Por que o presidente dos EUA é sempre um democrata ou um republicano?


Desde o século 19, apenas democratas e republicanos têm governado o país. Bipartidarismo norte-americano é fruto de uma combinação de fatores históricos, culturais e estruturais. Donald Trump e Kamala Harris disputam a eleição presidencial dos EUA
REUTERS/Jonathan Drake e Kevin Lamarque
Há mais de 170 anos, apenas dois partidos se revezam na Presidência dos Estados Unidos: o Democrata e o Republicano. Apesar de existirem outras legendas no país, elas não têm força para ameaçar essa hegemonia.
O motivo por trás disso é uma combinação de fatores, o que faz com que, na prática, os eleitores prefiram apoiar candidatos com chances reais de vencer, deixando de lado políticos de partidos menores.
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O modelo atual dos EUA é conhecido como bipartidarismo. Isso significa que os democratas e os republicanos dividem o poder e se alternam no governo.
Kamala Harris e Donald Trump disputam a eleição presidencial deste ano. Se Kamala vencer, ela será a 17ª democrata presidente e manterá o partido no governo.
Por outro lado, se o resultado for favorável aos republicanos, haverá uma alternância com o retorno de Donald Trump — que já foi presidente entre 2017 e 2021. Ao todo, 19 membros do partido dele governaram o país ao longo da história.
Neste ano, também concorrem à Presidência Chase Oliver, do Partido Libertário, e Jill Stein, do Partido Verde. Além disso, Cornel West possui uma candidatura independente. No entanto, nenhum deles tem força para ser eleito e quase não são citados em pesquisas.
A última vez que um candidato de outro partido foi eleito presidente dos Estados Unidos aconteceu em 1848, quando Zachary Taylor venceu pelo extinto “Partido Whig”.
Quando Taylor morreu, em 1850, o vice Millard Fillmore, também do Partido Whig, assumiu a presidência. Na eleição seguinte, de 1852, um democrata foi eleito. Desde então, apenas democratas e republicanos se alternaram no cargo.
Mas por que será que candidatos de outros partidos não têm força? Resumidamente, isso acontece por uma combinação de três fatores:
eleição indireta;
votação por maioria simples sem segundo turno;
autonomia de cada estado.
1 – Eleição indireta
Diferentemente do Brasil, a eleição presidencial nos Estados Unidos é indireta. Os eleitores participam da votação e têm um papel fundamental. No entanto, esses votos são direcionados para delegados que compõem um Colégio Eleitoral e irão escolher o próximo presidente de fato.
O sistema do Colégio Eleitoral está na Constituição dos Estados Unidos e existe para tentar balancear os interesses dos estados grandes e pequenos. Veja a seguir como ele funciona:
Delegados: cada estado norte-americano tem um número de delegados, que varia de acordo com o tamanho da população e do número de parlamentares na Câmara e no Senado. A Califórnia, por exemplo, tem 54 delegados na eleição presidencial, enquanto o Texas tem 40.
Eleitores: os eleitores de todos os 50 estados norte-americanos, além do Distrito de Colúmbia (onde fica a capital federal, Washington), votam para escolher o presidente. No entanto, essa votação serve para que a população indique aos delegados daquele estado quem eles querem que seja o próximo governante.
Vencedor leva tudo: com exceção do Maine e do Nebraska, que possuem divisões internas, o candidato mais votado de cada estado leva todos os delegados daquela área — mesmo que a vitória seja apenas por um voto de diferença.
Presidente eleito: Para vencer a eleição, o candidato à Presidência precisa ganhar 270 dos 538 delegados que compõem o Colégio Eleitoral. A reunião do colégio acontece semanas após as eleições. Em regra geral, os delegados costumam atender o desejo da população e votar no vencedor do estado.
Neste cenário, os dois partidos maiores possuem mais chances de conquistar delegados em múltiplos estados e vencer as eleições.
2 – Turno único
No livro “Os Partidos Políticos” (1951), o sociólogo francês Maurice Duverger argumenta que o sistema de votação de um país é fundamental para definir se ele será bipartidário ou multipartidário — como é o caso do Brasil.
A análise do sociólogo sobre a relação entre o sistema eleitoral e a estrutura dos partidos se tornou conhecida como as “Lei de Duverger”, sendo aplicada em diferentes contextos políticos.
No Brasil, por exemplo, o sistema proporcional de representação no Congresso, nas Assembleias e nas Câmaras contribui para a pluralidade de partidos, resultando em uma democracia multipartidária. Além disso, o país tem regras para dois turnos em eleições presidenciais e para governador.
Para Duverger, a votação por maioria simples em um único turno, principalmente na eleição presidencial, é uma das razões históricas para a consolidação do bipartidarismo nos Estados Unidos.
Isso acontece porque, em sistemas bipartidários, há uma tendência natural de eliminar partidos menores. Dessa forma, os eleitores acabam concentrando seus votos em duas opções diferentes, com maior chance de vitória.
Esse fenômeno é conhecido como “voto estratégico”, onde os eleitores preferem apoiar candidatos com chances reais de vencer, deixando de lado políticos de partidos menores. Esse tipo de estratégia favorece a polarização.
Nos Estados Unidos, a longa tradição do bipartidarismo também é influenciada por fatores culturais e históricos, que acabaram consolidando os democratas e republicanos no governo.
VÍDEOS
3 – Estados autônomos
Nos Estados Unidos, cada estado tem regras diferentes para a realização das eleições. Ou seja, contando com o Distrito de Colúmbia, são 51 conjuntos de normas.
Neste contexto, para competir em uma eleição presidencial, o candidato de um partido precisa ter o cuidado de cumprir todas as regras de cada estado para ter seu nome nas urnas.
Além disso, com a eleição “espalhada” pelo país, fica mais difícil arrecadar dinheiro para as campanhas eleitorais. Sendo assim, é mais fácil competir por um partido grande, que já possui doadores tradicionais e estruturas fortes em todos os estados.
Como funcionam as eleições nos Estados Unidos
arte/g1
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