mercado de Ferro: substituiu a “Casa de Haver-o-Peso” demolida em 1899. O Mercado Bolonha de Peixe é o primeiro mercado municipal de peixes da cidade de Belém, inaugurado em 1901. A estrutura, toda de ferro, foi trazida da Europa, a cobertura principal é em telha tipo “Marselha” e as torres art-noveau possuem cobertura em escamas de zinco, sistema “Vieille-Montagne”.

Mercado da Carne: primeiro mercado municipal de carnes da cidade, o Mercado de Carne é conhecido também como Mercado Municipal ou Mercado Bolonha. A edificação foi feita pelo engenheiro Francisco Bolonha. Externamente é de alvenaria e com pátio interno com imponente estrutura metálica. É composto de quatro corpos iguais e autônomos onde se localizam as lojas, separadas por duas vias que se cruzam. Dispõe de um pequeno pavilhão e um mirante circular.
Praça do Relógio
Agência Belém
Praça do Relógio: importado da Inglaterra, foi construído em Belém em 1930 doado pelo intendente Antonio Faciola;

Doca do Ver-o-Peso: A Doca do Ver-o-Peso é uma feira de peixe. É rodeada pela Praça do Relógio, Feira do Açaí e Mercado de Ferro;

Feira do Açaí: é uma feira ao céu aberto, localizado atrás do Forte do Castelo, que abastece a cidade com o fruto açaí plantado nas ilhas da região;

Ladeira do Castelo: a rua da Ladeira fica ao lado do Forte do Castelo, que liga a Feira do Açaí ao Largo da Sé;

Solar da Beira: é um prédio público construído em estilo neoclássico e em 1985 foi transformado em restaurante e local de eventos;

Praça Dom Pedro II: possui três monumentos tombados: o Palacete Azul, o Palácio do Governo e a Casa do Barão de Guajará.
No meio do pitiú
No meio do pitiú: a feira mais famosa do Pará ganhou homenagem de Dona Onete
Divulgação
Entre trabalhadores, turistas e locais, estima-se que mais de 50 mil pessoas circulem diariamente pelo Ver-o-Peso. No local, vende-se de tudo: verduras e frutas variadas, farinhas de todos os tipos, camarões e peixes secos, artesanato, remédios naturais, ervas e mandingas, animais vivos e mortos, temperos típicos, e sabores marcantes da comida afro-indígena da região, como o açaí, o tucupi (caldo extraído da mandioca, usado em pratos como o tacacá), e a maniva (folhas de mandioca moídas e cozidas, que servem de base para o preparo da maniçoba).
Todo esse vai-e-vem faz do Ver-o-Peso um cenário emblemático da vida amazônica, seus tipos humanos e manifestações culturais, desde religiosas a profanas, o que inspira diversos artistas da terra.
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A feira mais famosa do Pará ganhou homenagem de Dona Onete, que eternizou, em canção, um dos traços mais marcantes do mercado: o pitiú, cheiro característico, que advém da mistura de peixe fresco, frutas e aromas de produtos vendidos no local. “No meio do pitiú” se transformou em um dos maiores sucessos da artista. A música, conhecida por todo o Brasil, fala sobre a história de amor entre a garça e o urubu no mercado popular – uma espécie de releitura de “A dama e o vagabundo” aos moldes caboclos.
“O Ver-o-Peso faz parte da minha história desde os anos 50, desde pequenininha. Sempre gostei das frutas, dos aromas. Então essa minha coisa com o Ver-o-Peso é antiga. Gosto da mistura de linguajar, as gírias daqui, nossa fala caboclo usada pelos feirantes. Isso é muito bonito. Pro Ver-o-Peso, eu deixo um abraço com cheiro de pitiú, e um beijo com o tremor do jambu”, diz a rainha do carimbó chamegado.
Pilar do Norte
A arte visual contemporânea também mergulha na riqueza do mercado. Nay Jinknss, um dos maiores destaques da nova geração de fotógrafos do Norte, tem sua produção atravessada pelo Ver-o-Peso, que ela documenta há mais de 10 anos. São imagens dos trabalhadores, pessoas em situação de rua, festas, Círio – a complexidade e intensidade de vida e cultura que marca o espaço.
“Quando comecei a documentar Belém, eu apresentei uma pessoa chamada Ver-o-Peso, um ser tão complexo e plural quanto a gente, que tem suas belezas e precariedades. É um grande pilar do Norte, um terreiro de muita energia”, diz.
“Quando a pessoa acessa a internet é difícil de enxergar a Amazônia para além da fauna e flora. É necessário que a gente se reconheça na identidade e memória dessa cidade. Precisamos legitimar falas de pessoas invisibilizadas. Eu estou no Ver-o-Peso como um instrumento de documentação que me forma como mulher preta. As pessoas não podem ter medo de visitar esse lugar porque lá se mantém viva a nossa cultura”, completa.
Nay Jinknss documenta o Ver-o- Peso há mais de 10 anos
Nay Jinknss
Obra “O imaginário está atrás da porta: Belém adormecendo nas margens do Guajará”.
Nay Jinknss
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