
Apesar do déficit em transações correntes de fevereiro ter vindo abaixo do esperado, o Brasil está no caminho de construir uma fragilidade externa preocupante, segundo análise do economista Roberto Dumas, mestre em economia e professor. Para ele, os fundamentos macroeconômicos estão se deteriorando silenciosamente, enquanto o país cresce acima de seu potencial produtivo.
Déficit externo e fiscal se somam em alerta vermelho
Dumas destaca que, por identidade macroeconômica, o aumento do consumo e a queda da poupança interna — tanto pública quanto privada — acabam pressionando os déficits externos. “Se tenho um déficit fiscal da ordem de 9% do PIB e, ao mesmo tempo, um déficit em transações correntes de quase 4% do PIB, estou construindo uma fragilidade que pode se tornar insustentável”, afirma.
Para o economista, o patamar atual já acende um sinal amarelo de risco externo, especialmente porque lembra momentos críticos da história recente brasileira. “Na crise de 1998/1999, o déficit em conta corrente era pouco acima de 5% do PIB. Hoje estamos perto de 4%, o que já é motivo de atenção”, alerta.
Déficit: conta externa piora com importações e consumo
Segundo Dumas, o crescimento acelerado da economia, impulsionado pelo consumo das famílias, não é acompanhado por um aumento proporcional da produção interna, o que leva ao aumento das importações. “Estamos consumindo mais do que conseguimos produzir. A consequência natural é a deterioração das contas externas”, explica.
Risco de sudden stop com entrada de capital volátil
O economista também aponta que o Brasil está cada vez mais dependente de investimentos em portfólio para financiar seus déficits. “Quando o financiamento externo vem por capital volátil, como fundos de investimento, existe o risco de um ‘sudden stop’, ou seja, uma saída brusca desses recursos por conta de movimentos de juros nos EUA ou instabilidade internacional”, afirma.
Embora Dumas não acredite em uma alta iminente dos juros americanos, ele alerta que a dependência excessiva desse tipo de capital aumenta a vulnerabilidade externa brasileira.
Fragilidade doméstica e externa se combinam
A análise de Dumas conclui que o Brasil está enfrentando uma dupla fragilidade: de um lado, a dívida pública em trajetória considerada explosiva; de outro, o crescimento dos déficits externos alimentado por uma economia superaquecida sem capacidade de atender à demanda interna.
“O recado é claro: além da fragilidade fiscal doméstica, estamos alimentando uma fragilidade externa com importações em alta e déficit crescente nas contas externas”, conclui.
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