Recentemente, o Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) relatou um aumento acentuado nas infecções respiratórias virais no norte da China, incluindo um crescimento nos casos de infecção pelo Metapneumovírus Humano (HMPV). Esse fato chamou a atenção da mídia mundial, levantando discussões sobre o impacto na saúde e a possibilidade de haver pressão sobre os sistemas de saúde.
Essa tendência de aumento das infecções respiratórias virais ocorre em muitos países do Hemisfério Norte nessa época do ano, assim como nos países do Hemisfério Sul durante o inverno, no meio do ano.
Esses aumentos são normalmente causados por epidemias sazonais de patógenos respiratórios, como o vírus da gripe (Influenza), o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) e outros vírus comuns, como o Metapneumovírus Humano. No caso da China, o Metapneumovírus Humano ocupa o 8º lugar entre os principais causadores de infecções respiratórias.
O Metapneumovírus Humano
O Metapneumovírus Humano pertence à família dos vírus de RNA, assim como vários outros vírus respiratórios. Foi descoberto na Holanda, em 2001, em crianças com infecção respiratória sem um agente infeccioso detectado. Sua distribuição é global, e dados sorológicos sugerem que o Metapneumovírus tem sido responsável por infecções respiratórias há mais de 60 anos.
É improvável que o Metapneumovírus cause uma pandemia como o SARS-CoV-2, pois já existe há muitas décadas e há altos níveis de imunidade na população. Embora quase toda a população se infecte pelo Metapneumovírus até os 5 anos de idade, as reinfecções ao longo da vida são frequentes.
O Metapneumovírus pode causar infecções das vias aéreas superiores e inferiores em pacientes de todas as idades, mas a doença sintomática é mais comum em crianças e idosos. Nas crianças, a maior taxa de necessidade de internação hospitalar ocorre no primeiro ano de vida. Nesse grupo, o HMPV está presente em mais de 10% dos casos de pneumonia internados, podendo ser o único agente ou estar associado a outros patógenos causadores de infecções respiratórias. Em adultos, o HMPV está presente em aproximadamente 5% dos casos de pneumonia que necessitam de hospitalização.
Transmissão e período de incubação
Assim como outros vírus respiratórios, a transmissão ocorre pelo contato direto com secreções contaminadas, principalmente por gotículas eliminadas através da tosse e do espirro ou pelo toque em superfícies contaminadas. A taxa de transmissão é bastante variável, podendo alcançar de 10% a 70% dos contatos. O período de incubação do vírus, desde o contato até o início dos sintomas, varia de 4 a 9 dias, com uma média de 5 dias.
Sintomas
De modo geral, a infecção pelo HMPV causa sintomas leves e autolimitados, indistinguíveis de infecções respiratórias por outros vírus. A evolução típica dos sintomas começa com um período assintomático após o contágio, que dura alguns dias, seguido pelo aparecimento de sintomas das vias aéreas superiores, como obstrução nasal, coriza e dor de garganta, com resolução gradual.
Nos casos mais graves, após 1 a 2 dias de sintomas nas vias aéreas superiores, surgem sintomas das vias aéreas inferiores, como tosse e sibilância, que, em pessoas com doenças pulmonares prévias, como asma e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), podem persistir por dias ou semanas.
Em crianças, até 80% podem apresentar febre, e aproximadamente metade dos casos manifesta sibilância. A principal causa de internação nesse grupo é o desenvolvimento de pneumonia e bronquiolite.
Em adultos, os sintomas são semelhantes aos das crianças, mas a febre é muito menos frequente. O diagnóstico é realizado por meio do teste molecular de RT-PCR, coletado a partir da secreção do paciente infectado. Esse exame pode ser útil para evitar o uso desnecessário de antibióticos.
Grupos de risco
Determinados grupos apresentam maior risco de desenvolver formas mais graves da doença. Crianças menores de 1 ano de idade têm um risco elevado de internação por bronquiolite e pneumonia. Em adultos com mais de 65 anos, o risco de hospitalização pode ultrapassar 50%.
Condições pré-existentes, principalmente a asma, influenciam na gravidade da doença e no risco de hospitalização. Além disso, a infecção pelo HMPV nos primeiros dois anos de vida é um fator de risco para o desenvolvimento de asma posteriormente.
Pacientes imunodeprimidos — como transplantados, pessoas vivendo com HIV ou em tratamento para câncer — podem ser gravemente afetados pela infecção pelo HMPV. Nesse subgrupo, o risco de mortalidade é elevado.
Tratamento e prevenção
O tratamento é de suporte, com o uso de medicações para controle dos sintomas. Até o momento, não existe um antiviral com eficácia comprovada para o tratamento da infecção por HMPV em humanos.
A prevenção consiste em evitar o contato com pessoas sintomáticas, lavar as mãos regularmente ou utilizar álcool em gel, evitar aglomerações e fazer uso de máscara. Caso esteja sintomático, evite contato com pessoas vulneráveis, como idosos, crianças menores de 1 ano e imunossuprimidos. Além disso, cubra a boca e o nariz ao tossir e espirrar e mantenha a higiene das mãos.
As crianças podem retornar às atividades escolares após a resolução dos sintomas agudos. Até o momento, não há vacina disponível para o Metapneumovírus Humano.
André Apanavicius – RQE: 57452
Pneumologista
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