Educação financeira e herança: como líderes bem-sucedidos preparam seus filhos para o futuro financeiro

Líderes empresariais e financeiros de sucesso têm algo em comum além de suas carreiras: o compromisso em educar seus filhos sobre finanças desde cedo. Para muitos, a formação financeira vai além de lições teóricas, envolvendo práticas reais, aprendizados com erros e até reflexões profundas sobre herança.

Eric Malka, fundador da marca The Art of Shaving, viveu um momento decisivo ao vender sua empresa para a Procter & Gamble por US$ 60 milhões. Ele percebeu que o foco no curto prazo, essencial ao empreender, não funciona para quem precisa gerenciar investimentos. “Quando um empreendedor como eu tem a sorte de passar por um evento de liquidez, somos confrontados com o desafio de administrar ativos sem o treinamento adequado,” afirma Malka.

Após essa virada de chave, ele mergulhou no aprendizado sobre investimentos. Fez cursos de gestão de riqueza, leu livros sobre o tema e montou um portfólio diversificado que inclui ações, títulos, private equity e imóveis. Hoje, cerca de 10% de seus investimentos estão em ativos de maior risco.

Esse aprendizado moldou a maneira como ele educa seus filhos, de 14 e 16 anos, sobre dinheiro. Um episódio marcante aconteceu quando o filho mais velho quis investir uma parte de suas economias em operações de futuros de câmbio, acreditando que poderia alcançar retornos de 20% ao mês. O resultado? Uma perda de 40%. “Odeio preparar meu filho para falhar, mas às vezes as lições aprendidas com as perdas são mais valiosas do que as de um sucesso,” diz Malka.

Educar para o longo prazo

Dayssi Olarte de Kanavos, cofundadora da Flag Luxury Group, adota uma abordagem prática. Ela e o marido começaram cedo a introduzir conceitos financeiros para os filhos. Durante o ensino fundamental, eles alocaram uma quantia de baixo risco para que as crianças escolhessem ações de empresas como Apple, Amazon, Google e Alibaba. A cada ano, adicionavam mais recursos ao “ninho de investimentos,” incentivando-os a manter o dinheiro no mercado.

Essa experiência reflete sua própria filosofia empresarial, focada em estratégias de longo prazo. “O setor imobiliário me ensinou a ter paciência,” afirma Dayssi. Ela também sugere que os pais incentivem os filhos a explicar suas escolhas de investimento para desmistificar o tema e torná-lo emocionante.

Aprendendo com escolhas reais

Gregory Van, CEO da plataforma de investimentos Endowus, acredita no uso de exemplos práticos. Pai de três filhos pequenos, ele os introduz ao conceito de trade-offs financeiros desde cedo. “Pergunto: ‘Se investirmos US$ 100 e ele cair para US$ 30 no próximo ano, como você vai se sentir?’ ou ‘Você prefere gastar US$ 100 hoje com um brinquedo ou ter US$ 200 em 10 anos?’” Essas reflexões ajudam as crianças a desenvolver paciência e a entender os benefícios da gratificação adiada.

Van também montou carteiras de investimento para cada filho, compostas principalmente por presentes recebidos em datas comemorativas, como o Ano Novo Chinês. Ele compartilha o desempenho dessas carteiras com as crianças, destacando tanto os ganhos quanto as perdas, para incentivá-las a acompanhar os resultados.

Dinheiro e herança: quando falar sobre o futuro

A abordagem em relação a heranças é um tema delicado entre famílias ricas. Muitos membros da rede Tiger 21, composta por indivíduos com patrimônio elevado, preferem adiar a conversa até que os filhos atinjam cerca de 30 anos e estejam estabelecidos profissionalmente. Outros, porém, acreditam que iniciar o diálogo na adolescência pode preparar os jovens para se tornarem gestores responsáveis de seu futuro patrimônio.

“O objetivo é que os filhos levem uma vida produtiva e independente, sem que o conhecimento sobre a herança os desvie do caminho,” explica Michael Sonnenfeldt, fundador da Tiger 21. Ele recomenda conversas abertas e baseadas em valores sobre dinheiro e investimento, independentemente do momento escolhido.

Orçamento e hábitos financeiros desde cedo

Malka ressalta a importância de ensinar habilidades básicas de gestão financeira, como orçamento. Ele dá aos filhos uma mesada fixa mensal para aprenderem a gerenciar seus próprios gastos. No início, eles gastavam o valor em poucos dias, mas, com o tempo, passaram a administrar melhor o dinheiro. “Agora, depois de oito meses, eles realmente estão gerenciando bem. Acho que eles nem percebem que estão adquirindo uma habilidade,” comenta.

Dayssi concorda e sugere que as mesadas comecem no ensino fundamental, para ensinar sobre decisões financeiras e as consequências de suas escolhas. Ela também recomenda ensinar conceitos como juros, poupança e a diferença entre dívidas boas e ruins à medida que as crianças crescem.

Preparando para o futuro

Além de herança e investimentos, líderes como Roshni Mahtani Cheung, fundadora da The Parentinc, priorizam o planejamento financeiro de longo prazo. Ela e o marido abriram uma conta de depósito fixo para a filha de oito anos, usando presentes recebidos em festividades como o Ano Novo Chinês. “Meu objetivo é que ela cresça financeiramente segura e confiante,” afirma.

O consenso entre esses líderes é claro: educar financeiramente os filhos desde cedo os prepara para um futuro de decisões conscientes e independência financeira.

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