Mães indígenas destacam histórias de perseverança e amor à tradição do povo ancestral no AM

Fundação Estadual do Índio destaca histórias de mulheres indígenas que são mães e sinônimos de força e determinação em prol dos seus filhos. Inaura Kokama, cacica da Aldeia da Terra Preta
Matheus Mota /FEI
A primeira mãe do Brasil é indígena, povo ancestral que já existia no território nacional antes da chegada da colonização. E neste Dia das Mães (14), algumas dessas mulheres guerreiras destacam histórias e exemplos de poder, força e amor à tradição do povo ancestral, com herança de cultura, preces e lutas.
Inaura Kokama, cacica da Aldeia da Terra Preta, natural de São Paulo de Olivença, da região do Alto Solimões, mãe de 9 filhos, avó de 30 netos e bisnetos, veio para Manaus por causa da saúde do seu falecido marido. A família numerosa é cultural e representa o estilo de vida que ela seguia no interior do Amazonas.
“Eu cuido de uma família grande, porque eu morava no interior e nessa época tinha fartura, tinha peixe, tinha comida, meu marido caçava, pescava, a gente tinha bastante roça”, relata a matriarca.
Sendo cacica, ela entende a responsabilidade do seu cargo e tenta servir de modelo para toda a sua comunidade. “Eu converso com as pessoas quando estão erradas. Para cuidar de um povo, tem que saber lidar com as pessoas, pois se você não souber fazer isso, você pode ficar sem ninguém”, pontua a líder.
Após a pandemia, sua comunidade, que é tradicionalmente Kokama, resolveu acolher outras etnias como Sateré-Mawé, Apurinã, Munduruku e Mura.
“Eu resolvi acolher a todos, ser cacica é como ser uma mãe. Quando eu vejo as mulheres sendo cacicas, eu converso com elas para entenderem que precisam ter humildade, precisam cuidar do seu povo como uma mãe cuida de um filho”, afirmou Inaura.
Nova geração
Thais Kokama e seu filho
Divulgação
Thais Flores, 27 anos, da etnia Kokama, estagiária do departamento técnico, teve seu primeiro filho aos 14 anos e encarou o desafio de criar uma criança muito jovem, com o suporte de sua mãe.
“Eu ficava pensando como vou criar e como vou educar ele, mas, felizmente, minha mãe esteve muito presente até hoje”, relata Thais.
Ela considera que fez um ótimo trabalho com o seu filho chamado Paulo Henrique. E o educa para tratar outras mulheres do jeito que ele trata as mulheres da sua família. “Ele não me dá trabalho nenhum e é um amor de pessoa, ele é muito estudioso e adora lutar Karatê”, frisa.
Para Thais, ser mãe é uma dádiva divina, mesmo tão jovem e com pouca experiência de vida, e não se enxerga mais sem essa vivência.
“Quando eu engravidei eu fiquei um pouco assustada, mas a minha mãe me deu suporte e eu tive uma boa criação, eu acredito que consegui passar isso para ele, não consigo mais me ver sem a maternidade”, contou a jovem.
O diretor-presidente da Fundação Estadual do Índio (FEI), Sinésio Trovão, destacou a luta e perseverança das mulheres indígenas que são mães e são sinônimos de força e determinação em prol dos seus filhos.
“A mãe do Brasil é indígena, elas carregam toda a nossa ancestralidade dos nossos parentes. Elas merecem todo o reconhecimento pois, muitas delas, conciliam a maternidade com o trabalho e os estudos e superam os desafios do cotidiano. Parabéns guerreiras”, pontuou Trovão.
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