Drag brasileira que denunciou xenofobia e ‘comeu coração’ no palco conquista 2º lugar em reality na Suécia: ‘surreal’

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Gabriel Fontana, de 29 anos, participou da versão sueca do ‘Drag Race’, programa de TV idealizado por RuPaul. Final foi transmitida em 22 de abril e teve Admira Thunderpussy, de Estocolmo, como vencedora. Drag queen de São Leopoldo conquista 2º lugar em reality show na Suécia
A drag queen brasileira Fontana, natural de São Leopoldo, na Região Metropolitana de Porto Alegre, conquistou o segundo lugar na versão sueca do programa de TV ‘Drag Race’. A final foi transmitida em 22 de abril e coroou Admira Thunderpussy, de Estocolmo, como a vencedora do reality show.
Durante a competição, Fontana ficou conhecida por levar elementos do Brasil a suas apresentações – ela é a segunda drag queen brasileira a participar da franquia, que ficou conhecida em sua versão original, dos Estados Unidos, apresentada por RuPaul. A drag brasileira também chamou atenção ao “comer” um coração de plástico coberto por um líquido que imitava sangue durante uma performance.
“Chegar na final é surreal. Parece que a gente sai do corpo. Eu assistia na TV e nem lembrava direito, porque é tudo tão intenso que eu esquecia que tinha câmera. Estava focado em lutar e vencer meus desafios”, contou Gabriel Fontana, de 29 anos, em entrevista por vídeo ao g1 RS após a final.
Natural de São Leopoldo, Gabriel Fontana ficou em 2º lugar no ‘Drag Race’ da Suécia
Reprodução
Vida na Suécia
Gabriel mora na Suécia desde 2014, e foi só depois que se mudou para o país europeu que viu nascer dentro de si a drag queen Fontana. Por lá, o estudante de administração que trabalhava no escritório de uma multinacional e dava aulas de inglês nos finais de semana passou a ser uma cantora de contrato assinado com gravadora após participação na versão sueca de outro reality show conhecido, o “Ídolos”.
“Tenho duas vidas: antes da Suécia e depois da Suécia. Encontrei uma paz tão grande na Suécia que consegui achar a drag dentro de mim. Quando lembro da minha infância, era muito difícil, porque eu sofria muito preconceito. E, ao me mudar para a Suécia, todas as características pelas quais eu sofria passaram a me empoderar. Nesse país, os direitos humanos sempre estiveram muito à frente”, diz Gabriel.
Durante o “Drag Race”, a drag queen Fontana homenageou o Brasil em performances no palco
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Porém, no país europeu, outro tipo de preconceito passou a ser uma realidade: a xenofobia. Fontana conta que, lá, passou a sentir mais segregação por seu país de origem do que por sua sexualidade.
“A Suécia tem raízes xenofóbicas absurdas. Esse país, que eu via como um paríso, com respeito à diversidade, acabou passando por um processo de conservadorismo muito forte. Vi que meus desafios como imigrante eram maiores [do que os como drag], com portas sempre se fechando, dificuldade de aceitação”, conta.
Passado no Brasil
Gabriel nasceu na Vila Esperança, em São Leopoldo. Na cidade do RS, conta, precisava lidar com a homofobia da família e de colegas de colégio. Filha de uma auxiliar de enfermagem e de um borracheiro, diz que demorou para perceber que o problema não estava dentro de si, mas na socierdade.
“Não é comum para pessoas da Vila Esperança chegarem onde eu cheguei. Lembro que quando falei para minha mãe que queria ser artista, ela disse ‘meu filho, a gente é pobre’”, conta Fontana. E continua:
“A primeira vez que me montei de drag foi assistindo à Xuxa de manhã: botava uma calça de moletom na cabeça e fazia duas ‘chuquinhas’. Eu tinha medo de explorar esse meu lado. As poucas pessoas da minha família que me aceitavam falavam ‘você pode ser gay, mas não se vista de mulher’”, diz.
Até por isso, avalia que a participação com sucesso no reality show pode ser inspirador para a comunidade LGBTQIA+ não só da Vila Esperança, mas de todo o RS e Brasil.
“Quando eu, Gabriel, estou no maior programa de drag do mundo, represento muitas pessoas. Queria que a minha mensgem chegasse a todos os LGBTQIA+ de São Leopoldo, do RS, de todas as cidades em que eu transitava e via as pessoas sofrendo muito. Ninguém me ensinou a sonhar, mas eu tinha a força que me trouxe até aqui. Se eu cheguei, qualquer um pode chegar.”
Fontana usou música de Lady Gaga durante performance com coração de plástico no palco do “Drag Race”
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