Zelensky questiona compromisso dos EUA com o futuro da Europa

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, colocou em dúvida o compromisso dos Estados Unidos com seus aliados transatlânticos, afirmando que a decisão do presidente Donald Trump de priorizar questões internas como seu primeiro ato no cargo sugeria desinteresse pelo futuro da Europa.

“Neste momento, todos os olhares estão voltados para Washington, mas quem realmente está olhando para a Europa agora?”, questionou Zelensky ao público de líderes empresariais e chefes de Estado reunidos em Davos, Suíça, durante seu discurso nesta terça-feira (21).

Zelensky buscou apelar a autoridades e empresas europeias, alertando que a segurança da região está em risco. Ele destacou que Trump deixou claro suas prioridades com as primeiras ordens executivas assinadas após sua posse.

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Entre essas ações, estavam a suspensão da proibição ao TikTok, implementada nos últimos dias do governo de seu antecessor, Joe Biden; a declaração de emergência na fronteira nacional; e o recuo em metas climáticas.

“Será que o presidente Trump vai sequer perceber a Europa? Ele vê a OTAN como necessária e respeitará as instituições da União Europeia?”, perguntou Zelensky, observando que as relações globais estão mudando e que a Europa teme ser abandonada pelos EUA em um momento de necessidade. Segundo ele, Washington não compartilha dessa preocupação.

“Alguém nos Estados Unidos teme que a Europa possa abandoná-los algum dia, deixar de ser sua aliada? A resposta é ‘não’”, disse ele aos delegados.

“A Europa não pode se dar ao luxo de ficar em segundo ou terceiro lugar na fila de aliados dos [EUA]. Se isso acontecer, o mundo começará a avançar sem a Europa… A Europa precisa competir pelo primeiro lugar em prioridades, alianças e desenvolvimento tecnológico.”

A região precisa se estabelecer como “um jogador global forte”, enfatizou o líder ucraniano.

Uma paz ‘justa’

A presença de Zelensky e seu discurso representaram uma oportunidade crucial para que a Ucrânia defendesse suas próprias propostas de paz diante da provável pressão do recém-empossado presidente Trump para chegar a um acordo de cessar-fogo com a Rússia.

Fevereiro marcará o terceiro aniversário da invasão russa, e o cansaço com a guerra está crescendo em meio à incerteza sobre o futuro da ajuda à Ucrânia, que permitiria continuar resistindo aos avanços russos no sul e no leste do país.

Embora os aliados ocidentais tenham prometido manter o apoio militar a Kiev, Trump demonstrou muito mais ambivalência em relação à continuidade da ajuda dos EUA, chegando a afirmar que acabaria com a guerra em 24 horas, caso fosse eleito presidente.

Parceiros europeus da Ucrânia expressaram preocupações de que Kiev possa ser pressionada a aceitar um acordo de paz injusto com Moscou, que exigiria a cessão de territórios atualmente ocupados pela Rússia. Críticos temem que esse tipo de arranjo permita à Rússia se reorganizar, se rearmar e, no futuro, tentar anexar mais territórios.

Na terça-feira, Zelensky alertou que a Europa pode ser excluída de futuras negociações de paz sobre a Ucrânia, caso os EUA decidam conduzir as conversas sozinhos com a Rússia e a China.

“No momento, não está claro se a Europa terá sequer um lugar à mesa quando a guerra contra nosso país acabar. E vemos o quanto a China influencia a Rússia. Somos profundamente gratos à Europa por todo o apoio dado ao nosso país, mas será que o presidente Trump ouvirá a Europa ou negociará com Rússia e China, sem a Europa?”, questionou.

Trump já mencionou a possibilidade de um encontro próximo com o presidente russo Vladimir Putin, com quem manteve relações cordiais durante seu primeiro mandato.

Por outro lado, Trump tem demonstrado sentimentos mais ambíguos em relação a Zelensky, chamando-o tanto de “muito honrado” quanto de “o maior vendedor” no passado.

Cientes de sua posição delicada, autoridades ucranianas têm buscado se aproximar de Trump desde sua vitória eleitoral. Zelensky e sua equipe afirmaram estar otimistas quanto à possibilidade de trabalharem juntos para alcançar a paz na Ucrânia.

Ao parabenizar Trump por sua vitória nas urnas, Zelensky comentou na rede social X que valorizava o “compromisso de Trump com a abordagem de ‘paz pela força’ nos assuntos globais”.

Maxim Timchenko, diretor executivo da DTEK, maior empresa de energia da Ucrânia, disse à CNBC na terça-feira que a Ucrânia precisa de um acordo de paz justo e afirmou acreditar que Trump pode ajudar a alcançá-lo.

“Todos os ucranianos querem uma resolução tanto quanto qualquer outra pessoa, mas não se trata apenas de uma resolução, é sobre justiça, uma paz justa. É sobre algo que possa durar muitos anos, e não apenas uma pausa [na guerra]”, afirmou Timchenko em Davos.

“Confio no presidente Trump, porque temos valores comuns em nossos países e estou confiante de que ele protegerá esses valores enquanto reconstruímos uma nova Ucrânia baseada nesses princípios.”

Aludindo à natureza frequentemente transacional das políticas externas e comerciais de Trump, Timchenko destacou que poderia haver cooperação futura com os EUA em segurança energética e na eventual reconstrução da Ucrânia.

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