Horas antes do assassinato, amigo alertou médico a tomar cuidado com a segurança pessoal no Rio de Janeiro

Empresário ainda chegou a questionar se Diego Ralf Bomfim precisaria mesmo participar de congresso, dada a formação profissional qualificada que já possuía. O empresário Guilherme Cipullo (à esquerda) com o médico e amigo Diego Bomfim (à direita)
Cedida
O empresário Guilherme Germiniani Cipullo conversou pela última vez na noite da quarta-feira (4) com o amigo Diego Ralf Bomfim e, horas antes do assassinato que vitimou o médico ortopedista em um quiosque na praia da Barra da Tijuca, chegou a alertá-lo, em tom de brincadeira, em troca de mensagens, a tomar cuidado com a sua segurança pessoal no Rio de Janeiro (RJ).
Em entrevista à TV Fronteira, Cipullo disse ainda que chegou a perguntar ao amigo se ele realmente precisaria participar de um congresso médico na capital fluminense, dada a formação profissional qualificada que já possuía.
“Até brinquei com ele, a gente vê o Rio de Janeiro e tudo, eu vou bastante para lá, mas eu até brinquei com ele, falei da questão de celular e carteira, para tomar cuidado, obviamente como uma brincadeira, e ainda perguntei, falei para ele se ele precisava ainda de um congresso, porque ele já era uma pessoa que tem uma formação excepcional, já passou por muitas especializações, e eu ainda brinquei: ‘Ainda precisa disso?’. Ele falou: ‘É sempre bom estar estudando, se especializando mais’”, lembrou Cipullo.
Os amigos estudaram juntos durante o ensino médio em dois colégios particulares em Presidente Prudente (SP) e Cipullo disse que levou um “choque”, na manhã desta quinta-feira (5), ao receber a notícia do assassinato de Diego Bomfim.
“Mas é muito triste. Eu acordei hoje, pela manhã, com a notícia, um médico me contou também, me acordou com uma ligação e, na hora, é aquele choque. A gente não entende direito, acha que é mentira e, depois, você vai vendo que é tudo verdade mesmo. Isso acaba com o seu dia, com o seu mês, com tudo, para falar a verdade”, desabafou o empresário.
Velório e sepultamento
O corpo do médico ortopedista Diego Ralf Bomfim, assassinado a tiros no Rio de Janeiro, será velado e sepultado nesta sexta-feira (6), em Presidente Prudente. A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), irmã da vítima, desembarcou na cidade do interior paulista na tarde desta quinta-feira (5) para prestar apoio à família.
A expectativa dos familiares é de que o corpo chegue a Presidente Prudente durante a madrugada e o velório se inicie a partir da 1h, na Casa de Velório Athia, no Jardim Bela Dária. O enterro está programado para as 17h, no Cemitério Municipal Campal, no Residencial Anita Tiezzi.
Assim que desembarcou no Aeroporto Estadual de Presidente Prudente, Sâmia encontrou-se com os pais, Domingos e Antônia, e, em entrevista à TV Fronteira, prestou solidariedade aos outros dois médicos também mortos no atentado em um quiosque na Barra da Tijuca.
“Primeiro, eu queria demonstrar a minha solidariedade às famílias dos outros dois médicos, que também foram vitimados neste atentado. Eu quero agradecer a toda solidariedade, eu recebi muitas mensagens, só consigo agradecer a todo mundo mesmo. Nós exigimos apuração, foi um crime bárbaro, a gente quer a apuração, a gente já entrou em contato com o Ministério da Justiça, para que a Polícia Federal possa acompanhar a apuração deste crime, então, a gente espera que haja resposta o mais rápido possível”, disse Sâmia.
Sobre recentes ameaças, a deputada federal relatou que já recebeu algumas “por e-mail” e que nunca se sabe “quem está por trás” deste tipo de ataque.
Sâmia descreveu o irmão como “um querido, íntegro, inteligente, dedicado, totalmente carinhoso com todo mundo”.
“Nunca fez mal para ninguém, pelo contrário, ele só orgulhava a nossa família. Foi muito difícil para os meus pais conseguirem formá-lo como médico, foi sempre um orgulho muito grande para a nossa família, ele foi bolsista na faculdade, conseguiu chegar muito longe e é absolutamente injusto o que aconteceu com ele, com a nossa família, com os meus pais”, concluiu à TV Fronteira.
O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), marido de Sâmia, reforçou o pedido para que o “Ministério da Justiça faça o acompanhamento das investigações” com a Polícia Federal.
“Que essas investigações possam ser profundas para que a gente possa chegar aos executores, aos mandantes, exatamente o que aconteceu. E o que a gente quer, neste momento, é deixar um abraço forte para a família das outras duas pessoas que faleceram e abraçar a nossa família e agradecer todas as mensagens de solidariedade que estão chegando”, finalizou o marido de Sâmia.
O crime
Diego Ralf Bomfim foi um dos quatro médicos ortopedistas baleados na madrugada desta quinta-feira em um quiosque na praia da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Três médicos morreram e um está internado.
A Polícia Civil do RJ acredita em execução, já que nada foi levado, e os criminosos chegaram atirando.
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Diego morreu no Hospital Lourenço Jorge após ser socorrido. O médico era especialista em reconstrução óssea pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Condolências
A Faculdade de Medicina da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), em Presidente Prudente, lamentou a morte de Bomfim, que concluiu a graduação em 2015, e manifestou condolências aos familiares e amigos.
A irmã do médico, Dayane Bomfim, informou que tem receio de ser um crime político.
“A gente está meio sem acreditar em tudo que aconteceu. Meu irmão era uma pessoa muito boa e nós estamos com receio de ser [um crime] político por conta da minha irmã, porque foi claramente uma execução, eles foram para matar um dos quatro que estavam lá e os demais morreram como queima de arquivo”, afirmou Dayane ao g1.
Ela também relatou que o irmão estava na melhor fase profissional da vida dele. O médico ortopedista era especialista em reconstrução óssea pela Universidade de São Paulo (USP).
“Estava todo feliz porque tinha conseguido comprar o apartamento dele. Estava na melhor fase da vida dele, profissionalmente falando. Ia noivar. Ele era uma pessoa muito boa, já tinha operado muitas pessoas sem cobrar nada, era um menino alegre, divertido, extremamente inteligente”, disse Dayane ao g1.
O empresário Guilherme Germiniani Cipullo, de 37 anos, era amigo de Bomfim desde o ensino médio, quando estudaram juntos em dois colégios particulares de Presidente Prudente, e afirmou ao g1 que se viam mensalmente, “ mantivemos a amizade depois de todos estes anos”.
Ele também relatou que conversou, na noite desta quarta-feira (4), com o médico por um aplicativo de mensagens, quando Bomfim havia chegado ao Rio de Janeiro.
“Conversamos ontem à noite pelo WhatsApp, quando ele chegou ao Rio de Janeiro. Mandou a foto do hotel em um grupo de amigos… Estava tudo normal”, disse Cipullo ao g1.
O empresário ainda relatou que foi informado do assassinato de Bomfim por um outro amigo, que também é médico, na manhã desta quinta-feira.
“Apenas boas lembranças, uma pessoa que dificilmente brigaria com alguém”, relembrou o amigo do médico.
O Diretório Acadêmico (DA) Doutor José Hamilton do Amaral, da Faculdade de Medicina da Unoeste, enviou uma nota de pesar ao g1 se solidarizando com os amigos e familiares de Diego Bomfim.
“Nós, do Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina da Unoeste de Presidente Prudente, nos solidarizamos com a perda do Dr. Diego Bomfim, formado na vigésima nona turma da faculdade de medicina. Nossos sentimentos à família e amigos, que Deus conforte o coração de todos!”, afirmou o DA.
O Hospital Regional (HR) de Presidente Prudente também emitiu uma nota em solidariedade aos familiares e amigos pela morte do médico ortopedista.
“Durante sua graduação, Diego realizou o internato nesta unidade como acadêmico da Faculdade de Medicina de Presidente Prudente. A direção do hospital, junto aos membros do corpo clínico, bem como seus colaboradores, se solidarizam aos familiares e amigos por esta perda inconsolável”, disse o HR.
‘Estou em choque’, diz amiga
A médica psiquiatra Marcelle Cardoso, que era amiga de Diego Bomfim, com quem cursou medicina em Presidente Prudente, fez uma publicação em rede social desabafando sobre o sentimento após a morte do amigo.
“É inconcebível o que está acontecendo. Eu não aceito. Eu não entendo. Não é justo. Eu estou com muita raiva de tudo. Hoje passei o dia lembrando dos momentos que passamos juntos. São tantos! Estou em choque. Estou paralisada. Meu coração dói! Eu amo tanto você… Não podia ser assim”, desabafou Marcelle.
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