Economia pesou no apoio de imigrantes valadarenses à eleição de Donald Trump, nos EUA


Candidato republicano, venceu em 28 estados, conquistando 292 dos 270 delegados de que precisava para chegar à presidência.  Kamala Harris e Donald Trump
BBC
Não é de hoje que Governador Valadares tem uma relação com os Estados Unidos. A imigração para o país norte-americano começou ainda na década de 1960. Quase 70 anos desse movimento de vaivém da população renderam à cidade a fama de “exportadora” de pessoas em busca do sonho americano.
Com tantos “filhos” espalhados nos EUA, não é de se assustar que as eleições naquele país sejam assunto em Valadares. Donald Trump e Kamala Harris tiveram outdoors de apoio espalhados pela cidade, expondo a preferência de alguns moradores da maior cidade do Leste de Minas.
Outdoor de Kamala e Trump em Governador Valadares
Inter TV dos Vales
Pós-corrida, veio o resultado: Trump venceu em 28 estados, conquistando 292 delegados. Kamala venceu em 19 e conquistou 224 delegados. Para ser eleito, era preciso conseguir 270 delegados.
Um dos 28 estados onde Trump venceu é a Flórida, com aproximadamente 300 mil imigrantes brasileiros. E é lá que mora o valadarense Rodrigo Rena. Nos EUA desde 1998, o imigrante já tem documentos e é um cidadão americano, o que lhe deu o direito de votar para presidente neste ano.
O voto no republicano veio principalmente pelo quesito economia. Rodrigo, que hoje é comerciante, diz que na época em que Trump foi presidente a inflação era menor, os preços também e o dólar era mais valorizado.
“Não tinha como não votar em Donald Trump. Nossa economia não vai bem e a gente precisa de melhores condições de vida, ter poder de compra. No governo Biden, a economia piorou muito, tudo ficou mais difícil. Então, acho que a América venceu elegendo Trump”, disse Rodrigo.
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Sobre o tema imigração e uma possível deportação em massa, o valadarense disse que não acredita que vai acontecer.
“A mão de obra dos imigrantes é valiosa aqui nos Estados Unidos. Acredito que pode até ter algum tipo de controle de fronteira ou algo assim, mas deportação em massa eu não acredito, até porque ele não conseguiria fazer isso sozinho”, explicou o valadarense.
Kamala discursa após derrota
Saul Loeb/AFP
Kamala venceu em Massachusetts, estado que tem a segunda maior comunidade de brasileiros, aproximadamente 420 mil. A democrata conquistou os 11 delegados na corrida presidencial dos Estados Unidos. 
Este foi o destino da viagem para visitar parentes do jornalista valadarense Fábio Monteiro. Ele estava no Brasil na maior parte da corrida presidencial, e foi para Malden, região de Boston, no dia 29 de outubro. Ele acompanhou de perto os dias que antecederam a votação e pós, com vitória de Trump. 
O jornalista contou que, no dia da votação, viu eleitores de Kamala com cartazes e camisetas. Viu também materiais de campanha da democrata, além de bandeiras e adesivos de Trump e da vice-presidente, pelas casas. Ele disse que não percebeu manifestações políticas mais efusivas de imigrantes na região onde está. 
“Não vi muita movimentação entre os brasileiros que eu conheço. Até porque, são muitos ilegais, e ilegal não vota. Acho que acaba que essa movimentação de brasileiros fica mais em rede social. E essa questão de escolha entre Trump e Kamala, de brasileiro que não vota ou brasileiro que está no Brasil, tem muito da mania que tomou conta das redes sociais, de todo mundo sentir a necessidade de opinar e se posicionar sobre tudo, mesmo que não domine o assunto. Algumas pessoas se apegam a uma parte do discurso que é o foco do candidato e não se atentam ao programa de governo como um todo”, disse Fábio
Imigrantes em Massachusetts
Malden, Massachusets, Estados Unidos
Fábio Monteiro
Morador de Massachusetts há 17 anos, o capixaba Raphael Borges, de 40 anos, morou em Valadares, onde se casou e se mudou com a esposa para a região de Boston. Hoje, com o Green Card, é residente permanente nos EUA, mas ainda não possui cidadania e por isso não vota. Ele acredita que a população foi a favor de Trump por pontos negativos do governo Biden, que acabaram pesando contra a democrata. 
“Minha opinião, como imigrante, é que a população foi a favor do Trump por falta de um candidato melhor.” Porque Kamala infelizmente pagou o preço, como vice-presidente, de todos os erros e os descasos da administração atual de Joe Biden na economia, imigração, etc. Hoje, a maior reclamação dos americanos é a economia. Tudo está muito caro, praticamente o dobro do que há 4 anos. E a insegurança nas fronteiras, os narcos usando dessa fragilidade nas fronteiras… então, como aqui eles são muito patriotas, compraram o discurso dele. Que ele vai devolver a dignidade de todos em todas as áreas, mas principalmente na questão imigratória”, explicou Raphael.
Sobre a deportação em massa, o project manager, o que no Brasil equivale a um gerente de projetos, disse que há um certo receio dos imigrantes. 
“Estamos todos com um certo receio com isso porque agora eles (republicanos) são maioria na câmara e no senado, mas acho que não vai ter essa deportação em massa como ele diz”, finalizou.
Donald Trump em discurso após a eleição de 2024.
Jim WATSON / AFP
Eleitora com voto declarado em Donald Trump, a valadarense Sory DeOliveira, de 46 anos, foi para os EUA em 1998 e se tornou cidadã americana em 2004. Hoje, trabalha como corretora de imóveis e mora em Stoneham, Massachusetts. Ela diz que a economia foi o fator decisivo para a vitória do ex-presidente. 
“Para a economia do país, votar no Trump foi a melhor opção. Depois da vitória, a bolsa de valores “explodiu”. Meu telefone estava “louco”, eu tinha dois clientes querendo comprar casas e agora, as pessoas que não tinham condição têm porque os juros abaixam. Para a economia, isso é muito bom”, disse Sory.
Placa de apoio a Donald Trump em Malden, Massachusets
Fábio Monteiro
Sobre a deportação em massa, a corretora compartilhou o sentimento de descrença dos conterrâneos. Ela não acredita que vai acontecer. 
“Ele prometeu isso também da última vez.” Não depende só dele para deportar. Ele é contra os imigrantes. Trump foi casado quatro vezes. Três das quatro mulheres dele são de outro país. A Melânia é de outro país. Então, deportação em massa vai ser muito difícil”, explicou a brasileira.
Interesse em Governador Valadares e fora pela eleição americana
O interesse com a eleição tem a ver, segundo a pesquisadora e professora da Univale Suely Siqueira, com o movimento migratório da cidade..
“Nós temos que compreender a experiência a partir de uma história da migração na região. São mais de 60 anos de fulho migratório, não é pouco tempo, é uma história que a cidade tem em relação a esse movimento de brasileiros, valadarenses, quando eu falo valadarenses, eu tô falando da região geográfica intermediária de Governador Valadares, que são mais de 50 cidades”, explicou Suely.
“Um outro ponto importante que a gente não pode esquecer quando pensa nesse movimento migratório e nesse interesse pelas eleições americanas, é a presença na nossa região das famílias transnacionais, até a família nuclear, que parte vivem aqui no Brasil, na região e parte vive nos EUA. Então alguns que são documentados podem fazer o movimento de ir e vir e outros não. Então essa presença das famílias transnacionais leva a esse interesse, quem é que ganha, qual é a interferência desse novo presidente na vida dos que vivem lá e consequentemente os que estão aqui”.
A chegada de novos imigrantes é um ponto para a pesquisadora que influencia na escolha de Trump.
“Aqueles que apoiam Trump, geralmente, a gente pode perceber nos dados, que geralmente são aqueles que já são documentados. Nesse sentido, eles têm receio que mais imigrantes cheguem lá e tirem deles esse status que eles lutaram e conseguiram. Eles tem receio que chegada desses novos que podem desestabilizar o status deles lá “, disse a pesquisadora.
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