Fazendo cortesia com chapéu alheio

Por Ivan Ramos diretor executivo da Fecoagro/SC.

“Fazendo cortesia como o chapéu alheio”. Essa frase é antiga, eu ouvia da minha mãe quando era criança e adolescente. Ela continua presente e muita gente ainda costuma usar. É citada quando se quer tomar para si um feito positivo de alguém em determinada atividade ou conquista. Como se diz em outra gíria “quer ser pai da criança”. É praticada principalmente por determinados políticos ou administradores púbicos.  

Isso aconteceu recentemente com o ministro da Agricultura em sua manifestação nas mídias sociais. Ao enaltecer o resultado do PIB do agronegócio, o ministro  afirmou que se conseguiu esse índice, graças as ações do atual governo federal. O PIB cresceu 18,8% no primeiro trimestre deste ano na comparação com igual período do ano passado; e 21,6% contra o quarto trimestre de 2022, a maior variação dos últimos 27 anos. O PIB geral do país avançou apenas 1,9% nos três primeiros meses do ano, na comparação com o último trimestre de 2022, e 4% no comparativo anual do primeiro trimestre. 

Afirmar que isso foi obra do atual governo, é no mínimo menosprezar a inteligência dos nossos agricultores. Todos nós sabemos que o resultado do PIB do agro advém do plantio da safra do ano passado, colhida e comercializada neste ano. Também é de domínio público, e muito mais dos nossos produtores rurais, que se dependesse do atual governo, o agro teria resultado negativo, pois não se tem notícia de nenhuma medida que apoiasse ou incentivasse o setor. A contrário. O próprio presidente da República tem falado com frequência que o agro é fascista, é nocivo, repetindo discurso de campanha eleitoral.

Além disso, temos representantes do atual governo que vão para o exterior falar mal do agro, dizendo que o setor pratica o desmatamento, quando sabem que não são os agricultores que praticam esse crime, e sim grileiros e até empresários fora da lei. Depoimentos dessa natureza, só pioram a situação do setor que garante divisas da balança de pagamentos nas exportações, e a alimentação do Brasil e de uma grande parte da população mundial. Agora corre  rumores de que o atual governo pretende destinar os recursos do Plano Safra 2023/2024 preferencialmente para a agricultor familiar. É evidente que esse segmento também precisa de incentivo, mas isso não pode significar cortes para a agricultura empresarial e de exportação.

Aliás, a estrutura de novo governo conseguiu mais um feito no mínimo questionável. Separar os programas de interesse do setor agropecuário em vários ministérios. Ignoram que a agricultura é uma só, quer de pequenos, médios ou grandes produtores. Portanto, não deveria separar: ao contrário, deveria unir para ficar mais forte, como se faz no cooperativismo. É plenamente possível prestar assistência a todos, dentro das necessidades de cada um,  em um único ministério setorizado, mas sem necessidade de dividir. Se prega união do país de um lado, e se pratica divisão do outro.

Continua sendo discursos eleitorais, para agradar segmentos que defendem invasões, e que vivem na dependência permanente dos cofres públicos, com auxílios da  bolsa família intermináveis e que priorizam a ideologia, em detrimento da produtividade e do desenvolvimento da sociedade como um todo. Preferem dar o peixe, ao invés de ensinar a pescar.

O mundo sabe que a agropecuária é uma atividade indispensável e que a sua pratica corre riscos climáticos, sem controle do ser humano, razão pela qual, precisa sempre de incentivos e apoio. Por outro lado é uma atividade de resposta imediata. Em menos de um ano se pode auferir resultados econômicos e sociais inquestionáveis e palpáveis. Mas infelizmente, ainda temos políticos que não valorizam isso. Ao contrário, se apropriam de resultados dessa atividade para discurso político.  Fazendo cortesia com chapéu alheio. E o que é pior: tem gente que acredita. Pense nisso.

Fonte: Fecoagro/SC.

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