Asteroides ocultos em Vênus podem ameaçar a Terra, diz estudo

Cientistas fazem alerta para rochas espaciais que compartilham a órbita de Vênus e podem, no futuro, se desviar em direção à Terra.Reprodução Freepik

Uma pesquisa científica recente trouxe um alerta preocupante: parte dos asteroides que compartilham a órbita de Vênus pode representar um risco real para a Terra. Essas rochas espaciais, até então pouco estudadas por estarem “escondidas” no brilho solar, têm trajetórias que podem cruzar com a do planeta Terra no futuro.

O estudo, conduzido por uma equipe internacional liderada pelo professor Valerio Carruba, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), aponta que pelo menos três desses asteroides possuem órbitas instáveis que podem levá-los a se aproximar perigosamente de nosso planeta.

Os objetos celestes em questão — batizados como 2020 SB, 524522 e 2020 CL1 — compartilham características singulares: embora orbitem o Sol próximos a Vênus, suas trajetórias sofrem perturbações gravitacionais que os tornam potenciais ameaças à Terra no longo prazo. O estudo detalha como esses corpos não estão ligados de forma estável ao campo gravitacional de Vênus, o que os torna suscetíveis a desvios orbitais inesperados.

Segundo os pesquisadores, os asteroides são difíceis de detectar porque orbitam muito perto do Sol em relação à Terra, o que limita as oportunidades de observação por telescópios convencionais. Por essa razão, são considerados “escondidos” do ponto de vista astronômico, o que levanta preocupações adicionais em relação ao monitoramento e prevenção de potenciais colisões.

O artigo intitulado “A ameaça invisível: avaliando o risco de colisão representado pelos asteroides coorbitais de Vênus não descobertos” encontra-se atualmente em processo de revisão por pares e foi submetido à análise da comunidade científica em 21 de maio. Nele, os autores também aprofundam a análise dos riscos para a Terra, indicando que a instabilidade dessas órbitas pode representar um perigo real, especialmente a longo prazo.

Avaliação dos riscos para a Terra

Para medir com mais precisão o grau de ameaça que esses asteroides podem representar, os pesquisadores utilizaram simulações de longo prazo. Foram analisadas as órbitas de 26 objetos com diferentes características, como inclinações e excentricidades, ao longo de um período de 36 mil anos. Os resultados mostraram que alguns desses corpos celestes, especialmente os que possuem órbitas mais regulares e inclinadas, têm potencial para se aproximarem da Terra com o passar do tempo.

Embora essas aproximações não indiquem uma colisão iminente, o perigo em potencial não deve ser subestimado. Para se ter uma ideia, a entrada de um asteroide com cerca de 150 metros de diâmetro na atmosfera terrestre liberaria uma quantidade de energia muitas vezes superior à das bombas atômicas lançadas durante a Segunda Guerra Mundial, com consequências catastróficas para regiões densamente povoadas.

A comunidade científica aposta em avanços tecnológicos para melhorar a vigilância espacial. O Observatório Vera Rubin, com início de operações previsto para este ano, promete detectar muitos novos asteroides. No entanto, encontrar aqueles que compartilham a órbita de Vênus continuará sendo um desafio, já que o brilho solar dificulta a observação direta.

Os pesquisadores sugerem que a alternativa mais eficaz seria o envio de missões espaciais dedicadas a explorar as imediações de Vênus. Posicionar sondas ou satélites em pontos estratégicos, como as regiões conhecidas como L1 ou L2 — áreas gravitacionalmente estáveis entre o Sol e Vênus —, poderia aumentar significativamente a chance de localizar esses objetos ocultos. Além disso, realizar observações a partir de posições mais afastadas do Sol ajudaria a driblar o problema do ofuscamento pela luz solar.

Mesmo que os asteroides atualmente conhecidos não apresentem risco direto, os cientistas enfatizam que o monitoramento constante é indispensável para preservar a segurança da Terra frente a possíveis ameaças futuras.

Consequências e perspectivas

A descoberta reforça a necessidade de ampliar os programas internacionais de monitoramento de objetos próximos à Terra (Near-Earth Objects, ou NEOs). Especialistas defendem o investimento em novas tecnologias de observação espacial capazes de detectar asteroides em regiões menos visíveis do céu. Além disso, o estudo destaca a importância da cooperação entre agências espaciais para desenvolver planos de mitigação em caso de risco real de impacto.

Embora ainda não haja previsão de colisão para os próximos anos, os acadêmicos autores da descoberta alertam que o comportamento caótico dessas órbitas requer atenção constante. A pesquisa também reacende o debate sobre os perigos pouco explorados do Sistema Solar interno — particularmente os objetos que compartilham trajetórias com planetas como Vênus, mas que podem se tornar visitantes inesperados da Terra.

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