De ambulante à referência da culinária vegana: como chef conquistou antro ‘gourmet’ em SP com restaurante comandado por mulheres


No Dia Mundial do Veganismo, celebrado nesta sexta-feira (1º), conheça a história da chef Kamili Picoli, de Votorantim (SP), responsável por um dos restaurantes especializados em culinária vegana mais renomados de SP. Kamili Picoli, de Votorantim (SP), conta que conheceu o veganismo aos 16 anos
Kamili Picoli/Arquivo pessoal
Além de técnica, tempero e fogo, do que é feito um alimento? Para a chef Kamili Picoli, referência da culinária vegana no Brasil, os pratos manifestam a narrativa de quem os preparou. No Dia Mundial do Veganismo, celebrado nesta sexta-feira (1º), conheça a história por trás de um dos restaurantes veganos mais renomados de São Paulo.
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Nascida em Votorantim (SP), a história da chef com a culinária começou ainda na infância. Filha de pai solo, Kamili se aventurava na bancada da cozinha desde os sete anos. “Gostava de entrar na cozinha e já fazia alguns preparos simples. Desde então, fui só aumentando meu repertório”, comenta.
Por coincidência ou destino, a pequena Kamili esbarrou no veganismo aos 11 anos, mesmo sem saber nada sobre o movimento. “Eu já não comia carne de porco e boi. Na infância comia só peixe, frutos do mar e um pouco de frango, às vezes. Não consumia laticínios e nunca gostei de ovos. Aos 11, decidi que não queria mais comer nenhum produto de origem animal.”
Com a chegada da adolescência, a dieta virou consciência política, continua a chef. “Aos 14, 15 anos entendi o que estava fazendo, que tinha um nome pra isso que significava muito mais do que apenas ser vegetariana (…) e foi nesse ponto que entrei de cabeça como parte desse movimento.”
Filha de pai solo, a história de Kamili com a culinária começou ainda na infância
Kamili Picoli/Arquivo pessoal
Venda de casa em casa, jantares secretos e restaurante
Após a morte do pai, Kamili foi morar no Coletivo Fora de Eixo, em Sorocaba (SP). Na época, ela tinha 16 anos e descobriu a cozinha além da improvisação.
“Pela primeira vez passei a ter contato com a gastronomia como forma de ganhar dinheiro (…) eu já cozinhava pra mim e pra galera que morava lá também, todo mundo gostava muito dos meus preparos, apesar de muito simples, sem nenhum conhecimento profissional, ou refinamento estético, aí passei a fazer essas comidas pra comercializar no coletivo, nos eventos que fazíamos lá: shows, peças de teatro, cineclubes.”
Em 2011, aos 16 anos, a futura chef se mudou para a capital paulista. Para se manter na megalópole, Kamili precisou vender sanduíches e doces na rua. “Eu morava sozinha e essa era a minha forma de me manter, e eu era menor de idade e ainda não poderia trabalhar pra valer em algum lugar”, lembra.
De casa em casa, veio a primeira oportunidade de trabalhar em um restaurante. “No dia do meu aniversário de 18 anos sai pra vender as comidinhas na rua e distribuir currículos, um restaurante me chamou pra um teste e eu fui trabalhar lá, comecei como auxiliar, passei por todas as praças até chegar ao fogão.”
Chef que conheceu veganismo em coletivo cultural no interior de SP apresenta cardápio italiano totalmente vegano
Picoli Cucina/Divulgação
Após um período, continua Kamili Picoli, ela se mudou para o Chile, onde trabalhou em restaurantes. Ao retornar em 2016, ela continuou retomou a bancada no primeiro restaurante que trabalhou.
“Lá aconteciam alguns eventos, todos com muito carne, e eu propus um evento sem produtos de origem animal, e eu fui pra cozinha fazer a primeira edição do Boteco Vegan, que se tornou um evento itinerante bastante reconhecido na época.”
Do evento, a chef começou a organizar jantares “secretos” na própria casa. “A minha casa foi cedendo cada vez mais espaço pra esse projeto dos jantares e ali foi se desenhando um restaurante, abrindo com uma frenquencia semanal, com um menu mais fixo.”
“Por isso digo que não houve um momento em que decidi, o restaurante aconteceu, e eu gosto muito de como as coisas aconteceram e como eu pude amadurecer profissionalmente junto ao restaurante.”
Hoje, ao lado de outras 23 mulheres, Kamilli comanda um restaurante italiano totalmente vegano, no Bairro Pinheiros, em São Paulo. Para ela, o sabor de cada prato é mais do que temperos.
“Minha gastronomia é uma mistura da ancestralidade que carrego, com referências vindas de diversas formas de arte que consumo e a questão sócio política que envolve o veganismo e como tento levá-lo adiante através de uma gastronomia criativa, refinada e ao mesmo tempo trazendo essas referências de sabores e texturas que fazem parte da nossa memória afetiva que normalmente inclui produtos de origem animal.”
Chef que conheceu veganismo em coletivo cultural no interior de SP apresenta cardápio italiano totalmente vegano
Picoli Cucina/Divulgação
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