Civis ucranianos perto do front se preparam para enfrentar um inverno rigoroso

Yuri posa ao lado de sua bicicleta em frente a um edifício residencial seriamente danificado em Lyman, leste da Ucrânia, em 24 de outubro de 2024Genya Savilov

Genya SAVILOV

Com uma manta grossa e dois aquecedores elétricos, Volodimir se sentia preparado para enfrentar em casa o rigoroso inverno ucraniano apesar da destruição provocada pela Rússia à infraestrutura energética do país.

Mas uma bomba russa atingiu seu apartamento da era soviética em Lyman, leste da Ucrânia. As janelas voaram pelos ares, as paredes racharam e um dos radiadores quebrou.

Apesar destes danos e do período gelado que se anuncia para as próximas semanas, este homem barbudo e afável de 57 anos não pensa em deixar seu apartamento, agora coberto de fuligem.

“Isto não é nada. Sobreviveremos. Vamos consertá-lo”, afirma com otimismo à AFP. “O essencial para mim agora é consertar as janelas e ligar os aquecedores”.

Este ano, centenas de ataques com drones e mísseis russos contra a rede elétrica ucraniana inutilizaram metade da capacidade de geração de energia do país.

Embora o outono tenha sido ameno, o inverno se anuncia como o mais rigoroso desde o início da invasão iniciada por Moscou em 24 de fevereiro de 2022.

– Expostos às bombas –

Em cidades e povoados próximos do front oriental, onde o inimigo avança mais rapidamente, os combates devastaram as infraestruturas.

Mas os moradores que decidiram ficar garantem que conseguiriam suportar os próximos meses gelados, inclusive se o exército russo continuar se aproximando.

“Todos nos preparamos para o inverno. Sobrevivemos dois anos e vamos sobreviver ao terceiro, não se preocupem”, afirma à AFP Yuri, um morador de Lyman de 71 anos.

Sua cidade natal, a 15 km do front, já esteve ocupada pela Rússia entre março e setembro de 2022.

Atualmente, restam cerca de 8.000 pessoas, segundo a Prefeitura. Antes da guerra eram cerca de 20.000 habitantes.

A cidade não passa de uma sombra do que foi e alguns de seus moradores optaram por morar em porões.

Viktor Krupko habilitou o porão de sua casa para se proteger do frio e dos projéteis.

“Tem cortinas, uma cozinha, calefação, está tudo lá”, diz o septuagenário.

Assustada, sua esposa já vivia no porão há meses. Quando um projétil russo atingiu seu apartamento, Viktor decidiu se juntar a ela.

Mas se a eletricidade do porão for cortada e ficarem sem calefação, ele afirma que vai voltar ao seu apartamento para se abrigar ali e ligar a estufa.

“É impossível trazê-la para cá porque não posso ligá-la”, explica. “Não há onde colocá-la, nem onde pôr a chaminé”, acrescenta.

– “Vou morrer aqui” –

Vadim Filashkin, governador da região de Donetsk onde fica Lyman, avalia que mais de 130 localidades desta zona industrial não terão eletricidade neste inverno.

Segundo ele, apenas três grandes cidades de Donetsk contarão com calefação municipal: Kramatorsk, Sloviansk e Dobropilia, três pontos importantes para a logística militar da Ucrânia.

Nem esta escassez, nem os avanços russos, nem o inverno, nem o AVC que sua esposa sofreu convencem Viktor Krupko a deixar Lyman.

O casal não pensa em se juntar à sua filha, radicada na Polônia, porque não poderia “comprar nada lá” com sua magra aposentadoria, explica Viktor.

Volodimir está ainda mais decidido: “Não vou a lugar nenhum. Nasci aqui e vou morrer aqui”.

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