Cracolândia registrou 33 roubos ou furtos por dia em 2024, 9% a menos do que no ano anterior, aponta levantamento

Comerciantes relatam aumento de policiamento, mas lojas ainda sofrem com a falta de circulação de pessoas na região. Prefeitura de SP e governo paulista instalam grades na Cracolândia e delimitam espaço de usuários em 24/06/2024
Paulo Pinto/Agência Brasil
Entre 1º de janeiro e 29 de dezembro, foram registrados 12.227 boletins de ocorrência relacionados a roubos ou furtos na região classificada como “cenas de uso” pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), popularmente conhecida como Cracolândia.
Isso significa que, em média, 33 crimes desse tipo foram registrados por dia na região, que abrange parte dos bairros República, Santa Cecília, Campos Elísios, Vila Buarque, Santa Ifigênia e Higienópolis, no Centro da capital paulista.
O levantamento foi feito pela Globonews com base em dados divulgados pela SSP.
Essas ocorrências incluem:
roubos ou furtos a estabelecimentos comerciais e
crimes nos quais as vítimas estavam dentro de veículos ou andando na rua.
O celular é o objeto mais visado pelos criminosos, de acordo com os boletins de ocorrência. Há também relatos de roubos e furtos de carteiras, dinheiro e bolsas ou mochilas inteiras, além de saques a lojas.
Em 2023, a quantidade de ocorrências na região começou a ser contabilizada pela SSP em 10 de abril. Naquele ano, foram registradas 9.496, entre abril e dezembro. No mesmo período do ano passado, foram 8.641 — uma redução de 9%. Na prática, isso significa que a média passou de 36 registros de crimes na região por dia para 33.
A criminalidade no entorno levou muitos comerciantes a fechar as portas em 2024. Foi o caso de Ângela Oliveira, que tinha uma loja de eletrônicos que foi saqueada em novembro de 2023. A comerciante chegou a reabrir a loja no mesmo local.
“Fiquei uns meses para pagar os clientes e arrumar a loja, porque o ponto não era nosso, e quebraram porta, prateleiras, balcão e torneira”, relata Ângela que, no ano passado, decidiu mudar a loja de endereço.
O diretor comercial José Paulo de Souza também teve uma loja invadida por dezenas de usuários de drogas, em fevereiro de 2024. Ele afirma que, de lá para cá, a segurança na região melhorou.
“Temos policiais de todas as esferas durante todo o dia e à noite também”, diz o comerciante, que afirma que os negócios ainda sofrem com a redução da circulação de pessoas no centro da capital.
No segundo semestre de 2024, José Paulo fechou quatro das nove lojas das quais era proprietário na região. “A maioria [das pessoas] tem a sensação de abandono, insegurança, roubos de celulares, quebra de vidro de carros. Isso não está acontecendo mais. O Centro de São Paulo tem muitas riquezas arquitetônicas, vários restaurantes, casas de show, teatros”, lamenta.
Transição da sede do governo
Comerciantes da região acreditam que, com a mudança da sede administrativa do governo de São Paulo para o Centro da capital, o policiamento aumente ainda mais e a circulação de pessoas volte a crescer.
Essa transferência faz parte do projeto do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para concentrar todas as secretarias no Centro. Atualmente, os 27 mil funcionários trabalham em 60 prédios espalhados por São Paulo.
Neste início de 2025, cerca de 60 servidores da Secretaria de Justiça e Cidadania já estão trabalhando no edifício localizado na região central. No total, a pasta conta com 200 servidores.
A primeira etapa de transição é exclusiva da secretaria, que está fazendo adequações elétricas, hidráulicas e de climatização em áreas específicas do prédio. Essas adequações estão em fase de licitação.
Segundo a pasta informou por meio de nota, o restante da equipe só irá para o edifício do Centro após a conclusão dessas melhorias. “As intervenções estruturais no prédio devem ser finalizadas até o final deste ano”, informa a nota (confira a íntegra abaixo).
A Secretaria da Segurança Pública disse também que o avanço na segurança local tem sido alcançado por diversas medidas que serão continuadas e ampliadas neste ano, como viaturas localizadas em pontos estratégicos do centro. A pasta também afirma que, em 2024, somente na região das Cenas Abertas de Uso, foram 11 mil vítimas a menos de crimes patrimoniais, na comparação com o ano anterior. E que enquanto os roubos e furtos caíram, o número de infratores detidos subiu 52,5%. Além disso, a quantidade de drogas recolhidas teve alta de cerca de 518%, de acordo com a SSP.
Procurada, a Prefeitura de São Paulo não encaminhou resposta até a última atualização desta reportagem.
O que diz a SSP
“O avanço na segurança local tem sido alcançado por meio de diversas medidas que irão ser mantidas, reforçadas e ampliadas no ano de 2025. Como exemplo, foram entregues, nesta quarta-feira (8), 16 novas viaturas ao efetivo que atua nas quatro bases comunitárias da Polícia Militar, recém-inauguradas em pontos estratégicos do centro, em um investimento que ultrapassa R$ 3 milhões. Essas unidades foram entregues no ano passado e outras sete devem ser implantadas ainda neste ano. Além disso, as novas viaturas se somam às 99 entregues também em 2024 para reforçar o policiamento no centro – região que recebeu três novas companhias da PM e 400 policiais para incrementar o efetivo, na atual gestão.
Essas iniciativas fazem parte dos esforços do Governo do Estado e da Prefeitura para reverter o processo de degradação e devolver a qualidade de vida e a segurança à todas as pessoas que moram, trabalham ou frequentam essa localidade. Como resultado, de abril de 2023 até novembro de 2024, o centro apresentou 20 meses de queda consecutiva nos índices de roubos e furtos, permitindo que 25,4 mil crimes desta natureza fossem evitados. Além disso, mais de 5 toneladas de drogas foram retiradas das ruas e 13.138 criminosos foram presos e apreendidos. Somente na região das Cenas Abertas de Uso, foram 11 mil vítimas a menos de crimes patrimoniais, no mesmo comparativo, sendo que no ano passado os roubos e furtos caíram 0,44% e 0,31%, respectivamente, enquanto o número de infratores detidos subiu 52,2% e a quantidade de drogas recolhidas teve alta expressiva de 518,27%.”