Esquadrões do Passado: Paula Ramos, o terceiro time de Florianópolis

Florianópolis ainda tinha apenas a ponte Hercílio Luz como ligação com o Continente na época que o Paula Ramos Esporte Clube apareceu como a terceira força do futebol da Capital. Do clube fundado em 15 de dezembro de 1937 até a profissionalização, sete anos depois, muita história ainda vive na memória de quem viveu a época de ouro da equipe.

Equipe do Paula Ramos, de Florianópolis - Maury Borges/Acervo/ND

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Equipe do Paula Ramos, de Florianópolis – Maury Borges/Acervo/ND

Equipe de 1956 que três anos mais tarde iria conquistar o campeonato estadual.  - Acervo Jornal A Verdade/BPSC/ND

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Equipe de 1956 que três anos mais tarde iria conquistar o campeonato estadual. – Acervo Jornal A Verdade/BPSC/ND

Paula Ramos, título estadual de 1959 - Reprodução/Acervo Adalberto Klüser/ND

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Paula Ramos, título estadual de 1959 – Reprodução/Acervo Adalberto Klüser/ND

No entanto, o clube tem o nome como homenagem a um personagem que não nasceu na cidade, mas que tinha representatividade na época, como conta Rodrigo Capella, procurador jurídico da FCF (Federação Catarinense de Futebol).

“O clube nasceu na Avenida Beira-Mar Norte, na época Praia de Fora, no trapiche Paula Ramos, que foi em homenagem a um deputado estadual nascido no Ceará e lá o clube começou. Como o início foi lá, primeiro com natação, passou a se chamar Paula Ramos Esporte Clube e depois que foi para a Trindade incrementou o futebol”.

Com um super time no Campeonato Catarinense de 1959, o Paula Ramos desbancou Avaí, Figueirense e demais equipes para conquistar Santa Catarina. Goleiro titular na conquista e hoje morador de Jurerê, ao menos durante a temporada de verão, Carlos Gainete lembra com carinho da conquista.

“Comecei no Paula Ramos praticamente de gaiato. Eu era do Tamandaré, uma equipe amadora. Eu joguei um campeonato no gol, eu não era goleiro, mas fui bem e fui contratado. Um conhecia o outro, um sabia o pensamento do outro, de tanta harmonia que existia num grupo de praticamente 20 jogadores. Foi uma fase de rara felicidade”.

Carlos Gainete era o goleiro do Paula Ramos campeão de 1959 – Foto: Germano Rorato/ND

O jornalista, escritor e pesquisador Maury Dal Grande Borges foi testemunha ocular da conquista inédita e histórica do Paula Ramos. Ele relembra alguns pontos que nos ajudam a entender a grandeza e o que fazia de fato a diferença naquela equipe de 59.

“Foi a terceira força de futebol de Florianópolis de todas as épocas. O Paula Ramos nessa época só tinha jogador daqui, não tinha ninguém de fora”.

Maury Borges, jornalista e escritor, acompanhou toda a trajetória do Paula Ramos

Maury Borges, jornalista e escritor, acompanhou toda a trajetória do Paula Ramos – Foto: Germano Rorato/ND

A campanha da conquista impressiona até hoje, em 33 jogos foram 20 vitórias, quatro derrotas e nove empates.

Se houve euforia com a conquista, pouco mais de uma década depois o clube deixou de lado o futebol profissional, como explica Maury: “Muitos jogadores do Paula Ramos tinham  o interesse de outros clubes e começaram a sair. A morte de um dos dirigentes, o Sr. Cariani, que era a alma do clube, ajudou a iniciar a decadência da equipe”.

Rival em 59 e em outras competições do Paula Ramos, inclusive o citadino – onde o clube conquistou o citadino – o ex-jogador e hoje delegado aposentado Moacir Bernardino contou sobre o tamanho do PREC na época.

“A cidade respirava o clássico Avaí e Figueirense, mas o Paula Ramos se infiltrou, conseguiu dispersar e trazer torcida grande. Era o terceiro clube da cidade”.

Craque do time e atualidade

O grande Paula Ramos campeão de 1959 tinha no ataque Valério Mattos, que para muitos foi o melhor jogador de futebol da história do futebol catarinense. Tinha rara habilidade e um poder de conclusão acima da média. Responsável por escrever um livro sobre o jogador, o médico e escritor Murillo Capella recorda:

“Ele foi o atleta número 1 do Paula Ramos e da seleção catarinense de futebol também. Ele era o meio de campo clássico, lançador, batia falta e penalidade muito bem. Quem for da geração de 1950 pra cá ou ouviu falar do Valério ou viu ele jogar, era diferente”.

Paula Ramos 1959 - primeiro clube de Florianópolis (segundo de SC) a disputar um campeonato nacional  - Acervo/Maury Borges

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Paula Ramos 1959 – primeiro clube de Florianópolis (segundo de SC) a disputar um campeonato nacional – Acervo/Maury Borges

Ex-jogador de futebol tem sua vida contada em “Valério José de Matos: A Saga de um Realizador”, livro de Murillo Ronald Capella, com selo da Dois Por Quatro Editora - Divulgação/ND

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Ex-jogador de futebol tem sua vida contada em “Valério José de Matos: A Saga de um Realizador”, livro de Murillo Ronald Capella, com selo da Dois Por Quatro Editora – Divulgação/ND

Atual vice-presidente do Paula Ramos Esporte Clube, Geraldo Gomes, contou que a parte financeira fez a equipe de futebol deixar de disputar as competições: “Na época ainda era possível fazer futebol por amor a camisa, muitos jogadores da época não recebiam salário,mas depois da década de 1970 ficou difícil manter essa situação pela parte financeira”.

Se as glórias estão no passado, na estante do clube e na memória de torcedores e apaixonados pelo futebol, hoje o Paula Ramos caminha a passos largos para se perpetuar como entidade social. São diversas opções que os associados têm à disposição depois de uma virada de chave na história recente.

“Em 2008 foi concluída uma transação que nós fizemos com a venda de parte do terreno e nós tivemos um clube novo, no mesmo local, mas como uma realidade mais atual. O Paula Ramos é aberto à sociedade”.

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