Patrimônio de Minas: conheça a comunidade centenária dos Arturos, símbolo de resistência dos povos originários


Os Arturos vivem em Contagem, na Grande BH, e são parte viva da história dos negros e negras escravizados no país. Nela, vivem hoje 597 pessoas, divididas entre 230 famílias. Comunidade quilombola dos Arturos é uma das mais antigas do país
Luci Sallum
.Além disso, os benzedeiros e benzedeiras dos Arturos também fazem rezadas para moradores de fora da comunidade, como forma de repassar as dádivas recebidas mcrenças.
Uma das mais antigas comunidades quilombolas do país, símbolo da cultura afrodescendente mineira, está abrigada no bairro Vera Cruz, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A Comunidade dos Arturos é patrimônio cultural imaterial de Minas Gerais, e sua história começou há mais de um século, no ano de 1885.
A comunidade é composta pela sexta geração de descendentes dos povos originários do Brasil, um pedaço vivo da história dos negros e negras escravizados no país. Nela, vivem 597 pessoas, divididas entre as 230 famílias.
Um dos compromissos dos Arturos é não permitir que o passado sombrio do período de escravidão seja esquecido, além de manter intactas as tradições e memórias da ancestralidade das famílias que chegaram ao país após os mais de 300 anos de sequestro cultural.
Entre as celebrações dos Arturos estão:
o Batuque (reconhecido como forma de expressão artística pelo Ministério da Cultura, que nomeou Dona Conceição Natalícia como mestre no batuque),
a festa da capina, chamada de “João do Mato”
a Folia de Reis
a Festa da Abolição da Escravatura
o Reinaldo de Nossa Senhora do Rosário, também conhecida como Congado
Eles também formam o grupo artístico Arturos Filhos de Zambi (deus dos negros da nação banto) que trabalha percussão, dança afro e teatro em torno da história do povo negros.
Além disso, os benzedeiros e benzedeiras dos Arturos também fazem rezadas para moradores de fora da comunidade, como forma de repassar as dádivas recebidas em suas crenças.
E são os membros e anciãos da comunidade que ficam encarregados de transferirem conhecimento, costumes e cultura afrodescendente aos mais jovens da geração. Mas para saber para onde chegaram, é necessário, antes, saber de onde vieram.
História
Comunidade dos Arturos
Lúcio Dias/Acervo Iepha-MG
📌A comunidade negra descende de Camilo Silvério da Silva, um dos escravizados que chegou ao Brasil em meados do século XIX, quando ainda existia o grande tráfico de africanos para vários países.
📌Camilo foi trazido a Minas Gerais para trabalhar em um povoado na Mata do Macuco, onde hoje é o município de Esmeraldas.
📌Ele se casou com Felismiba Rita Cândida, também escravizada. Do casamento, nasceram seis filhos, entre eles, Artur Camilo Silvério, que seria homenageado pela comunidade que passou a se chamar dos “Arturos”.
📌No ano que Camilo foi alforriado, em 1888, ele fez doações em espécie para Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, na cidade Contagem, onde comprou um terreno na região.
📌A área seria, posteriormente, moradia das famílias descendentes de Camilo. Mas foi só na década de 50 que as famílias migraram para lá.
📌O homenageado Artur Camilo nasceu em 1885, pouco antes da abolição da escravidão. E o ano de criação da comunidade leva em conta o nascimento e nome de Artur, que foi considerado pelos seus familiares como o filho de Camilo que mais prosperou.
Patrimônio
Comunidade dos Arturos
Luci Sallum
Em 2004, a comunidade foi reconhecida como comunidade quilombola no Dossiê de Registro do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG).
Em maio de 2014, a Festa de Nossa Senhora do Rosário da Comunidade dos Arturos foi declarada patrimônio cultural imaterial de Minas Gerais. De acordo com o Iepha-MG esse foi o primeiro registro de patrimônio cultural imaterial de uma comunidade tradicional dentro da categoria de lugares.
Para o membro Jorge Antônio, diretor social da Nossa Senhora do Rosário, uma das manifestações dos Arturos, esses reconhecimentos vieram como forma de garantia de direitos e proteção aos costumes da comunidade.
“A comunidade já vinha resistindo a todas as opressões do racismo, discriminação e enfrentando as dificuldades, até que surgiram leis de reparação aos danos causados ao povo negro. Reconheceram nossa comunidade como quilombo e fomos reconhecidos como patrimônio histórico”, disse Jorge Antônio ao g1.
Patriarca da Comunidade Quilombola dos Arturos, em Contagem, morre de Covid-19
Jorge é casado com uma das netas de Artur, com quem teve três filhos e se tornou avô de quatro netos. Capitão da Guarda de Moçambique dos Arturos, ele também coordena o grupo artístico Arturos Filhos de Zambi, além de ser mestre em percussão.
Pela sua experiência na música, Jorge também deve receber o título de Notório Saber da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), um reconhecimento acadêmica em nível para detentores de saberes de tradições indígenas, afro-brasileiras, quilombolas e outras oriundas das culturas populares.
“Depois de tantos anos, a comunidade conseguiu avanços, mas ainda está muito aquém do que deveria ser. O país ainda tem uma dívida muito grande para com o povo negro. Hoje, tudo o que temos é fruto da luta e resistência de um povo, mas esse povo ainda tem muito a conquistar.”, afirmou.
Comunidade dos Arturos
Luci Sallum
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