Prefeitura de São Gonçalo, cidade onde Vinícius Jr. nasceu, sai em defesa do jogador após ofensas racistas

‘Força Vini Jr. São Gonçalo e o Brasil têm orgulho de você’, afirmou a nota. Prefeito da cidade definiu o caso como ‘covardia’. Vinicius Junior é alvo de racismo durante o jogo entre Valencia e Real Madrid
Getty Images
A Prefeitura de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, manifestou repúdio após o jogador Vinícius Jr ser vítima de racismo durante o jogo entre o Real Madri e o Valencia pelo Campeonato Espanhol. Ele foi chamado de “macaco” por parte da torcida presente no estádio Mestalla, no domingo (21), e ainda foi expulso nos acréscimos da partida. O atleta nasceu na cidade e começou a carreira em uma escolinha do Flamengo no município.
“Força Vini Jr. São Gonçalo e o Brasil têm orgulho de você. Todo o nosso apoio e solidariedade pelos ataques racistas sofridos durante o jogo entre o Real Madrid e o Valencia, no último domingo. Que providências sejam tomadas. É preciso respeito e igualdade. Estamos com você!”, afirmou a nota postada nas redes sociais oficiais da cidade.
Capitão Nelson, prefeito de São Gonçalo, também se manifestou e chamou as sucessivas ofensas racistas que o jogador vem sofrendo nos gramados da Europa de “covardia”.
“Não admito covardia! Meu total repúdio ao episódio de racismo sofrido pelo nosso craque e orgulho de todos nós gonçalenses, Vini Jr. Estamos com você, Vinícius. Não podemos aceitar mais esse tipo de atividade no futebol ou em qualquer outro lugar.
A partida
Na partida deste domingo, vencida pelo Valencia por 1 a 0, aos 24 minutos do segundo tempo, numa jogada pela esquerda, Vinicius Junior foi atrapalhado por uma segunda bola em campo (supostamente jogada pela torcida). O atacante do Real reclamou, e parte dos torcedores mais próximos o xingaram de “macaco” — algo que já tinha sido observado na partida.
Vinicius puxou o árbitro Ricardo De Burgos Bengoetxea para denunciar um determinado torcedor.
O sistema de som do Mestalla emitiu dois avisos: um de que a partida tinha sido paralisada por causa desse episódio de racismo, e o segundo de que ela só voltaria caso os xingamentos e cânticos fossem encerrados.
Foram cerca de oito minutos entre o início da confusão da segunda bola em campo, passando pela denúncia de racismo, até a retomada do jogo.
O segundo tempo continuou, e por volta dos 48 minutos, começou mais uma confusão na área do Valencia. O goleiro Mamardashvili partiu para cima de Vinicius Junior — ambos receberam cartão amarelo inicialmente —, e outros atletas foram envolvidos.
No meio do empurra-empurra, o atacante Hugo Duro deu um mata-leão no brasileiro, segurando-o pelo pescoço. Ao se desvencilhar, Vinicius acertou o rosto do adversário. Acalmados os ânimos, o VAR chamou Burgos Bengoetxea, que reviu o lance e decidiu expulsar o brasileiro.
Após ser expulso da partida, Vinicius Junior saiu de campo aplaudindo, fazendo comentários e gesticulando “2” com as mãos (provocação em referência à briga do Valencia contra a segunda divisão). Integrantes da comissão técnica do time adversário e jogadores que estavam no banco de reservas foram tirar satisfação.
Vini Jr. reclama da impunidade para ataques racistas de que é alvo na Espanha
Reprodução/Instagram
Após a expulsão, Vini Jr. se manifestou nas redes sociais.
“Não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O racismo é o normal na La Liga. A competição acha normal, a Federação também e os adversários incentivam. Lamento muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas. Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista. Lamento pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas. E, infelizmente, por tudo o que acontece a cada semana, não tenho como defender. Eu concordo. Mas eu sou forte e vou até o fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui”, afirmou o atleta.
Em nota divulgada após a partida deste domingo, LaLiga declarou que vai investigar os “incidentes” ocorridos no estádio Mestalla. A liga também informou que já solicitou todas as imagens disponíveis para investigar o caso e, caso necessário, vai tomar “todas as medidas cabíveis”.
O Valencia, por sua vez, emitiu comunicado condenando “qualquer tipo de insulto, ataque no futebol”. O clube se declarou contrário à violência física e verbal nos estádios e lamentou o ocorrido no jogo contra o Real Madrid. Porém, classificou o caso como “episódio isolado” e prometeu tomar “as medidas mais severas” após investigação. Além disso, condenou qualquer ofensa e pediu “respeito máximo” à sua torcida.
Governo brasileiro
O Ministério da Igualdade Racial afirmou no domingo que vai notificar autoridades espanholas e a La Liga, responsável pelo campeonato espanhol, após ataques racistas contra o jogador brasileiro Vinícius Junior.
“Repudiamos mais uma agressão racista contra o @vinijr. Notificaremos autoridades espanholas e a La Liga. O Governo brasileiro não tolerará racismo nem aqui nem fora do Brasil! Trabalharemos p/ que todo atleta brasileiro negro possa exercer o seu esporte sem passar por violências”, disse a pasta.
De acordo com o Ministério da Igualdade Racial, a notificação será enviada na manhã desta segunda-feira (22).
O presidente Lula também cobrou ações contra racismo sofrido pelo jogador brasileiro.
“Um gesto de solidariedade ao jogador brasileiro jovem, negro, que joga no Real Madrid, que no jogo no estádio do Valencia foi chamado de macaco. Não é possível que quase no meio do século 21 a gente tenha o preconceito racial ganhando força em vários estádios de futebol na Europa”, disse Lula.

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