Como o fenômeno El Niño pode influenciar o aumento dos casos de dengue em Piracicaba? Entenda

Segundo coordenador do Plano Municipal de Combate ao Aedes (PMCA), por conta do fenômeno, temperaturas mais altas e chuvas tendem a facilitar proliferação do Aedes Aegypti. Mosquito Aedes aegypti
Lucas Garriga/INaturalist
A situação da dengue em Piracicaba (SP) em 2023 já é preocupante, conforme a Secretaria da Saúde. Este ano a cidade registra o dobro de casos em relação ao mesmo período de 2022. A influência do fenômeno El Niño também traz projeções de piora no cenário para o próximo ano – Entenda abaixo.
O El Niño, assim como a La Niña, é um fenômeno que determina mudanças nos padrões de transporte de umidade e, portanto, variações na distribuição das chuvas em algumas partes do mundo — inclusive o Brasil.
O El Niño é a fase positiva do fenômeno chamado El Niño Oscilação Sul (ENOS). Ou seja, quando ele está em atuação, o calor é reforçado no verão e o inverno é menos rigoroso. Isso ocorre porque ele dificulta o avanço de frentes frias no país, fazendo com que as quedas sejam mais sutis e mais breves.
Segundo Sebastião Amaral Campos, o Tom, coordenador do Plano Municipal de Combate ao Aedes (PMCA), o fenômeno deve fazer com que o verão seja mais quente e chuvoso, o que são as condições ideais para desenvolvimento do mosquito Aedes aegypti – transmissor da dengue.
“A projeção não é das melhores para o próximo ano. Em 2023 e 2024 vamos estar sobre a influência do El Niño, que apresenta temperaturas muito altas, aquele mormaço, e com chuvas intercaladas. São condições maravilhosas para o pernilongo se desenvolver. Então a gente tem que tomar muito mais cuidados.”
Segundo Tom, o período chuvoso e quente, que na região de Piracicaba ocorre entre outubro e março, já é naturalmente mais propenso ao aumento de casos da dengue. Com o fenômeno El Niño em curso, a tendência é ser ainda pior.
Amostra de larva do mosquito Aedes aegypti
Cristine Rochol/PMPA
Cenário quase epidêmico
De acordo com Tom, a situação atual da cidade é de fato preocupante, mas ainda não é considerada epidêmica. Segundo ele, para se configurar uma epidemia, o município precisa estar em duas situações.
Primeiro é de no mínimo 300 casos a cada 100 mil habitantes – o que já ocorre em Piracicaba, que tem 2.819 confirmações de dengue e cerca de 420 mil habitantes. O número daria em torno de 671 casos a cada 100 mil – veja tabela de casos abaixo:

No entanto, a cidade não tem ainda o segundo critério para ser considerada epidemia. “Tem que ter quatro semanas seguidas de números de casos aumentando progressivamente. Não foi o caso de Piracicaba. Depois da 17ª semana do ano nós fomos acompanhando e configurou uma diminuição do número de casos.”
Esses padrões são utilizados pela Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) do estado, conforme explicou Tom.
“Está próximo de um estado epidêmico, mas não chegou a se confirmar”, afirmou.
Segundo ele, nesse momento há uma tendência de queda nos casos por conta do inverno, que traz clima frio e seco. “A partir de setembro que começam as primeiras chuvas, progressivamente o número de casos vai aumentando. Porque começam-se as chuvas e as temperaturas ficam altas. São condições ideais para que o mosquito se reproduza.”
Regiões mais afetadas
A maioria dos casos na cidade atualmente está concentrada na região Oeste, que compreende os bairros Vila Cristina, Monte Líbano, Itapuã e imediações, além da região Sul, que inclui o Campestre, Pauliceia, Bairro Verde, Paulista e imediações. Veja no gráfico:

Tom explica que essa variação de casos conforme as regiões é comum e é difícil prever qual será mais atingida.
O coordenador do PMCA afirma que o aumento no geral teve relação com a quantidade de chuvas, que foi maior este ano.
“Nós temos algumas hipóteses para isso. Nesse ano, por exemplo, choveu bastante e um maior número de pessoas guardou água de chuva – o que eu incentivo. Só que normalmente parte dessas pessoas armazenam essa água da chuva em recipientes impróprios, deixam de colocar tampa ou deixam uma fresta. E tornam-se criadouros potenciais.”
Além da dengue, a cidade também registrou dois casos de Chikungunya, que também é transmitida pelo Aedes Aegypti. As duas confirmações, no entanto, são importadas.
Vacina da dengue do Butantan
Governo de São Paulo/Divulgação
Esperança da vacina
Apesar da projeção ser de mais casos, Tom explicou que atualmente as vacinas que estão sendo desenvolvidas para a dengue podem ser uma esperança de melhora no cenário no futuro, principalmente a partir de 2024. Atualmente existe uma vacina aprovada para uso no Brasil, mas está disponível apenas na rede particular.
Segundo ele, a expectativa é que uma vacina que foi desenvolvida pelo Instituto Butantan e atualmente está em fase de testes seja disponibilizada no Sistema Único de Saúde (SUS). Se isso ocorrer, o cenário pode ser totalmente diferente.
“Se todo mundo tomar a vacina, como deve tomar, vai melhorar muito. Porque ela vai evitar todos os tipos de dengue, do 1 ao 4. É uma coisa muito boa se acontecer isso.”
“E ela atende os quatro sorotipos. Se ela realmente aparecer e for para o SUS, seria ótimo para todo mundo. A que existe atualmente só está no particular e custa muito caro, além de cobrir dois sorotipos”, afirmou.
Equipes de combate ao mosquito transmissor da dengue, em Piracicaba
Divulgação/ Prefeitura de Piracicaba
Como evitar a dengue
Segundo a prefeitura, são feitas ações durante o ano todo para evitar a proliferação do mosquito da dengue, com visitas e mutirões em todos os bairros, além da coleta de materiais inservíveis.
Do fim de 2022 até agora, foram recolhidas cerca de 300 toneladas desse tipo de material. Segundo Tom, cerca de 10% a 15% desses materiais são de criadouros do Aedes.
“É um volume monstruoso, que a gente consegue eliminar todos os anos.”
Veja algumas das orientações para evitar a proliferação do Aedes:
Mantenha o terreno limpo e livre de materiais ou entulhos que possam ser criadouros;
Tampe os tonéis e caixas d’água;
Mantenha as calhas limpas;
Deixe garrafas sempre viradas com a boca para baixo;
Mantenha lixeiras bem tampadas;
Deixe ralos limpos e com aplicação de tela;
Limpe semanalmente ou preencha pratos de vasos de plantas com areia;
Limpe com escova ou bucha os potes de água para animais;
Limpe todos os acessórios de decoração que ficam fora de casa e evite o acúmulo de água em pneus e calhas;
Coloque repelentes elétricos próximos às janelas – o uso é contraindicado para pessoas alérgicas;
Velas ou difusores de essência de citronela também podem ser usados;
Evite produtos de higiene com perfume, pois podem atrair insetos;
Retire água acumulada na área de serviço, atrás da máquina de lavar roupa.
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