‘Eles reduziram o treinamento de seis para dois meses’, diz maquinista da CPTM sobre treinamentos de condutores da ViaMobilidade

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Presidente da CCR Mobilidade afirma, por sua vez, que o treinamento foi de quatro meses, e em caso de deficiências na condução, o funcionário pode até ser desligado. Em 16 meses de operação, multas já somam R$ 10 milhões. ‘Eles simplesmente pegavam de baciada e botavam para treinar’, diz maquinista da CPTM sobre treinamentos de condutores da ViaMobilidade em São Paulo
São Paulo tem seis linhas de metrô e sete linhas de trem. Antes, era o governo do estado que tomava conta de tudo, mas isso vem mudando ao longo dos anos. As linhas mais recentes nas mãos da iniciativa privada são a Diamante e a Esmeralda – e o número de falhas disparou.
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Um maquinista da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que pediu pra não ser identificado, participou do treinamento dos condutores da ViaMobilidade.
“Eles reduziram o treinamento de seis para dois meses. Não colocaram pessoas realmente que entendem de ferrovia. Eles simplesmente pegavam de baciada e botavam para treinar. Pessoas totalmente leigas, que não tinham o conhecimento de elétrica”, revela o maquinista.
O maquinista ainda relata o que ouviu de um dos contratados, admitido para uma função que não tem relação com a condução dos trens. E reconheceu que não se sente seguro para utilizá-los como passageiro.
“Inclusive, teve um rapaz que falou assim: ‘Nossa, eu tive muita sorte, porque eu me inscrevi para agente de limpeza e me contrataram para maquinista’. Desde que o treinamento acabou, eu nunca mais usei as linhas 8 e 9, porque não me sinto seguro”, conta o maquinista.
O Fantástico mostra a situação precária e perigosa em muitas linhas de trens urbanos. São descarrilamentos, panes, atrasos, falhas – uma rotina de transtorno para os passageiros.
A falha humana é um dos motivos para que, em 16 meses de operação, a ViaMobilidade tenha sido multada em mais de R$ 10 milhões, por infrações como avanços de sinal vermelho. Na imagem da batida acima, o condutor não parou no fim da linha.
“O treinamento dos condutores foi de 4 meses. E cada vez que a gente aponta deficiências nessa condução, a gente coloca esse operador ou esse condutor de novo na sala de aula para passar por uma reciclagem de treinamento. E, dependendo da reincidência, ele pode inclusive ser desligado”, destaca Marcio Hannas, presidente da CCR Mobilidade.
A sequência de problemas fez o Ministério Público abrir uma investigação.
“Eu temo pela vida e saúde dessas pessoas. Infelizmente existem riscos, porque ambas as linhas têm problemas estruturais, principalmente na via permanente, ou seja, nos trilhos. Existem dormentes que estão podres, trilhos com problemas nas soldas, trilhos gastos”, diz Silvio Marques, promotor de Justiça.
Os dormentes são barras, de madeira ou concreto, onde os trilhos são fixados. Uma vistoria do Ministério Público constatou que há vários pontos onde essas peças estão em estado avançado de degradação. A promotoria exigiu da empresa um plano emergencial para recuperação da estrutura crítica.
“Pelo contrato, a empresa teria aproximadamente dez anos para fazer a troca desse dormente. O nosso setor técnico pediu para que a empresa seja obrigada a reduzir esse prazo. Evidentemente que não dá para trocar 400 mil dormentes da noite pro dia, não é? Mas a empresa tem que trocar aqueles que estão em situação crítica imediatamente”, relata Silvio Marques.
Já foram seis descarrilamentos em menos de um ano e meio de concessão. Pelo menos um deles devido à péssima condição dos dormentes.
Ao Ministério Público, a ViaMobilidade, que é do grupo CCR, informou que já assumiu as duas linhas com trilhos gastos, dormentes podres e com trens com revisões vencidas.
“A gente vem trabalhando na recuperação dessa infra-estrutura, né? Já foram investidos R$ 1,7 bilhões nesse nesse período.E a expectativa é que a gente, uma vez terminada, essa é esse ciclo de investimento inicial, né, para a recuperação de toda a infraestrutura, e além da chegada dos novos trens, né? Nós adquirimos 36 trens novos, e o primeiro, já chegou, está em teste e entra em operação no final deste mês, a gente vai ter uma operação muito mais regular”, completa Marcio Hannas.
A negociação de prazos para consertar os pontos críticos se arrasta há meses. E, na falta de um acordo, o Ministério Público não descarta pedir à Justiça o cancelamento da concessão.
Veja a reportagem na íntegra abaixo:
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