Moscou e Kiev interrompem trânsito de gás russo para a Europa através da Ucrânia

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky comemorou, nesta quarta-feira (1º), o fim do trânsito de gás russo pelo território ucraniano, classificando-o como uma “grande derrota” para Moscou, em meio à invasão que já dura quase três anos.

O fluxo de gás russo para a Europa através da Ucrânia foi interrompido nesta manhã, depois que Zelensky recusou a extensão de décadas de cooperação que haviam gerado bilhões de dólares para Moscou e Kiev.

A Ucrânia tem criticado países que ainda compram energia russa, acusando-os de contribuir para o fortalecimento da máquina de guerra de Moscou. No entanto, a decisão gerou reações divergentes na Europa, que antes da invasão de fevereiro de 2022 era o principal cliente do gás russo.

Moscou argumenta que a Ucrânia está se prejudicando e causando transtornos aos seus parceiros no leste europeu, que continuam dependentes do fornecimento russo.

Em 2023, o gás russo representou menos de 10% das importações de gás da União Europeia, uma queda significativa em relação aos mais de 40% registrados antes do conflito.

No entanto, alguns membros orientais do bloco ainda são altamente dependentes das importações de gás russo.

“Derrota”

Zelensky apontou diretamente o presidente russo Vladimir Putin pela quebra nos laços de fornecimento de gás.

“Quando Putin assumiu o poder na Rússia, há mais de 25 anos, o bombeamento anual de gás através da Ucrânia para a Europa era de mais de 130 bilhões de metros cúbicos. Hoje, o trânsito de gás russo é zero”, escreveu ele nas redes sociais.

“Esta é uma das maiores derrotas de Moscou”, acrescentou.

“Como resultado da Rússia transformar a energia em uma arma e recorrer ao cínico chantagem contra seus parceiros, Moscou perdeu um dos mercados mais lucrativos e geograficamente acessíveis.”

A medida foi bem recebida pelo aliado próximo da Ucrânia, a Polônia, que a chamou de uma “nova vitória” para o Ocidente, após a adesão da Suécia e Finlândia à aliança militar da OTAN.

Porém, a Eslováquia, que depende do gás russo, criticou a decisão.

“A interrupção do trânsito de gás pela Ucrânia terá um impacto drástico sobre todos nós na UE, mas não sobre a Federação Russa”, afirmou o primeiro-ministro eslovaco Robert Fico, que aproximou Bratislava de Moscou desde que voltou ao poder em 2023.

Sem especificar a quem se referia, Zelensky pediu que outros “resistissem à histeria de alguns políticos europeus que preferem esquemas mafiosos com Moscou a uma política energética transparente.”

Ele instou os Estados Unidos a aumentar seus suprimentos de energia para a Europa, afirmando que o aumento das importações de aliados significaria “quanto antes serão superados os últimos efeitos negativos da dependência energética da Europa em relação à Rússia.”

Os preços do gás natural na Europa subiram acima de 50 euros (US$ 51,78) por megawatt-hora pela primeira vez em mais de um ano, na terça-feira, enquanto compradores no Leste Europeu se preparavam para a tão esperada interrupção no fornecimento.

A Hungria, que também compra grandes quantidades de gás russo, deve ser amplamente impactada pela medida, pois recebe gás russo através do gasoduto no Mar Negro, uma rota alternativa que desvia da Ucrânia passando pela Turquia e pelos Bálcãs.

Bruxelas minimizou o impacto que a perda do fornecimento de gás russo terá sobre o bloco de 27 membros como um todo.

“A Comissão tem trabalhado há mais de um ano especificamente na preparação para um cenário sem o gás russo transitando pela Ucrânia”, afirmou em entrevista à AFP na terça-feira.

Emergência na Moldávia

As receitas de energia são cruciais para as finanças do governo russo.

Em meio à guerra e às sanções ocidentais, Moscou reorientou grande parte de suas lucrativas exportações de petróleo para a Ásia.

Porém, as vendas de gás são mais difíceis de deslocar devido à vasta infraestrutura de gasodutos construída ao longo de décadas para atender ao mercado europeu.

Embora a Europa não tenha sido afetada imediatamente pela interrupção dos suprimentos, a região separatista moldava da Transnístria foi mergulhada em uma crise de energia na quarta-feira.

“O ano não começou fácil. Há um problema. O gás foi cortado para os consumidores na Transnístria”, disse o líder pró-russo da região, Vadim Krasnoselsky, em uma reunião governamental televisionada, sem detalhar a extensão do problema.

A Gazprom já havia alertado em dezembro que interromperia o fornecimento de gás à Moldávia devido a uma disputa separada de pagamentos com o governo de Chisinau.

A mídia local na Transnístria relatou falhas no aquecimento, enquanto um fornecedor de energia orientou os moradores a “se agasalharem”, se reunirem em um único cômodo e vedarem portas e janelas com cortinas e cobertores.

Mais de 130 escolas ficaram sem aquecimento, disseram autoridades locais à mídia estatal russa.

Chisinau, que no mês passado declarou estado de emergência devido a possíveis interrupções de energia, acusou a Rússia de “chantagem”.

O restante da Moldávia foi poupado por enquanto, conseguindo garantir importações de energia da vizinha Romênia.

A Moldávia já estava cortada do gás russo direto, mas ainda dependia de uma grande usina de energia fornecida pela Rússia na Transnístria para eletricidade.

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