Por que a picape BYD Shark, fabricada na China, está chamando a atenção no mercado global?

Um “tubarão” está rondando um dos maiores mercados para montadoras americanas no mundo. Trata-se da picape da fabricante chinesa BYD, que está expandindo seu alcance e portfólio de produtos.

Sem o emblema da marca, a BYD Shark poderia facilmente ser confundida com um veículo fabricado nos Estados Unidos. Em vários aspectos, ela lembra uma picape menor da Ford.

A caminhonete chinesa apresenta semelhanças impressionantes com o design externo de um Ford Explorer combinado à popular F-150, um dos modelos mais vendidos da marca Ford nos EUA por 48 anos consecutivos.

Assim como o BYD Seagull — um hatchback totalmente elétrico que custa a partir de 69.800 yuan (menos de US$ 10 mil) —, há temores entre as montadoras globais de que rivais chinesas, como a BYD, apoiada por Warren Buffett, possam inundar seus mercados — prejudicando a produção local e reduzindo os preços dos veículos.

A BYD ainda não anunciou planos de vender a Shark nos Estados Unidos, mas já entrou em mercados onde General Motors, Ford e Toyota vendem picapes, incluindo Austrália, México e o Brasil.

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Nos EUA, picapes são os veículos mais lucrativos para as montadoras de Detroit, com milhões de unidades vendidas anualmente. Elas também ganharam importância crescente para a Toyota, tanto nos EUA quanto globalmente.

“Quando consideramos a importância, em termos de receita, desses produtos para os fabricantes, eles são o carro-chefe,” disse Terry Woychowski, presidente automotivo da Caresoft Global e ex-engenheiro-chefe das caminhonetes de grande porte da GM. “Há muito interesse nesse veículo por causa do mercado.”

A Caresoft, uma empresa de benchmarking e consultoria em engenharia, desmontou e analisou cerca de 40 veículos elétricos fabricados na China, de marcas como BYD, Nio, entre outras.

A empresa, baseada em Michigan, realiza análises digitais e físicas de todas as peças de um veículo, desde parafusos e travas até assentos, motores e baterias. O objetivo é ajudar seus clientes — principalmente montadoras e fornecedores — a melhorar a eficiência e reduzir custos de seus produtos.

Chamando atenção

Montadoras como Ford e Toyota, que dependem fortemente da venda de picapes menores globalmente, já notaram a BYD Shark.

“É um ótimo produto. Está vendendo bem. Eles estão tentando alcançar altos volumes no México e também localizando a produção na Tailândia”, disse o CEO da Ford, Jim Farley, ao ser questionado pela CNBC sobre a Shark. “Se quisermos ser um player global em picapes, como somos agora, temos que competir.”

Embora a F-150 da Ford seja líder nos EUA, a Hilux da Toyota tem sido a picape mais vendida fora da América do Norte por muitos anos. Desde sua introdução em 1968, a Toyota vendeu 19,8 milhões de unidades da Hilux, incluindo um recorde de 851 mil unidades em 2022.

Quando questionado sobre concorrentes chineses, o presidente da Toyota, Akio Toyoda, afirmou que a empresa “precisa estar preparada para atender às necessidades globais dos mercados internacionais”, independentemente da concorrência.

“Procuramos focar nas necessidades de cada mercado individual e ser os melhores da região. Essa é a nossa estratégia”, disse Toyoda durante uma coletiva de imprensa na CES, feira de tecnologia.

A BYD exportou mais de 10 mil unidades da Shark em 2024, segundo relatos. Espera-se que essas vendas aumentem, especialmente com os planos da empresa de expandir a produção.

De acordo com o BofA Securities, a participação da BYD nas exportações de veículos da China cresceu de 2%, ou menos de 56 mil unidades, em 2022, para 8%, ou 350,5 mil unidades, em 2024.

A exportação tem ajudado a BYD a aumentar suas vendas globais para cerca de 4,3 milhões de veículos em 2024, um salto em comparação aos 3 milhões do ano anterior. Analistas de Wall Street esperam que as vendas cresçam para cerca de 5,5 milhões em 2025, segundo o Goldman Sachs.

“A BYD está começando a explorar o mercado internacional com produtos atraentes (altamente competitivos e inovadores), que acreditamos que podem se tornar um segundo motor de crescimento para a empresa, contribuindo com 31% do volume incremental de vendas de veículos entre 2022 e 2030”, afirmou Tina Hou, analista do Goldman Sachs, em nota de 14 de janeiro.

A Shark deve ajudar a BYD a aumentar suas vendas e lucros. Trata-se de uma picape média — que possui menor demanda nos EUA em comparação ao resto do mundo — equipada com um sistema híbrido plug-in que combina uma bateria e motores elétricos com um motor a combustão interna de 1,5 litro.

O veículo pode operar como totalmente elétrico ou com o motor alimentando as baterias e motores elétricos, com uma autonomia combinada superior a 800 km, segundo a BYD.

A Shark tem preço inicial de cerca de 899.980 pesos mexicanos (US$ 44 mil). Embora seja mais cara que outros modelos da BYD, ainda custa menos do que muitas picapes híbridas ou totalmente elétricas nos EUA. Seu preço é semelhante ao de modelos intermediários da Ford Ranger e Toyota Tacoma no México.

Analisando Ford e GM

Ao testar a BYD Shark em propriedades privadas em Michigan, em um trajeto com pavimentos lisos e irregulares, a picape se mostrou eficiente. Sua aceleração é rápida, mas não tão ágil quanto a do Tesla Cybertruck ou das picapes totalmente elétricas da GM.

O veículo é silencioso, mas há espaço para melhorias na dirigibilidade e no conforto, que parecem menos refinados que os das caminhonetes atuais nos EUA.

A qualidade geral de construção da Shark é impressionante, mas há elementos peculiares, além de algumas “práticas compartilhadas” com picapes da Ford e GM, segundo Woychowski.

Brasil se torna 2º maior mercado da BYD

A BYD, gigante chinesa de carros elétricos, registrou um crescimento expressivo de 320% no Brasil em 2024, consolidando o país como o segundo mercado mais significativo para a empresa, atrás apenas da China.

Em entrevista ao Times Brasil – Licenciado Exclusivo CNBC, Alexandre Baldy, vice-presidente sênior da BYD no Brasil, afirmou que, no último ano, foram comercializados quase 80 mil veículos no país, o que reflete a adaptação da empresa à cultura local e ao ambiente de negócios brasileiro.

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