Agricultores americanos expressam preocupação com promessa de deportações em massa de Trump

Um trabalhador hondurenho em situação irregular carrega uma pá na fazenda Del Bosque Farms, em Firebaugh (Califórnia), em 17 de dezembro de 2024David SWANSON

David Swanson

O fazendeiro Joe Del Bosque, que trabalhou no campo durante toda a vida, tem claro que os Estados Unidos dependem dos migrantes, embora seus políticos virem as costas para a situação.

“Quando precisam de trabalhadores imigrantes no campo, eles são bem-vindos, e quando não precisam, os expulsam”, diz este agricultor de 75 anos.

“O país não sabe que, neste momento, precisa de alguns desses trabalhadores”, que Del Bosque classifica como “essenciais”.

Com os pés no campo, os agricultores alertam que deportar milhões de imigrantes, como promete o presidente eleito Donald Trump, pode impactar severamente a cadeia de produção de alimentos, elevando os custos e até causando escassez de produtos.

Trump, que fez da narrativa anti-imigração o centro de sua bem-sucedida campanha eleitoral e que obteve grande apoio nas zonas rurais do país, anunciou que ordenará tais deportações desde o primeiro dia de governo, 20 de janeiro, sem oferecer detalhes sobre como as executará.

“Ele fala de deportações, mas não sabemos o que isso significa”, disse o fazendeiro, à frente da Del Bosque Farms, em Firebaugh, na Califórnia.

“Esperamos que isso não signifique que ele vai invadir nossas fazendas, porque sem nossa gente, nossas fazendas vão parar.”

“Seria devastador para a indústria de laticínios”, acrescentou Rick Naerebout, diretor executivo da Associação de Produtores de Laticínios de Idaho.

“Bastariam alguns dias de interrupção e não poder alimentar ou ordenhar nossas vacas para prejudicar irreparavelmente nossa indústria”, não apenas em Idaho, mas em todo o país.

Mas para Tom Barcellos, da Barcellos Farms, na Califórnia, devido à sua importância, os trabalhadores imigrantes não serão um alvo da nova administração.

“Há muitos outros problemas para resolver primeiro”, acrescentou o agricultor de 69 anos.

“Aqueles que estão no poder sabem que não vão invadir a agricultura… Porque ela é a fonte de alimentos do povo americano, e não querem aumentar seu custo mais do que o necessário.”

– “Falácia” –

Cerca de 2,4 milhões de pessoas trabalham no campo, das quais 44% não têm documentos para estar nos Estados Unidos, segundo uma pesquisa do Departamento do Trabalho.

“A cadeia alimentar dos Estados Unidos depende enormemente da mão de obra de migrantes em situação irregular”, explica o economista David Ortega.

“Muitos deles desempenham funções essenciais que muitos trabalhadores nascidos nos Estados Unidos não podem ou não querem realizar”, acrescentou o professor da Universidade de Michigan, em contraposição à afirmação de Trump e sua equipe de que os imigrantes roubam empregos dos americanos.

“A falácia de que os americanos querem emprego na agricultura é muito frustrante”, disse Naerebout.

Para ilustrar seu ponto, Naerebout comentou que um contratante divulgou no ano passado uma oferta de 6.000 empregos na região oeste.

“Receberam menos de 30 inscrições de moradores. Apenas 12 dessas resultaram em uma entrevista, e dois foram contratados, mas não para a colheita”, comentou.

“Os americanos não querem esses empregos.”

Em estados como Califórnia e Idaho, o trabalho manual de semear e colher envolve, entre outras coisas, enfrentar temperaturas abaixo de zero ou acima de 40°C.

Além das duras condições, Naerebout afirma que a baixa taxa de desemprego e as mudanças demográficas no país explicam a demanda.

“É uma equação matemática”: a economia e os postos de trabalho crescem ao mesmo tempo que a taxa de natalidade diminui.

– “Em dívida” –

Outros pontos que decepcionam os produtores são a dificuldade que os trabalhadores enfrentam para se legalizarem no país e a falta de vontade política de democratas e republicanos.

“Estamos há cerca de 20 anos frustrados tentando encontrar uma maneira de reformar (o sistema) em nível nacional, e ambos os partidos estão em dívida”, comentou Naerebout.

“Nos perguntamos se há uma falta de vontade política para resolver o problema, porque isso se apresenta como um grande arrecadador de fundos e um discurso de campanha.”

Joe Del Bosque, que contrata cerca de 200 trabalhadores na temporada de colheita, afirma que muitos tentam se legalizar, mas acabam presos em um sistema burocrático complicado e demorado, que não acompanha as demandas imediatas da agricultura.

“Muitas das nossas frutas e verduras frescas precisam ser colhidas à mão”, disse ele.

“Se os Estados Unidos valorizam esse tipo de alimento em sua dieta, eles precisam considerar que precisamos ter uma mão de obra confiável para garantir um fornecimento confiável de alimentos.”

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