Mães de bebês ‘arco-íris’ celebram vida das filhas após abortos espontâneos em MG: ‘Esperança que faltava na nossa vida’

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Bebês arco-íris são crianças que vieram ao mundo depois da mãe ter passado pela perda de outro filho. Conheça as histórias das moradoras de Guaxupé, Maiqueline e Milena. Maiqueline (esquerda) e Milena (direita) celebram dia das mães com seus bebês arco-íris
Arquivo pessoal
Se você perguntar para alguma mãe como é ter um filho, ela vai dizer que é especial. Isso apesar de todas as dificuldades. Mas, para algumas mulheres, o ofício vem carregado com uma dose de vitória e superação. Elas são as mães de bebês arco-íris, crianças que nasceram após uma gestação interrompida ou a morte de um filho logo depois do nascimento.
É o caso de duas mamães de Guaxupé (MG), a Maiqueline e a Milena. As histórias de cada uma são completamente diferentes, mas se unem pelos sentimentos de dor, causados pela perda dos primeiros filhos, e o de realização, por hoje poder celebrar o dia das mães ao lado de suas bebês arco-íris.
Maiqueline é copywritter e mãe da Melissa Áccula Vieira Rodrigues, de 1 ano e 4 meses. Milena é educadora física e mãe de Elisa Goulart Souza de Freitas, de 3 anos e 10 meses.
Melissa (esquerda) e Elisa (Direita)
Arquivo pessoal
O termo arco-íris veio dos Estados Unidos – “rainbow babies”. Ele é uma forma de se referir às crianças que vieram ao mundo depois da mãe ter passado pela perda de outro filho. Pode ter sido um aborto espontâneo ou então a morte de um bebê logo dias após o parto.
“Chama-se de arco-íris por ser colorido! Aquela luz de esperança que faltava na nossa vida”, explicou Milena Goulart Souza de Freitas.
Gestação na adolescência
A Maique, como é chamada, engravidou aos 16 anos do primeiro namorado. Na época, ela morava no Rio Grande do Sul, onde vive sua família até hoje.
Além de lidar com uma gravidez na adolescência e com a aceitação da família, Maiqueline precisou encarar um parto aos cinco meses de gestação e a morte dos filhos minutos depois.
“Eu engravidei de gêmeos, era um casal. O meu útero simplesmente se abriu. Segundo os médicos, o meu corpo não deu conta de desenvolver a gestação, porque eu era muito nova. E aí eu fui para o hospital, tentaram fazer a anestesia na coluna, pra costurar o útero pro bebê não sair. E não deu certo, porque o meu útero estava muito aberto. Então, eu esperei passar a anestesia e tive os dois de parto normal”.
A perda dos filhos mexeu muito com Maique. Durante oito anos ela não tocou no assunto e foi só depois de 14 anos que ela conseguiu visitar o túmulo dos bebês.
Gravidez planejada
Diferente de Maique, a gestação de Milena foi toda planejada. Ela já era casada e sempre sonhou em ser mãe. Para isso, fez tratamento e fertilização in vitro.
A gravidez aconteceu quando tinha 35 anos, mas foi interrompida por causa de um aborto espontâneo.
“Não tive nenhum tipo de complicação na gestação. O coração do bebê parou de bater quando completamos cinco semanas e meia, sem causa aparente. O luto pela perda de um filho tão desejado é muito difícil. Você espera tanto para que dê certo e, de repente, sofre um aborto. Dói a alma e o coração”.
Grávidas outra vez
Enquanto Milena sempre teve o sonho de ser mãe, Maiqueline não pensava em engravidar até que descobriu a primeira gestação.
Durante muito tempo, por causa da dor, a possibilidade não era nem pensada por ela. Foi só depois de se casar que a vontade de ser mãe começou a aflorar.
Milena (esquerda) e Maiqueline (direita) grávidas de suas bebês arco-íris
Arquivo pessoal
“Depois da perda dos bebês, eu desenvolvi endometriose, desenvolvi ovário policístico e, segundo todos os médicos que eu ia, eu teria que fazer tratamento pra engravidar. Não teve um médico que eu passei que me disse que eu engravidar sem tratamento”, contou a copywritter.
Quando fez 30 anos, ela conversou com o marido e disse que pararia de tomar o anticoncepcional. Dois meses depois, Maique engravidou da Melissa, sua bebê arco-íris.
“Eu entreguei pro universo, pra Deus ou pra o que quer que seja a crença das pessoas, né, de algo que venha a reger esse universo, esse nosso mundo. Eu confiei, eu não tive medo nem do sim e nem do não, sabe? A Mel foi um milagre, um verdadeiro milagre na nossa vida”, afirmou Maiqueline.
Já com Milena a gravidez não aconteceu de forma espontânea. Ela e o marido continuaram tentando engravidar mesmo após a perda do primeiro filho. Assim como na primeira gestação, eles fizeram fertilização in vitro. Dois anos depois, ela engravidou da Elisa.
“A vida da Elisa é uma vitória. Ela é uma guerreira. Agradeço todos os dias por ser mãe dela e poder dividir todo o amor que tenho em meu coração”, celebrou Milena.
As gestações
Mesmo já tendo tido uma gravidez interrompida, Milena não precisou de cuidados específicos durante a gestação. A educadora física continuou dando suas aulas na faculdade, o que foi um alívio para sua mente.
“Tudo correu muito bem, porém tinha muito medo de acontecer novamente. A gente fica com aquilo na cabeça. O desejo de ser mãe era tão grande que lutava para dar certo. Durante a gestação da Elisa continuei dando minhas aulas, o que me ajudou muito a não ficar pensando o que não deveria. Tocava muito piano pra ela também. Coincidência ou não, hoje ela ama musica”, relembrou Milena.
Milena com sua filha Elisa
Arquivo pessoal
Já com Maiqueline foi diferente. A gestação foi tratada como de risco, tanto pelo fato da perda dos primeiros filhos quanto pelos diagnósticos médicos. Mesmo assim, Maique contou que foi uma gravidez melhor do que imaginava.
“Eu tive muitos cuidados recomendados. Mas foi uma gestação maravilhosa. Eu estava tão feliz, eu fiquei tão feliz de estar grávida, de Deus ter me dado a oportunidade de ser mãe. Pensa, orientar outro ser humano aqui na Terra, ajudar a crescer, a ter valores, sabe? É uma missão muito grande e Deus acreditar que eu tenho essa capacidade, para mim foi um negócio assim, não tem explicação”, disse Maiqueline.
O único susto foi aos quatro meses de gestação com a perda do tampão, uma mucosa de proteção que fica fora do útero e que não se regenera.
“Aquele dia eu tive muito medo, tanto que eu só fui relaxar mesmo em relação a isso só depois que já tinha passado o sexto mês, que aí eu me dei conta de que passou, já estou com sete meses e ela tá aqui agora, independente da hora que ela vier, ela vai viver, sabe?”.
Maiqueline grávida de Melissa, sua bebê arco-íris
Arquivo pessoal
“É complicado porque, tipo assim, eu tinha o medo de perder ela, mas ao mesmo tempo eu não queria pensar naquilo. Sabe quando você só fica com aquele sentimento, mas você não se permite pensar propriamente dito? Eu não queria pensar nisso”.
Os partos
Uma gestação tranquila, mas um parto antes da hora. Elisa nasceu prematura extrema, de 26 semanas, no dia 12 de julho de 2019. Depois do parto, a bebê precisou ficar quatro meses internada.
“Minha bolsa estourou sem nenhum motivo. Então, quando nasceu, não pude vê-la e nem tê-la em meus braços. Precisaram correr com ela para UTI. E assim começamos uma batalha dia após dia”.
Milena com o marido no aniversário de 3 anos de Elisa
Arquivo pessoal
Já Melissa, nasceu de um parto normal humanizado, conforme escolheu a mãe, no dia 7 de janeiro de 2022.
“Eu sempre pensei o seguinte, a Mel vai passar por muitos traumas nessa vida, a gente sabe que a gente precisa deles para crescer e que eu não vou poder evitar. E o nascimento é o primeiro dos traumas que nós temos. Quando a gente vai estudar um pouquinho, a gente percebe o quão traumático pode ser um nascimento. Então, pensando nisso, eu quis evitar talvez o único que eu tenha podido, que é o parto, que é o nascimento”, explicou a copywritter.
Melissa nasceu de parto normal e humanizado na casa de Maiqueline, em Guaxupé, MG
Arquivo pessoal
O parto aconteceu dentro da casa onde Maiqueline e o marido moram. A experiência traumática da perda dos bebês em um hospital foi um dos motivos para a escolha. Para isso, ela contou com auxílio de parteiras e enfermeiras obstétricas.
“Foram 14 horas de trabalho de parto, três horas e meia mais ou menos de trabalho de parto ativo e ela não disritimou, não diminuiu o batimento em momento algum. Foi perfeito, nós comemos comida japonesa depois que ela nasceu pra comemorar, tomamos um champanhe”, relembrou.
Maiqueline com o marido logo após o nascimento de Melissa
Arquivo pessoal
Geração de bebês arco-íris
Na família de Maiqueline, a Melissa não é a única bebê arco-íris. A própria Maique e a mãe dela, avó de Mel, também foram crianças que nasceram após a perda de outros filhos.
“É muito curioso, porque eu sempre soube o que significava bebê arco-íris. A minha mãe é um bebê arco-íris, porque a minha avó teve perdas antes dela. A minha mãe teve que fazer tratamento mais de um ano pra conseguir segurar a minha gestação, fui muito planejada. Então, minha mãe é um bebê arco -íris, eu sou um bebê arco -íris e a Mel é um bebê arco–íris”.
Melissa, bebê arco-íris de Maiqueline
Arquivo pessoal
Duas vidas coloridas por Melissa e Elisa
Elisa é uma criança com síndrome de Down. Milena soube da condição quando estava com 12 semanas de gestação, no ultrassom de translucência nucal.
Por ser uma bebê prematura, ela desenvolveu uma sequela no pulmão, chamada fibrose. Assim que nasceu, precisou ser entubada e luta constantemente contra as possibilidades que podem leva-la novamente a uma internação.
“Elisa representa vitória. Ela lutou todos os dias com todas as suas forças para estar com a gente. O dia das mães para mim não poderia ser mais especial. Ter Elisa nos meus braços é muito mais que um presente”.
Elisa, filha de Milena
Arquivo pessoal
Melissa também é a grande conquista da vida de Maique. Os pequenos gestos como chama-la de mamãe, dar comida, brincar fazem com que ela fique cada vez mais encantada com a maternidade.
“É todo dia uma descoberta. É um negócio tão superior ao que a gente tem capacidade de falar, sabe? É maior que amor, sabe? É muito maior. Se for pra dizer que é amor, é um amor maior do que todos que a gente conhece. A Mel é a minha vida. Não consigo saber se eu existiria a partir de hoje sem ela. Ser mãe me tornou uma pessoa melhor, mais digna da mãe que eu tenho”, finalizou Maique.
Melissa, filha de Maiqueline
Arquivo pessoal
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