Produtor calcula perda de R$ 3,5 milhões após café guardado por empresários sumir: ‘Significado muito grande’


Justiça decretou a prisão de Guilherme Osório de Oliveira e Marina Célia Lopes da Cruz Oliveira, responsáveis por armazenar e negociar os grãos no interior de SP. Eles são suspeitos de causar prejuízo de ao menos R$ 25 milhões a cerca de 30 produtores. Armazém de empresários suspeitos de sumir com café e causar prejuízo milionário na região de Ribeirão Preto
Reprodução/EPTV
Um produtor da região de Ribeirão Preto (SP) calcula um prejuízo de R$ 3,5 milhões após desaparecer o café dele que era armazenado por um casal de empresários em Altinópolis (SP).
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Guilherme Osório de Oliveira e Marina Célia Oliveira, que eram responsáveis por armazenar e negociar os grãos, são suspeitos de sumir com o café e causar prejuízo de ao menos R$ 25 milhões a cerca de 30 produtores. Nesta sexta-feira (17), a Justiça decretou a prisão deles, mas o casal está foragido.
Sem se identificar, o produtor afirma que guardava com os empresários 1,5 mil sacas do produto. Ele destacou as dificuldades para produzir a safra.
“Um significado muito grande. Não é fruto de dois anos de trabalho, existe um custo de produtividade, de manutenção de todo esse processo que envolve agricultura, que você tem que ir mês a mês e não colhe todo mês, você colhe a cada dois anos uma safra melhor”, diz.
A vítima citou, ainda, o sentimento de revolta que prevalece ao perder a produção.
“A sensação é péssima porque é um dinheiro que você trabalhou muito para chegar nisso, não é fácil chegar nisso. Você trabalha muito e, de repente, uma pessoa se sente no direito de levar embora todo aquele trabalho que você fez.”
Decretada a prisão de suspeitos de sumir com café de fazendeiros em Altinópolis
Outras vítimas
Lenílton Sequeto, dono de lavouras em Altinópolis e Brodowski (SP), estima um prejuízo de R$ 700 mil com as 280 sacas de café desaparecidas. Ele explica que tentou contatos com os donos dos armazéns, mas sem sucesso.
“Liguei para ele, o telefone já não funcionava mais, o WhatsApp não funciona. Neste momento, veio a notícia de que ele estava sumido, e fomos até a delegacia fazer um boletim de ocorrência. É difícil, muito trabalho envolvido, tem a fase de custeio, a gente tem muito custo para suprir.”
Lenílton Sequeto, dono de lavouras em Altinópolis e Brodowski, estima prejuízo de R$ 700 mil com as 280 sacas de café desaparecidas
Reprodução/EPTV
Já a produtora rural Patrícia Morais Crivelenti ressalta que a família do marido estava prestes a fazer uma partilha do café perdido.
“É uma perda imensa. A família do meu marido estava preparando para poder fazer a partilha, por isso eles tinham um montante expressivo na cafeeira, e essa era a estratégia deles, para agora, nesse momento do café em alta, poder dividir um bem para cada um.”
Prisão decretada
A Justiça decretou a prisão do casal de empresários na tarde desta sexta-feira, informou a Polícia Civil à EPTV, afiliada da TV Globo.
Ainda de acordo com a polícia, até esta sexta, ao menos 30 pessoas prestaram queixa às autoridades, alegando que os suspeitos, que ficavam responsáveis por armazenar e negociar os grãos, não foram mais encontrados depois de receberem o café.
Com isso, o cálculo inicial é de que o rombo causado aos produtores, com os grãos que sumiram, é de R$ 25 milhões. O prejuízo, porém, pode chegar a R$ 70 milhões.
Inicialmente, a Polícia Civil investiga o crime de apropriação indébita qualificada, mas também apura a prática de lavagem de dinheiro e, por isso, solicitou o bloqueio de bens dos investigados à Justiça.
Os empresários ou a defesa deles não foram localizados pela reportaagem.
Sacas de café
Reprodução/EPTV
Sumiço de café
Os investigados, segundo o delegado seccional de Ribeirão Preto (SP), Sebastião Vicente Picinato, são donos de uma empresa que detém armazéns e entrepostos, que ficam responsáveis por guardar e negociar o café de produtores rurais e que tinham credibilidade por atuarem há anos na região.
“O produtor colheu o seu café, fez o beneficiamento, ele quer depositar esse café em algum local seguro. Essas corretoras de café ou armazéns recebem essa carga e deixam o café à disposição do corretor. Em momento oportuno, ele vai querer vender ou não, a empresa que faz a corretagem do café tem o lucro dela com relação ao armazenamento e depois até uma comissão de venda”, explica Picinato.
Esta semana, no entanto, produtores relataram à Polícia Civil que os sócios não foram mais encontrados nem atenderam telefonemas depois de serem procurados para negociar o café.
“Nós fomos procurados por uma vítima que alegava que possuía depositado nesse armazém aproximadamente sete mil sacas de café e em tratativas com o corretor, pediu que fosse vendido, aproveitando a alta do preço, inclusive para custear despesas do manejo do café. E para surpresa dela, o investigado começou a dar evasivas”, diz.
Diante das suspeitas, a Polícia Civil cumpriu na quinta-feira cinco mandados de busca e apreensão nos endereços dos sócios e apurou que quase não havia sacas de café nos armazéns, o que, para o delegado, dá indícios de que eles se apropriaram ou extraviaram a mercadoria.
“Os armazéns e entrepostos mantidos pela cafeeira estavam praticamente vazios, apenas um deles tinha três packs de café e mais umas sacas, o que deve ser em torno de 50 sacas de café de 60 quilos, alguns implementos agrícolas, maquinarias que não foram objeto de apreensão naquele momento.”
‘Vamos seguir o caminho do dinheiro’
Além de localizar os suspeitos, as autoridades querem saber qual foi o destino do café. O produto que sumiu dos armazéns, segundo o delegado, pela elevada qualidade, geralmente é destinado ao mercado internacional.
Por isso, Picinato solicitou o bloqueio de contas bancárias, veículos, imóveis e outros ativos financeiros do casal.
“Vamos seguir o caminho do dinheiro para saber quem se beneficiou com isso, com a maneira que lá na frente, através de uma competente ação cível, as vítimas possam se ver ressarcidas, total ou parcialmente.”
Produção de café na Alta Mogiana, no interior de São Paulo.
Reprodução/EPTV
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