O que a taxa de juros tem a ver com emprego e como ela pode frear alta de vagas na indústria da região de Campinas


Novo aumento da Selic sinalizado pelo Copom gera temor de que o setor produtivo volte a ter redução de postos de trabalho e não repita, em 2025, o desempenho deste ano. g1 publica última reportagem de série sobre crescimento da indústria em 2024. Entenda por que a taxa de juros pode frear crescimento da indústria na RMC
O setor industrial impulsionou a economia da Região Metropolitana de Campinas (RMC) neste ano com a criação de três vezes mais vagas do que o ano passado. Nesta semana, o g1 publica uma série de reportagens que constata o crescimento e apresenta os impactos desta transformação na estrutura dos postos de trabalho dos 20 municípios.
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A análise do Observatório PUC-Campinas, responsável pela pesquisa, já havia apontado que a razão para a alta das oportunidades de trabalho na indústria é a segurança econômica provocada por uma taxa de juros mais atrativa, o que permitiu colocar mais dinheiro na mão da população, aumentar linhas de crédito, proporcionou o consumo elevado e fez indústria contratar.
Com o cenário favorável, a tendência seria que, em 2025, o setor industrial da RMC continue criando vagas. Mas não é bem assim.
Na última reportagem da série, abaixo, é possível conferir como o termômetro da taxa de juros influencia diretamente no saldo de emprego da indústria e quais as possibilidades deste crescimento ser interrompido pelo “choque de juros” da Selic.
Banco Central é o responsável por definir a taxa de juros
Flickr do Banco Central
Sinalização de alta
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (Bacen) de elevar a taxa de juros de 11,25% ao ano para 12,25% ao ano foi a maior alta desde o começo de 2022. Além disso, o Bacen indicou, ainda, dois novos aumentos da mesma magnitude no começo de 2025.
O objetivo é conter a escalada das projeções de inflação, que avançaram fortemente nas últimas semanas por conta de ruídos sobre o pacote de cotes de gastos e embutiram também na proposta de aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda, assim como a expectativa de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos e um forte nível de atividade.
O aumento preocupa o setor produtivo, considerando que a Selic mais alta impacta na produção e no consumo e pode gerar demissões na indústria. Economista do Observatório PUC-Campinas e professora que assina o estudo, Eliane Navarro Rosandiski, afirmou que é preciso pensar outras alternativas para conter inflação do que simplesmente aumentar os juros.
“Quais são os segmentos que estão sendo pressionados por essa inflação? É a inflação de alimentos. E aí esse olhar para a inflação de alimentos tem que ser feito de maneira muito mais atenta. Por que? Numa inflação de alimentos, subir um ponto percentual da taxa de juros não vai fazer chover. Não vai resolver o problema que está justamente provocando esse choque de oferta. Ter uma taxa de juros maior vai encarecer o crédito, vai dificultar o acesso à liquidez, provavelmente vai por um pé no freio”, afirmou.
Qual é o risco?
De acordo com Eliane, a indústria manter a alta do saldo de emprego (equação entre demitidos e admitidos) é importante porque eleva a massa salarial da região, considerando que os ganhos do setor são maiores do que de áreas como a de serviços, por exemplo, que foi a que mais gerou vaga na RMC no ano passado.

Segundo a economista, a elevação da taxa de juros pode voltar a sufocar o setor industrial, que novamente pode, não só frear o crescimento, como entrar em crise com redução da capacidade de produção e do quadro de funcionários, o que achataria o Produto Interno Bruto (PIB) da região de Campinas e do Brasil como um todo.
Você está contratando uma recessão para essa economia, vai colocar o pé no freio e aquele trabalhador que só ia comer o tomate mais caro não vai ter nem mais um emprego para comprar o tomate
Eliane Navarro Rosandiski
Reprodução/EPTV
À época do anúncio do aumento da taxa de juros, o presidente do Sebrae, Décio Lima, avaliou que a escalada da taxa Selic impacta diretamente “os investimentos das empresas, principalmente dos pequenos negócios”
Segundo ele, uma economia “não é feita só de números, mas de comportamento”. “É preciso prestar muita atenção aos sinais do mercado, no aquecimento das vendas e na queda do preço de produtos e serviços para fazer uma decisão justa para a população brasileira”, concluiu o dirigente.
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