Número de trabalhadores resgatados em situação semelhante à escravidão, entre janeiro e abril, é o maior dos últimos 15 anos

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Goiás tem o maior número de resgatados, seguido por Rio Grande do Sul e Minas Gerais. O número de trabalhadores resgatados em situação semelhante à escravidão, entre janeiro e abril, é o maior dos últimos 15 anos. Neste sábado (13), faz 135 anos da assinatura da Lei Áurea, que aboliu formalmente a escravidão no Brasil. Mas milhares de pessoas ainda sofrem com situações de trabalho degradantes.
O trabalho do homem mostrado na reportagem é debaixo do sol forte, no corte de moitas de bambu, em Nova Glória, interior de Goiás. Ele está no emprego há onze meses.
Repórter: O senhor já recebeu salário?
Homem: Não. Nunca acertou comigo.
Os fiscais do Ministério do Trabalho encontraram as anotações do empregador. Outro lavrador, em vez de receber o salário, terminou o mês devendo quase R$ 900. Eram descontadas roupas, alimentação, luvas, além de aluguel e contas de água e luz.
O nome disso é escravidão por dívidas.
A força-tarefa resgatou oito trabalhadores e prendeu em flagrante o empregador por aliciamento e retenção indevida de salários e de pessoas.
Dados do Ministério do Trabalho mostram que a quantidade de trabalhadores resgatados em situação semelhante à escravidão vem aumentando nos últimos três anos. E só entre janeiro e abril deste ano foram 1.201. Esse número é o maior dos últimos 15 anos, na comparação com o mesmo período. Goiás tem o maior número de resgatados, seguido por Rio Grande do Sul e Minas Gerais.
“O que temos percebido é que as empresas tentam afastar sua responsabilidade ao terceirizar. E não era esse o intuito da Lei de Terceirização, mas sim flexibilizar as relações de trabalho e deixar isso mais fluido, mais dinâmico”, explica o coordenador de fiscalização móvel do TEM, Maurício Krepsky.
Segundo os auditores fiscais, a maioria dos trabalhadores resgatados desconhecia até mesmo os direitos básicos, como ter a carteira de trabalho assinada.
Trabalhador: Eu já acostumei desde os 10 anos de idade trabalhando, mexendo com trator. Já trabalhei de tratorista.
Repórter: Você tem carteira assinada como tratorista?
Trabalhador: Não, aqui não.
“A gente precisa não só libertar essas pessoas. A gente precisa reinseri-las de fato na sociedade para que essas pessoas não se vejam tão sem esperança de tudo a ponto de aceitarem qualquer tipo de trabalho”, explica Livia Miraglia, coordenadora da Clínica do Trabalho Escravo da UFMG.
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