Túmulo com ossadas de 76 crianças sacrificadas é achado em escavação: ‘Todas com peito aberto’

Cientistas encontraram em Pampa La Cruz, no Peru, um túmulo de aproximadamente 700 anos contendo restos mortais de 76 crianças e dois adultos. Todos estavam com indícios de ferimentos no peito e estima-se que tenham sido sacrificados.

Túmulo das crianças sacrificadas

Túmulo das crianças sacrificadas encontradas no Peru – Foto: Reprodução/Gabriel Prieto/ND

O sítio arqueológico fica perto da cidade costeira de Trujillo, no noroeste do Peru, local conectado aos Chimú, uma grande civilização que prosperou na região entre os séculos 12 e 15. Eles são anteriores aos Incas e conhecidos por suas obras de arte e tecidos.

Conforme a revista Live Science, as crianças sacrificadas estavam nuas, mas suas roupas foram enterradas próximas a elas. Seus peitos foram cortados desde a clavícula até o esterno, osso localizado na parte anterior do tórax.

Suas costelas foram forçadas para abrir, possivelmente para que quem tenha feito o sacrifício, tivesse acesso ao coração das vítimas.

Dentro do monte onde estavam enterradas as crianças, que mede 60 metros de largura e 20 de altura, os pesquisadores também encontraram quadrados de prata e cobre que podem ter sido costurados nas roupas das crianças, assim como brincos e conchas de Spondylus, conhecidas no Brasil como “concha-espinho”.

O professor assistente de antropologia na Universidade da Flórida, Gabriel Prieto, que dirige as escavações em Pampa La Cruz, afirmou que as conchas-espinho eram “mais valiosas que ouro para essas pessoas”.

Elas só podiam ser encontradas ao norte, região que era dominada pela civilização Lambayeque, composta por metalúrgicos experientes.

Conchas-espinho que foram encontradas perto das crianças sacrificadas

Conchas-espinho foram encontradas perto das crianças sacrificadas – Foto: Reprodução/Gabriel Prieto/ND

Crianças sacrificadas podem ter sido escravizadas

A presença das conchas sugere que as crianças sacrificadas possam ser de origem Lambayeque, mesmo que em território Chimú.

Outra pista que embasa a teoria foi que em uma descoberta mais antiga, de 2022, quando os corpos de 76 crianças foram encontradas na região, as vítimas tinham modificações cranianas.

Os Lambayeque tinham o costume de usar tábuas e faixas nas cabeças das crianças para que elas ficassem com a cabeça alongada. Essa prática também era feita pelos Chimú, mas em um grau menos extremo de modificação, disse Prieto ao Live Science.

A combinação de modificação craniana com as conchas levou os pesquisadores a investigar mais a fundo as origens das vítimas. A equipe examinou isótopos e outras informações biológicas dos restos mortais e descobriram que as dietas dessas das vítimas correspondiam à região de Lambayeque.

Arte do povo Chimú

O povo Chimú gostava de colecionar arte – Foto: Reprodução/ND

Com base nessas informações, os pesquisadores acreditam que as crianças sacrificadas e suas famílias podem ter sido conquistadas pelos Chimú e levadas para Pampa la Cruz para construir sistemas de irrigação.

Segundo Pietro, os Chimú estavam expandindo sua agricultura para áreas mais áridas e eles precisavam de sistemas de irrigação complexos para cultivar os alimentos. Uma vez que esses canais de irrigação foram concluídos, as crianças provavelmente foram sacrificadas para fortalecer a terra.

“O enterro das crianças neste monte foi possivelmente uma oferenda para energizar os campos. Na cosmologia andina, os mortos se tornam ancestrais, e os ancestrais legitimam os direitos à terra, e justificam e apoiam os sistemas que mantêm a terra produzindo”, afirmou o pesquisador.

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