Acervo em São Paulo guarda mais de 500 páginas de registros de transações de negros escravizados no Brasil

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O lugar foi o Cartório de Notas de Araraquara, no interior de São Paulo. Uma investigação da Comissão Nacional da Verdade sobre a escravidão, criada em 2015, encontrou as escrituras. No interior de São Paulo, a descoberta de um acervo vai permitir a milhares de brasileiros se reconciliarem com o passado.
Homens. Mulheres. Crianças. Nomes sem sobrenome, negociados como mercadorias de acordo com a moeda da época. Por trás de letras difíceis de ler, a dor e o sofrimento de quem nasceu em situação de trabalho escravo no final do século 19. Em alguns casos, vendas de uma única pessoa. Em outros, lotes da mesma família.
São quase 500 páginas divididas em cinco volumes. Mais de 200 transações de compra e venda de negros escravizados.
“Pela primeira vez na história do Brasil, você tem, de fato, uma documentação tão extensa e retirada de um único lugar”, diz o professor da Unesp, Dagoberto José Fonseca.
São quase 500 páginas divididas em cinco volumes. Mais de 200 transações de compra e venda de negros escravizados.
Reprodução/JN
O lugar foi o Cartório de Notas de Araraquara, no interior de São Paulo. Uma investigação da Comissão Nacional da Verdade sobre a escravidão, criada em 2015, encontrou as escrituras. Os documentos inéditos ficaram guardados no cartório por mais de 130 anos.
As escrituras de compra e venda de negros só foram divulgadas graças a uma iniciativa de pesquisadores, advogados, autoridades e integrantes de movimentos antirracistas. Eles conseguiram na Justiça o acesso a essas informações.
Por mais de 300 anos, cerca de 4 milhões de negros foram traficados para o Brasil.
“A gente entende a escravidão como mercadorias. Não eram mercadorias, eram pessoas, nunca deixaram de ser pessoas. E é importante a gente pensar na resistência que existia, nas revoltas, nas lutas. Em todo o processo. Dar novamente humanidade. Humanizar essas pessoas. Então esses documentos precisam vir à tona. Eles precisam ser estudados e eles precisam chegar nas escolas para que a gente possa ter uma outra história, uma história mais plural”, diz a professora de Sociologia do Instituto Federal de SP, Valquíria Pereira Tenório.
Os pesquisadores reuniram as escrituras num livro. Para os descendentes de escravizados, os documentos são um registro importante da violação de direitos.
“A gente precisa abrir todos os baús. Todos os baús. A gente precisa resgatar a nossa história. Porque a nossa família não se resume somente no pai, na mãe, no avô, na avó. Esses documentos fazem parte da nossa história, faz parte da minha família, da família de outros também”, diz Carmelita Maria da Silva, professora e integrante do Movimento Negro.

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