Lula reitera que o Mercosul não vai ceder a ameaças para fechar acordo com a União Europeia

‘Pela primeira vez, eu estou otimista de que a gente vai concluir esse acordo ainda este ano’, declarou o presidente brasileiro. Lula reitera que o Mercosul não vai ceder a ameaças para fechar acordo com a União Europeia
Jornal Nacional/ Reprodução
Terminou nesta quarta-feira (19) a viagem do presidente Lula à Bélgica, onde participou do encontro de países latino-americanos e europeus. Ainda em Bruxelas, antes de embarcar de volta ao Brasil, o presidente reiterou que o Mercosul não vai ceder a ameaças para fechar acordo com a União Europeia.
Lula fez um balanço bem positivo. Definiu a cúpula que reuniu 60 líderes europeus, latino-americanos e caribenhos como “extremamente exitosa”.
“Eu poucas vezes vi tanto interesse político e econômico dos países da União Europeia com seus interesses para a América Latina. Possivelmente pela disputa entre Estados Unidos e China. Possivelmente pelos investimentos da China na África e na América Latina. Possivelmente pela nova rota da seda, possivelmente pela guerra”, disse o presidente do Brasil.
Ele fez um resumo dos últimos dois dias. Destacou a importância dos compromissos sobre meio ambiente e reforçou a importância do Brasil nesse cenário.
“A Amazônia é um território soberano do Brasil. No caso dos quase 4 milhões de km², o Brasil tem responsabilidade. Mas o Brasil não quer transformar a Amazônia em um santuário da humanidade”, afirmou Lula.
O acordo Mercosul – União Europeia, que ainda depende da aprovação dos países, foi tema em discussões paralelas. Lula voltou a criticar a carta que a União Europeia apresentou em março com novas exigências climáticas. Anunciou que, em até três semanas Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai vão enviar uma reposta conjunta. E reforçou que não abre mão das chamadas compras governamentais – as compras públicas através de licitações. Lula não quer que os processos sejam abertos para as empresas europeias para, segundo ele, não prejudicar empresas nacionais.
“A compra governamental é um instrumento de política industrial soberano de cada país. Isso vale para os Estados Unidos, isso vale para a China, isso vale para a Alemanha, isso vale para França e vale para Bélgica. Então, é um instrumento importante que nenhum país pode abrir mão”, disse Lula.
Mais uma vez, foi duro ao dizer que o Mercosul não vai aceitar a imposição de sanções, mas repetiu que o acordo deve ser fechado ainda em 2023.
“A Europa tinha feito uma carta agressiva. A carta que a Europa fez para o Mercosul era uma carta que ameaçava com punição se a gente não cumprisse determinados requisitos ambientais. E a gente disse para União Europeia que dois parceiros estratégicos não discutem com ameaças. Estou muito otimista. Pela primeira vez, eu estou otimista de que a gente vai concluir esse acordo ainda este ano”, declarou Lula.
Na entrevista, Lula foi questionado também sobre assuntos internos e as negociações para abrir mais espaço no governo para os partidos do Centrão. Ele disse que vai conversar com todas as forças políticas para que mudanças possam ser aprovadas no Congresso Nacional, mas afirmou que é preciso fazer isso com tranquilidade.
“Quem discute ministro é o Presidente da República. Não é o partido que pede o ministério. É Presidente da República que oferece. Então, irei oferecer aquilo que eu acho que é necessário oferecer para construir a tranquilidade no Congresso Nacional que nós precisamos”, afirmou.
Na mesma resposta, ao dizer que existe uma vontade da maioria dos brasileiros contra o ódio, ele criticou a hostilidade ao ministro do STF – Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes na sexta-feira (14).
“Nós precisamos punir severamente pessoas que ainda transmitem ódio, como o cidadão que agrediu o ministro Alexandre Moraes no aeroporto de Roma. Um cidadão desse, é um animal selvagem, não é um ser humano. O cidadão pode não concordar com a pessoa, mas ele não tem que ser agressivo e não tem que xingar”, disse.
O presidente brasileiro também foi questionado sobre a posição do presidente chileno, Gabriel Boric, que durante a cúpula cobrou mais ênfase dos latino-americanos na condenação à guerra da Rússia contra a Ucrânia. Lula disse que a declaração final conjunta – que não mencionou o país invasor – foi razoável, e criticou o líder de esquerda chileno.
“Eu não tenho por que concordar com o Boric. É uma visão dele. Eu acho que a reunião foi extraordinária. Foi extraordinária a reunião. Possivelmente, sabe, a falta de costume de participar dessas reuniões faça com que um jovem seja mais sequioso, mais apressado. Mas as coisas acontecem assim”, afirmou.
Depois de dois dias de participação na Cúpula União Europeia-Celac, com dez reuniões bilaterais às margens do evento principal, o presidente Lula deixou a Bélgica rumo ao Brasil, mas com uma parada técnica em Cabo Verde. A escala rendeu o primeiro encontro de Lula com um líder africano no continente africano neste terceiro mandato.
Na capital, Praia, Lula foi recebido pelo presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, e, em um pequeno discurso, prometeu ajuda a países da África.
“Eu quero recuperar essa relação com o continente africano porque nós, brasileiros, somos formados pelo povo africano. A nossa cultura, a nossa cor, o nosso tamanho, é resultado da miscigenação entre índios, negros e europeus. E nós temos uma profunda gratidão ao continente africano por tudo o que foi produzido durante 350 anos de escravidão no nosso país. Nós achamos que a forma de pagamento que um país como o Brasil pode fazer, em tecnologia, é a possibilidade de formação de gente para que tenha especialização para as várias áreas que o continente africano precisa, é ajudar na possibilidade de industrialização, na possibilidade da agricultura. Nós queremos agora, com a minha volta à Presidência, recuperar a boa e produtiva relação que o Brasil tinha com o continente africano”, declarou Lula.
O presidente chileno, Gabriel Boric, foi questionado sobre as declarações de Lula. Boric disse que tem um respeito infinito e muito carinho pelo brasileiro, mas que é preciso dizer que estamos em uma guerra de agressão inaceitável.
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