Amazonas teve ano de colapso ambiental, com seca extrema e mais de 25 mil focos de queimadas


Repetição do cenário vivido em 2023 é um alerta para o que pode se tornar cada vez mais comum nos próximos anos na região. Amazonas tem ano marcado por colapso ambiental com seca recorde e mais de 25 mil queimadas.
Alexandro Pereira/Rede Amazônica
O Amazonas enfrentou um colapso ambiental histórico em 2024. O estado sofreu com uma seca extrema pelo segundo ano consecutivo e registrou mais de 25 mil queimadas, o pior número em 26 anos.
A repetição do cenário vivido em 2023 é um alerta para o que pode se tornar cada vez mais comum nos próximos anos na região.
Seca extrema
Pescador atravessa lago cercado de jacarés durante a seca no Amazonas
O Rio Negro, rio que banha a capital Manaus, chegou a 12,11 metros neste ano, o ponto mais baixo em mais de 120 anos de medições. A situação alterou o visual do Encontro das Águas e levou a prefeitura a fechar a Praia da Ponta Negra, o principal balneário da cidade.
Com a seca, surgiram bancos de areia na orla, afastando embarcações do ponto tradicional de atracação próximo à via pública.
Na Marina do Davi, ponto de partida de pequenas embarcações para as comunidades que ficam no entorno da capital, a situação ficou difícil. Durante a pior fase da seca, moradores que vivem no local precisavam enfrentar mais de 2h para chegar em casa.
Na Praia Dourada, onde existem diversos flutuantes de recreio, o rio deu lugar a um mar de lama e o cenário foi de completo abandono. Banhistas e donos de barcos e flutuantes deixaram o local.
No Lago do Puraquequara, o que era um braço do Rio Negro virou terra. A situação foi a mesma na vizinha Colônia Antônia Aleixo, onde o Lago do Aleixo secou e se transformou em um filete de água.
No Porto da Capital, bancos de areia surgiram no meio do rio, forçando as embarcações a se afastarem e ficando cada vez mais longe do local onde costumavam atracar, próximo à pista.
Situação semelhante na Orla do Educandos. No entanto, por lá, o rio deu lugar a um mar de lixo que, comumente, é despejado nas águas e que ficou no local por conta da vazante.
A baixa do rio também afetou a logística do Polo Industrial de Manaus, onde empresas precisaram instalar um píer flutuante em Itacoatiara para facilitar o recebimento de insumos e o envio de mercadorias. De lá, os cargueiros descarregavam os contêineres em balsas, cujo calado é menor. De lá, as embarcações seguiam para Manaus.
Em todo o Amazonas, segundo o Governo do Estado, mais de 800 mil pessoas foram impactadas pela estiagem – o maior número em toda a história.
Em Envira, no interior do estado, a seca atrasou a entrega de oxigênio e medicamentos. O preço dos alimentos também disparou e comunidades ficaram isoladas por conta do fenômeno. O prejuízo causado pela seca, em todo o estado, foi de mais de R$ 600 milhões.
A seca também potencializou o fenômeno das terras caídas. Em Manacapuru, Região Metropolitana de Manaus, duas pessoas morreram no desmoronamento de um porto na orla do município.
Queimadas recordes
Dados do Instituto Nacional Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que só neste ano foram mais de 25 mil queimadas – o maior número desde 1998, quando o órgão começou a monitorar o avanço do fogo na Amazônia.
Mais de 90% do total de queimadas registradas no estado só em 2024 ocorreram no terceiro trimestre do ano.
O estado entrou em emergência ambiental por conta das queimadas. O problema também gerou uma onda de fumaça que atingiu todas as 62 cidades amazonenses, incluindo a capital Manaus.
Uma mancha de fogo com mais 500 quilômetros de extensão e mais de 400 quilômetros de largura pairou sobre a Amazônia, conforme captado pelo satélite europeu Copernicus. O fenômeno cobriu pelo menos seis estados da Amazônia Legal, dentre eles, o Amazonas.
O avanço das queimadas no Amazonas fez com que Manaus vivesse, mais uma vez, uma “onda” de fumaça, que tornou a qualidade do ar péssima, segundo o Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental (Selva). O vento, inclusive, levou as partículas de fumaça para São Paulo e para a região Sul do país.
Para o Ibama, o problema foi causado, novamente, pelos pecuaristas, que queimam a floresta para transformar em pasto para o gado.
A chegada da temporada de chuvas no estado vai ajudar a minimizar os efeitos da seca severa e das queimadas. No entanto, os cenários que se desencadeiam para o futuro parecem continuar querendo repetir o caos climático já enfrentado pelos amazonenses em 2023 e agora em 2024.
Amazonas atinge recorde histórico de queimadas
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