Ibovespa fecha em queda com dados do EUA e risco fical no radar

Segundo análise de Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, O Ibovespa caiu hoje devido à frustração dos investidores com a ausência de novidades sobre o plano de cortes de gastos do governo federal. A expectativa de um atraso na divulgação do pacote fiscal gera um clima de insegurança, especialmente com a viagem do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o que aumenta a desconfiança no mercado. Além disso, o dólar ultrapassou a marca de R$ 5,80, elevando os juros futuros e contribuindo para a cautela no índice. A queda de hoje, que leva o Ibovespa a flertar com os 128 mil pontos, reflete também a saída de recursos estrangeiros da B3, já somando R$ 2,195 bilhões em outubro.

Enquanto isso, os índices de ações dos EUA estão em alta após um payroll decepcionante, mas isso não se traduz em otimismo no Brasil. Sem definições claras sobre o plano fiscal, o mercado deve permanecer cauteloso, e o dia de hoje evidencia como a falta de ações concretas no cenário doméstico pode impactar negativamente o desempenho do Ibovespa. O aumento do dólar e dos juros futuros reflete uma confluência de incertezas que afetam tanto o Brasil quanto o cenário internacional. A falta de um pacote claro de cortes de gastos do governo Lula gera pessimismo entre os investidores, que buscam segurança em ativos mais estáveis, como o dólar.

Além disso, a instabilidade política nos EUA, somada a sinais de desaceleração econômica—como a criação de apenas 12 mil empregos em outubro—faz com que o mercado adote um tom mais cauteloso, aumentando a demanda por hedge cambial. A alta das Treasuries também torna o dólar mais atrativo em relação a outras moedas. No Brasil, a demora em anunciar medidas fiscais concretas, agravada pela notícia de que o ministro da Fazenda estará na Europa, leva a uma expectativa de que a Selic possa alcançar 13,75% até o fim do ciclo de aperto, com um aumento de 50 ou 75 pontos-base nas próximas reuniões do Copom.

A incerteza fiscal e a preocupação com a credibilidade do governo em implementar cortes robustos alimentam a pressão sobre os juros. Em resumo, o clima de insegurança tanto local quanto global está impulsionando a valorização do dólar e a elevação das taxas de juros futuras. Entre as quedas de hoje, estão ações de empresas cíclicas, aquelas mais sensíveis ao ciclo econômico como construtoras e varejistas. Em destaque estão Magazine Luiza (-6,50%), Azul (-5,50%) e Hapvida (-4,83%).

As ações da Azul, por exemplo, lideram as perdas com uma queda refletindo o rebaixamento dos ratings de crédito da empresa pela Fitch e S&P. Esse rebaixamento é consequência da reestruturação financeira da companhia, um movimento que tem gerado forte volatilidade. A S&P destacou que o acordo recente da Azul com detentores de títulos, que envolve trocas de dívida, pode ser visto como equivalente a um default, o que intensifica a pressão sobre o papel.

Entre as altas, Eztec destacou-se com um salto após reportar um lucro líquido de R$ 132,6 milhões no terceiro trimestre, o que representa um impressionante aumento de 239% em relação ao ano anterior. Esse desempenho sólido atraiu investidores e contribuiu significativamente para a valorização da ação. Hypera também figurou entre os maiores ganhos. A ação recupera parte das perdas do dia anterior, quando caiu 8,29% devido à retirada da combinação de negócios proposta pela EMS. A recuperação de hoje sugere que os investidores estão aproveitando a oportunidade de compra após a correção recente.

São Martinho avançou impulsionada pela atualização do Morgan Stanley, que elevou suas ações de underweight (equivalente a venda) para equal-weight (neutro). O banco acredita que os papéis têm potencial para se recuperar, especialmente após resultados positivos em setembro. Na minha opinião, tivemos uma semana agitada em que os ativos globais mostraram alta volatilidade devido a divulgações importantes sobre o mercado de trabalho. O relatório JOLTS, que mede a criação de vagas na economia norte-americana, apresentou resultados abaixo do esperado, indicando um enfraquecimento no dinamismo do mercado de trabalho e aumento nas demissões. Em contraste, o relatório ADP, que acompanha a criação de empregos no setor privado, veio mais forte do que o previsto, direcionando as atenções do mercado para o Payroll.

No entanto, o Payroll de outubro decepcionou ao mostrar a criação de apenas 12 mil empregos, muito aquém da expectativa de 100 mil. Esse número reflete, em parte, os efeitos do furacão que atingiu o sul do país e as greves portuárias, que, segundo o Bureau of Labor Statistics (BLS), impactaram negativamente a criação de 44 mil empregos. A composição do dado também foi desfavorável, com o setor privado registrando perda de 38 mil postos, compensados pela criação de 40 mil empregos no setor público. Além disso, o PIB do 3º trimestre, embora ligeiramente abaixo do esperado (2,8% QoQ SAAR; est: 2,9% QoQ SAAR), mostrou que o consumo privado manteve-se resiliente. Apesar da volatilidade, o dólar enfraqueceu na comparação semanal.

No Brasil, a falta de clareza sobre os cortes de despesas pelo Governo Federal está deixando o mercado em alerta. O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, evitou comprometer-se com um número específico, o que só aumenta a incerteza. Enquanto isso, os dados de mercado de trabalho mostram uma resiliência surpreendente. O CAGED de setembro registrou a criação de 247 mil postos de trabalho, superando as expectativas de 220 mil, e a taxa de desemprego caiu de 6,6% para 6,4%, com pressões salariais persistentes.

Essa ausência de clareza sobre os cortes de gastos, combinada com sinais de aquecimento do mercado de trabalho, está resultando em um desempenho inferior do real em comparação com outras moedas. É um cenário que reflete a falta de confiança do mercado na capacidade do governo de implementar medidas fiscais eficazes.

Confira aqui os dados de fechamento do mercado e demais índices:

  • Ibovespa: 128.120,75 (-1,23%)
  • S&P 500: 5.728,91 (+0,41%)
  • Nasdaq: 18.239,92 (+0,80%)
  • Dow Jones: 42.051,80 (+0,69%)
  • Dólar: R$ 5,86 (+1,53%)
  • Euro: R$ 6,36 (+1,14%)

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