‘Quando conseguir sair, não vou voltar’, diz brasileira em Gaza que teve casa destruída em bombardeio

Família vivia no imóvel há apenas oito meses na cidade de Gaza. Noura Bader, o marido e os filhos estão na lista de repatriados que aguardam a abertura da fronteira com o Egito. Noura teve casa destruída na Faixa de Gaza
Arquivo Pessoal
A palestina Noura Bader, de 37 anos e que morava em São Paulo com a família antes de retornar para a Faixa de Gaza, disse que não pretende voltar para a região depois que fronteira do Egito for aberta.
“Quando conseguir sair (de Gaza), não vou voltar”, ressaltou Noura para a GloboNews. Na quarta-feira (25), ela recebeu imagens da casa dela, na Faixa de Gaza, destruída pelos bombardeios, há quatro dias. A família vivia no imóvel há apenas oito meses.
A palestina com nacionalidade brasileira é conhecida por ter tido o rosto grafitado pelo artista Kobra em um mural em frente ao Museu do Imigrante, na Zona Leste de SP.
Atualmente, ela está com o marido e os três filhos em Rafah, cidade que faz fronteira com a península egípcia do Sinai. Eles estão na lista de 32 repatriados e aguardam cruzar a fronteira em uma casa alugada pela embaixada.
‘Não tem água, não tem pão’
Depois de três semanas do conflito no Oriente Médio, ela contou que segue com dificuldade para conseguir água, tanto para beber quanto para higiene pessoal, e comprar comida no sul da Faixa de Gaza.
“Não tem água, não tem comida, não tem pão. Só hoje [sábado] consegui comprar”, ressaltou Noura no último fim de semana.
Vida no Brasil
A palestina morava na capital paulista na condição de refugiada até o começo deste ano. Ela, o marido e os dois filhos mais velhos nasceram na Palestina. Já o filho mais novo, Mohamed Monir Bader, de 4 anos, é brasileiro.
Em janeiro deste ano, a família decidiu se mudar para o Egito. Mas em fevereiro Noura foi morar na Faixa de Gaza, onde o marido estava trabalhando como motorista até o começo da guerra. Ela não sabe onde vai morar agora.
‘Estamos vivos ainda’
A brasileira Shahed Al Banna, de 18 anos, está em Gaza há um ano e meio e é uma das 30 pessoas que tenta deixar a região e voltar ao Brasil.
Arquivo Pessoal
A jovem brasileira Shahed Al-Banna, de 18 anos e que está em Rafah, cidade ao sul da Faixa de Gaza, relatou nesta quarta-feira (25) que a comida e água estocadas vão durar até o fim de semana, e que não tem conseguido dormir devido aos bombardeios registrados na cidade.
“Estamos vivos ainda. Só temos comida e água até o fim de semana. A noite de ontem [terça-feira, 24] foi terrível. Bombardeios não pararam e os ataques foram perto, de um jeito assustador”, afirmou.
Shahed é de família palestina, morava em São Paulo, mas há um ano e meio se mudou para Gaza. Ela é uma das 30 pessoas brasileiras que estão na lista de repatriados e tentam deixar a região pelo Egito para voltar ao Brasil. Com ela estão a irmã, Shams, de 13 anos, e a avó, Jamila, de 64 anos.
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Para a TV Globo e GloboNews, o embaixador do Brasil na Palestina, Alessandro Candeas, informou nesta quarta-feira (25) que passou a recomendar que os brasileiros na região estoquem água e comida.
A avaliação do Ministério das Relações Exteriores é de que a situação dos brasileiros e de outros civis na Faixa de Gaza irá se agravar nos próximos dias.
Ahmad El Ajurami, brasileiro que mora perto de Shahed, diz que não consegue nem fechar os olhos para dormir.
“Está muito difícil para achar água. E está ficando cada dia pior a situação aqui. Logo, vamos todos morrer. A noite de ontem foi terrível, não conseguimos fechar os olhos para dormir. Aviões bombardeiam a Faixa de Gaza a cada minuto”, disse.
Sem combustível
Shahed Al-Banna tem 18 anos e está em Rafah aguardando retorno ao Brasil
Arquivo Pessoal
No último domingo (22), a jovem relatou sobre a dificuldade para comprar água e a falta de transporte no país devido à escassez de combustível. Segundo ela, cavalos estão sendo usados pelos palestinos para transportar tanques de água.
“A gente comprou água hoje. Compramos um tanque de gás [bomba] para transferir a água de um tanque para outro, que vamos usar dentro da casa. Como não tem transporte, então a gente usou um cavalo para buscar o tanque com a água. É muito difícil achar água. Muito difícil”, relatou a jovem, em vídeo enviado à reportagem.
Brasileira em Gaza relata dificuldade para comprar água em Rafah
No sábado (21), caminhões com ajuda humanitária atravessaram a fronteira de Gaza. Contudo, o Ministério da Saúde palestino em Gaza emitiu um comunicado no qual afirma que não há combustível entre os itens de ajuda humanitária e que, sem combustível, as vidas dos doentes e feridos estão em perigo.
“Apelamos à comunidade internacional e ao Egito para que trabalhem imediatamente para trazer combustível e necessidades emergenciais de saúde antes que mais vítimas sejam perdidas nos hospitais”, disse o comunicado. O grupo terrorista Hamas controla Gaza, e o Ministério da Saúde do território é ligado ao Hamas.
O motivo pelo qual há restrições para a entrada de combustíveis é que o material também pode ser usado em armas e foguetes.
Segundo a ONU, discute-se a possibilidade de rastrear o combustível para evitar que o material seja desviado para outros usos, que não em geradores.
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Sobreviventes de ataques em Gaza; FOTOS
A Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA) informou que abriga 600 mil pessoas em 150 instalações em Gaza — o número é quatro vezes maior que a capacidade máxima que o local abriga. Dessa forma, há famílias dormindo nas ruas.
Juliette Touma, a diretora de comunicações da Agência da ONU para refugiados palestinos, também afirmou que a entidade precisa de combustível para suas operações no território palestino e, se não houve abastecimento até a noite de quarta-feira, o atendimento será interrompido
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) disse no domingo (22) que as vidas de 120 bebês em incubadoras estão em risco à medida que se esgota o combustível para os geradores de energia elétrica na Faixa de Gaza.
Bloqueio na Faixa de Gaza
Palestinos que deixaram suas casas em meio aos ataques israelenses são abrigados em um acampamento administrado pela ONU, em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, em 20 de outubro de 2023
Ibraheem Abu Mustafa/Reuters
Após o ataque do grupo Hamas contra Israel no dia 7 de outubro, Israel impôs um bloqueio total ao território palestino, interrompendo a entrada de água, comida, combustível e eletricidade.
No dia 12, o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PMA) afirmou que comida e água potável estavam quase acabando na Faixa de Gaza. Com isso, a agência alimentar de emergência da ONU pediu a criação de corredores humanitários para levar alimentos para Gaza.
“É uma situação terrível a que estamos vendo evoluir na Faixa de Gaza, com alimentos e água escassos e esgotando rapidamente”, disse Brian Lander, vice-chefe de emergências do PMA, à Reuters.
Das mais de 2 milhões de pessoas que moram no território, 340 mil tiveram que sair de suas casas desde o início dos ataques, também segundo a ONU.
Segundo a BBC, o Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa) destacou a preocupação com as quase 50 mil grávidas que vivem em Gaza e estão sem acesso a serviços essenciais de saúde ou mesmo água potável. E que 5.500 delas devem dar à luz no mês que vem.
O que é a passagem de Rafah
Rafah, que possui a única fronteira internacional da região fora do domínio israelense, abriga diversos grupos de estrangeiros que aguardam a abertura da passagem para o Egito para poderem retornar a seus países, inclusive 10 brasileiros, sendo 4 crianças, 3 mulheres e 3 homens.
Ajuda humanitária
g1
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