Jacuguaçu com plumagem incomum é flagrado por observador de aves no interior de SP


Mudança na coloração da ave provavelmente se trata de um caso de despigmentação progressiva. Animal foi registrado na cidade de Jacupiranga (SP). Jacuguaçu com plumagem incomum é flagrado por observador de aves no interior de SP
No Uruguai, Paraguai, Argentina, na Bolívia e no Sul e Sudeste brasileiro vive uma ave grande – cerca de 70 centímetros – e barulhenta, que chama atenção por onde voa.
De cor predominante preta, com pescoço e peito com pequeninas listras brancas, e um papo vermelho, o jacuguaçu (Penelope obscura) é uma ave monogâmica com uma dieta predominantemente frugívora.
Não seria de se estranhar que, há cerca de um ano, o eletricista aposentado Duarte da Silva viu a espécie comendo os frutos de uma jacataúva perto de sua casa, em Jacupiranga, no interior de São Paulo. Só que não era um jacuguaçu comum, já que o corpo era bem mais branco e diferente.
Jacuguaçu de plumagem comum
Marcos Paiva
Na época, sem a câmera por perto, Duarte guardou o animal apenas na memória, mas a vontade de conseguir fotografar a espécie aumentou ainda mais. Depois de aposentado, foi a observação de aves que trouxe um novo rumo para a vida dele, que descobriu uma paixão no hobby que também virou trabalho. Hoje, ele guia outros observadores pela chácara que comprou durante a pandemia.
No final de janeiro deste ano, com a retomada da época de frutificação da jacataúva, Duarte começou a ir todos os dias até a árvore no período da manhã e da tarde em busca da ave.
“Depois de uma semana, eu estava de moto indo para lá por volta das 6h30 da manhã, quando vi o jacuguaçu na árvore. A adrenalina foi lá em cima, porque se ele escapasse era capaz que eu não conseguiria ver novo. Peguei a máquina e comecei a registrar em cima da moto mesmo”, conta.
Jacaguaçu com plumagem diferente foi flagrado no interior de São Paulo
Duarte da Silva
O encontro raro, que aconteceu no dia 6 de fevereiro, durou pouco menos de seis minutos e rendeu alguns cliques e até um vídeo. De acordo com o aposentado, pelo canto e dominância, parecia ser um macho. “Logo desceu para o mato e eu não vi mais, mas não tem como apagar da memória o momento que agora também tenho registrado nas fotos”, diz.
A plumagem com manchas brancas desse jacuguaçu é resultado de ausência de deposição do pigmento melanina nas penas. De acordo com o ornitólogo Luciano Lima, por não saber o histórico da ave ou não ter testes genéticos dela, é difícil dizer se o caso de aberração de cores trata-se de leucismo ou de um outro processo conhecido despigmentação progressiva.
“Aves leucísticas são acometidas por uma mutação genética que faz com que nasçam com plumagem parcialmente ou completamente branca por causa um defeito genético na produção de melanina. Já em aves com despigmentação progressiva o surgimento de penas brancas acontece ao longo da vida do animal”, explica.
O encontro com a ave durou cerca de seis minutos e todos os registros foram feitos em cima da moto.
Duarte da Silva
Ainda segundo o especialista, a extensão do branco em aves leucísticas permanece o mesmo ao longo de sua vida e tende a criar um padrão bilateral presente nos dois lados do corpo, enquanto em aves com despigmentação progressiva a ave nasce com plumagem normal e tem um aumento nas penas brancas a cada muda de penas.
Além disso, as penas tendem a ser espalhadas pelo corpo (algo como o surgimento de pelos brancos ao longo da vida de uma pessoa).
“O padrão de penas brancas nesse jacuguaçu está bem espalhado pelo corpo e não aparenta ser simétrico, portanto é mais provável que se trate de um caso de despigmentação progressiva, que é muito mais comum em aves selvagens do que o leucismo”, finaliza.
Toda mudança de coloração nas aves pode trazer consequências negativas, como uma maior exposição à predadores mas, nesse caso, principalmente por ser um animal visto por dois anos consecutivos pelo observador, acredita-se que o jacuguaçu viva normalmente.
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