O retorno de Trump: como os EUA chegaram até aqui?

O dia 20 de janeiro marcará a volta de Donald Trump à Casa Branca. Será o início de seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos. O bilionário republicano volta ao cargo após uma “tempestade perfeita” que envolveu mais do que um mandato conturbado de Joe Biden, seu algoz na última corrida eleitoral. 

Os quatro anos de intervalo entre o primeiro e o segundo mandato de Trump foram marcados por polêmicas abrangendo o então ex-presidente dos Estados Unidos. Trump coleciona acusações e condenações criminais que envolvem desde o apoio à invasão ao Capitólio até o suborno da ex-atriz pornô Stormy Daniels.

Trump será o primeiro chefe de Estado condenado a assumir o poder nos Estados Unidos. O presidente americano foi acusado de falsificar registros financeiros empresariais. O objetivo era usar o dinheiro desviado para silenciar Daniels, com quem Trump teria tido relações extraconjugais em 2006.

Trump negou que tenha tido um caso com a ex-atriz, mas reconheceu que realizou pagamentos. Daniels afirma que recebeu US$ 130 mil em 2016, pouco antes das eleições presidenciais que coroaram Trump como o 45º presidente dos Estados Unidos. O pagamento fazia parte de um acordo de confidencialidade.

Apesar das 34 condenações, Trump não irá para a cadeia e nem pagará qualquer multa pelo caso, tampouco corre risco de não ser empossado. Trump recebeu uma “dispensa incondicional”. Neste caso, não há pena de prisão ou multa, mas o caso fica arquivado em seu registro criminal. 

A caminhada de volta

O começo da vida pós-Casa Branca de Trump foi conturbado. No dia 6 de janeiro de 2021, Trump convocou partidários para um protesto contra o resultado da eleição sob a alegação de fraude nas urnas. Era uma tentativa de forçar o Congresso a rejeitar a vitória do democrata.

O ataque ao Capitólio acarretou a morte de cinco pessoas e 68 prisões. Um policial morreu e outros 14 agentes ficaram feridos durante a ocorrência. Dispositivos explosivos foram encontrados nos terrenos do Capitólio e nas proximidades das sedes dos comitês dos partidos Republicano e Democrata. 

O episódio daria um indício de que Trump tentaria voltar ao poder. Numa primeira tentativa, à força. Depois, galgando novamente seu caminho no processo eleitoral para uma chance de disputa contra Joe Biden quando o democrata disputasse a reeleição em 2024. 

Se Trump surgiu como azarão na primeira vez em que disputou as primárias do Partido Republicano, agora o ex-presidente era visto como favorito ao pleito. A disputa com Ron DeSantis ficou marcada por um atentado em um comício na Pensilvânia, quando o bilionário foi atingido de raspão na orelha por um atirador.

Após derrotar DeSantis, Trump tinha pela frente seu então algoz nas últimas eleições. Biden, porém, foi amplamente criticado por atuações confusas em debates. Trump, por outro lado, adotava uma postura mais enérgica. Enquanto Biden gaguejava e se confundia, Trump atacava e repercutia.

“O tema da imigração e da inflação foram chave para Trump”, afirma Felipe Corleta, sócio da GTF Capital. “Biden praticamente cometeu suicídio eleitoral nos debates ao parecer velho demais para o cargo.” Biden também tem 78 anos, a mesma idade de Donald Trump (que nasceu 2 meses antes).

As pesquisas eleitorais feitas em 2024 começavam a mostrar o enfraquecimento do democrata, que enfrentava também a rejeição da ala econômica. O governo Biden ficou marcado pelas taxas de juros elevadas que foram impostas para tentar controlar a inflação, que também chegou a patamares históricos.

Vice na chapa de Biden, Kamala Harris tomou o lugar do presidente americano na disputa pela cadeira mais importante do mundo. Primeira procuradora-geral negra da Califórnia e primeira mulher de origem asiática no Senado, ela demonstrava energia para combater Trump. Era, assim, uma ameaça ao sonho do republicano.

Trump adotou uma retórica populista e repleta de ataques pessoais a Harris. Questionou a competência e as origens de sua adversária. Também apostou novamente em políticas anti-imigração e no controle econômico. Foi favorável também ao empresariado norte-americano.

“Com relação à Kamala, Trump foi muito mal no primeiro debate, e se absteve da corrida”, diz Corleta. “Um fator importante para que ele chegasse ao dia do pleito como favorito foi o atentado contra ele.”

Trump venceu as eleições por uma larga vantagem. Obteve 312 votos do Colégio Eleitoral americano. Kamala teve apenas 226 votos, marcando a pior campanha de um candidato democrata desde as eleições de 1988. Na ocasião, o democrata Michael Dukakis teve apenas 111 votos contra 426 de George H. W. Bush. 

O segundo mandato

Com 78 anos e 5 meses, Trump será o presidente mais velho empossado. Terá pela frente o desafio de conduzir a economia americana após um governo conturbado de Biden em que houve descontrole da inflação (chegou ao pico de 9,1% em 2022) e crescimento médio da economia de 2,2% por ano.

O crescimento da indústria chinesa será um dos principais obstáculos para Trump. A economia da China vem crescendo globalmente. Nesta semana, a China informou que teve superávit de exportações de US$ 990 bilhões, superando o recorde anterior que era de US$ 838 bilhões, em 2022.

A China é produtora de cerca de um terço dos produtos manufaturados do mundo. Essa fatia é maior do que a somada por Estados Unidos, Japão, Alemanha, Coreia do Sul e Reino Unido. Um exemplo neste sentido são os carros chineses. Em vez de importar, a China se tornou a maior exportadora mundial de veículos.

Para combater o crescimento chinês, Trump quer impor tarifas de até 60% sobre os produtos chineses. Essa ameaça, inclusive, fez com que houvesse uma corrida das empresas americanas para aumentarem seus estoques de produtos chineses antes da mudança tarifária. Isso contribuiu para o superávit das exportações.

As medidas tarifárias podem ajudar Trump a lidar com o desafio fiscal. O novo presidente dos EUA prometeu cortar impostos. O desafio é não diminuir a arrecadação. Principalmente por conta da dívida de mais de US$ 26 trilhões dos EUA. O débito representa 99% do PIB.

No cenário internacional, Trump terá que atuar nos conflitos no Oriente Médio e entre Rússia e Ucrânia. Sob o governo de Joe Biden, a Ucrânia recebeu apoio financeiro durante a escalada do conflito com a Rússia. Sem esse apoio, a Ucrânia pode enfrentar maiores apuros.

Para Corleta, o maior percalço do novo presidente americano será conseguir executar as propostas de campanha sem criar uma crise de inflação, uma má relação com os mercados financeiros ou o aprofundamento de crises geopolíticas.

“Há quem espere que ele, com apoio da Casa dos Representantes e do Senado, possa executar de forma mais livre as suas intenções demonstradas em campanha”, afirma Corleta. “Com os nomes já anunciados para o secretariado, Trump pode fazer um governo mais conservador do que o primeiro mandato.”

Ainda que o plano geral de governo não seja conhecido, Trump já deu indícios de qual será sua postura econômica adotada ao se aliar com nomes de peso do empresariado norte-americano, como Elon Musk, Mark Zuckerberg e Jeff Bezos. Musk, aliás, vai liderar o Departamento de Eficiência do Governo.

Também nomeou Scott Bessent (fundador do fundo de cobertura Key Square Capital Management) para secretário do Tesouro. Para a Securities & Exchange Commission (SEC), nomeou Paul Atkins, fundador da consultoria de risco Patomak Global Partners. Atkins é classificado como “libertário” e “pró-cripto”.

“No primeiro mandato, houve um período de trocas grandes nas equipes. Ele precisou entender o funcionamento da ‘máquina’”, diz Gilberto Braga, economista e professor do Ibmec. “Agora, no segundo mandato, desde que se elegeu, Trump se apressou em definir nomes para as principais áreas de seu governo.”

Se ainda há dúvidas em relação ao próximo mandato de Trump, o primeiro governo foi marcado pela recuperação da economia dos Estados Unidos. Foram 76 meses consecutivos de criação de vagas, queda de desemprego para 4,6% e crescimento da economia em cerca de 2,5% por ano e fortalecimento da bolsa de valores.

Por outro lado, houve um descompasso em relação ao controle da dívida americana. A alavancagem que era de 76% do PIB em 2016 passou para 105% em 2020. Os cortes de impostos corporativos, o aumento nos gastos com a Defesa e a criação de fundos de auxílio durante a pandemia impulsionaram os gastos.

O combate à pandemia foi determinante para sua derrota em sua tentativa de reeleição. Com um discurso negacionista, Trump fez críticas às vacinas e ao uso de máscaras. Dados da Universidade Johns Hopkins apontam que mais de 400 mil pessoas morreram de covid-19 no primeiro mandato de Trump.

“A condução da pandemia foi um ponto que pode ter feito com que ele perdesse as eleições de 2020”, diz Corleta, da GTF Capital. “Já o novo governo pode ser marcado por medidas mais contundentes tanto na política comercial, como no posicionamento frente aos conflitos geopolíticos e na política interna de imigração.”

📌 ONDE ASSISTIR AO MAIOR CANAL DE NEGÓCIOS DO MUNDO NO BRASIL:

🔷 Canal 562 ClaroTV+ | Canal 562 Sky | Canal 592 Vivo | Canal 187 Oi | Operadoras regionais

🔷 TV SINAL ABERTO: parabólicas canal 562

🔷 ONLINE: www.timesbrasil.com.br | YouTube On Demand

🔷 NAS PRÓXIMAS SEMANAS: FAST Channels: Samsung TV Plus, Pluto, TCL, LG Channels | Novos Streamings | YouTube Live

O post O retorno de Trump: como os EUA chegaram até aqui? apareceu primeiro em Times Brasil- Licenciado Exclusivo CNBC.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.