Após denúncias feitas por alunos de Letras, USP defende política de contratação de professores

Dossiê elaborado pelos estudantes demonstra como o corpo docente foi reduzido no curso sem a devida reposição; as habilitações Coreano, Chinês e Armênio são únicas em universidade pública no Brasil. O prédio da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) onde estão os cursos de Geografia e História
Divulgação
Após denúncias de alunos divulgadas sobre a falta de professores e aulas no curso de Letras, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP defendeu sua política de contratação de docentes.
Procurada pelo g1 no dia 18 de maio, a universidade havia informado na ocasião “que estava em contato com o chefe do Departamento de Letras Modernas e com o diretor da FFLCH para levantar as informações” e que precisava de um “prazo maior para avaliar as denúncias”.
Nesta terça (23), a universidade respondeu os questionamentos do g1. Em nota, afirmou que “a direção respeita, porém, não se manifestará sobre as pautas do movimento estudantil”.
Informou também que “esta direção apenas se posiciona a respeito de decisões do colegiado legalmente estabelecidas ou por decisões dadas de ofício. Com relação aos professores, ressalta que nos últimos 8 anos, é a primeira vez que houve resposta positiva da reitoria às demandas da Faculdade por contratação de docentes”.
O Centro Acadêmico de Estudos Linguísticos e Literários Oswald de Andrade elaborou em abril um dossiê para apontar os problemas do curso. A situação chegou, neste ano, a um patamar nunca antes visto no departamento: a quantidade de docentes da área do Espanhol não foi suficiente nem sequer para garantir o oferecimento de todas as matérias obrigatórias, deixando cerca de 60 estudantes sem aulas da disciplina de Língua Espanhola III no período ideal.
O Departamento de Letras Orientais aparece como um dos mais afetados, segundo o Centro Acadêmico. O DLO oferece a graduação em 7 habilitações: Árabe, Armênio, Chinês, Coreano, Hebraico, Russo e Japonês, além de programas de pós-graduação. Algumas dessas habilitações são oferecidas no país somente pela USP.
“Praticamente todas as habilitações do DLO foram fechadas no período noturno por conta da insuficiência do quadro docente para atender ambos os períodos. As exceções são o Hebraico, que fechou de manhã e só é oferecido à noite, e o Japonês, que segue funcionando nos dois períodos a duras penas e corre o risco de também fechar no noturno nos próximos anos, se não forem feitas contratações”, aponta o documento.
Prédio da Letras, na USP
Ana Carolina Moreno/G1
Alunos da USP denunciaram o risco de algumas habilitações fecharem. Em Inglês, por exemplo, o número de docentes caiu de 17, em 2014, para 10, em 2022, uma redução de 41%.
Outros problemas apontados pelo dossiê:
A habilitação em Italiano contava com 13 docentes em 2014 e apenas 9, em 2022, redução de 30%.
A habilitação em Espanhol contava com 16 docentes em 2014 e 12, em 2022, redução de 25%.
A habilitação em Alemão contava com 13 docentes em 2014 e apenas 7, em 2022, redução de 46%
Os dados foram coletados a partir de documentos da própria universidade, segundo o centro acadêmico. O intuito, de acordo com o material, “é sistematizar, documentar e expor o nível de desmonte do maior curso da Universidade de São Paulo”.
O centro atribui “o desmonte à política de sucessivas reitorias e governos estaduais que atacaram a educação pública, precarizando o ensino e as condições de trabalho de docentes e funcionários”. Também cita a Portaria GR 6517 2 que demonstra que o Reitor e a ALESP/Governo de SP têm a responsabilidade de garantir a reposição do quadro docente. “Dinheiro tem, só não vai para onde deveria ir”, diz um dos estudantes.
A habilitação em Coreano atualmente conta com apenas uma professora, o que representa uma redução de 75%. Se não forem garantidas contratações, a habilitação pode fechar.
“Hoje precisamos de mais 80 professores para repor o que perdemos desde 2014 só na Letras, imagine na USP toda? Sem essas contratações, corremos o risco de cursos como o Coreano, Chinês e Japonês fecharem. O descaso do governo Paulista e da Reitoria com nosso curso está nos levando a uma situação de colapso”, disse Mandi Coelho, diretora do CAELL (Centro Acadêmico do curso de Letras da USP), ao g1.
Enquanto isso, na Alesp
Encontro na Alesp discute fim do curso de letras na USP
Reprodução/Redes Sociais
Na última semana, uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado (Alesp), coordenada pelo deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL) cobrou a contratação de novos docentes e funcionários. “Inconcebível e inaceitável a USP, que tem o maior orçamento da sua história (R$ 8,4 bilhões), promover o desmonte dos cursos de línguas da faculdade de letras prejudicando alunos e professores. Estou convocando o reitor para depor na Alesp e exigir que seja aberto concurso público para a contratação imediata de professores para todos os cursos”, disse ao g1.
Aluna do curso de Português e Espanhol, Leticia Proença foi aprovada em 2020 e ingressou no curso no ano seguinte. Quando as aulas presenciais voltaram, ela começou a habilitação em Espanhol com um professor temporário. No segundo semestre, o docente sinalizou que desconhecia sobre a renovação do seu contrato.
“No final do semestre, ficamos em um clima de incerteza. O professor estava estranho e nós deduzimos o óbvio”. Ele avisou: ‘Não foi renovado, próximo ano não estarei aqui e um novo docente’. Desde então, o novo docente não apareceu”, contou.
Leticia diz que a culpa não é do departamento de línguas modernas (DLM) que fez o pedido mas ficou perdido na burocracia. Leticia perdeu um semestre de língua espanhola. “Vou ter que fazer a matéria desse semestre que não tive, junto com outra. Vou acumular matérias”.

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