Esquerda no divã – 3

Lula virá pela reeleição? Tudo indica que simLula Marques/Agência PT

Sobre os resultados desfavoráveis à esquerda e ao PT, Lula, em público, não “acusa o golpe”, mas internamente ou nos bastidores, admite tanto que a derrota foi dura quanto sua influência para 2026. A avaliação, aí mais de figuras de esquerda do que do presidente, é que a renovação da esquerda não se deu na mesma intensidade observada no espectro mais à direita, que exibe nomes mais jovens como Nicolas Ferreira, Kim Kataguiri e agora Pablo Marçal.

A juventude não é o único elemento de análise, porém, afinal, Guilherme Boulos também é jovem, 42 anos, e perdeu sua segunda eleição para a capital paulista. E perdeu por larga margem. Talvez entre na equação mais dois elementos: internet (destaque para as redes sociais) e perfil do discurso político.

Desde 2018, quando Jair Bolsonaro (PL) usou e abusou das redes sociais e da internet para alavancar a sua candidatura, o meio virtual parece ter se tornado um reduto de direita. A esquerda não se apropriou, como poderia ou até mesmo deveria, desse ambiente virtual. Pablo Marçal, com zero tempo de televisão no horário político oficial – porém com presença massiva no meio virtual –, quase chegou ao segundo turno das eleições em São Paulo.

Quanto ao perfil do discurso político, eleição após eleição, e de modo especial naquelas operadas localmente, no município, se vê um eleitor mais interessado em soluções concretas para os seus problemas diários como transporte, moradia, emprego, saúde e segurança, do que nas chamadas “pautas ideológicas”.

E, neste sentido, a esquerda é, até mesmo por tradição ou natureza, um campo de forte defesa de determinadas ideias. Discursos anti-capitalistas, protetivos, assistencialistas, denunciadores de uma certa “dominação”, defesa das minorias, críticas à desigualdade, são bons exemplos deste tipo de pauta. A repetição dessas ideias também pode ter passado à população, ou estar passando, um sentimento de algo gasto e sem observância na vida real, concreta.

No contexto acima, o nordeste merece um destaque maior, afinal, a região foi rigorosamente decisiva para eleger Lula em 2022 e agora, votos apurados, vemos que o partido do presidente ficará com apenas uma das nove capitais nordestinas, Fortaleza. Mais do que isso, a centro-direita e direita foram vitoriosas em sete dessas capitais. Há certamente algo a analisar aí, especialmente por PT e partidos de esquerda.

Alguns ainda tentaram justificar os péssimos resultados para a esquerda pela alta taxa de abstenção dessas eleições. Na capital paulista, por exemplo, essa taxa teria chegado a incríveis 31,50% no segundo turno.

Contudo, pondere-se dois aspectos: a. a abstenção se dá “em linha”, ou seja, atinge os campos políticos todos. Não se pode imaginar uma abstenção de esquerda e outra abstenção de direita e; b. em 2022, no segundo turno das eleições presidenciais, a abstenção foi de 20,62%, também alta.

Portanto, não é algo a ser debitado a essas eleições municipais, mas um fenômeno mais abrangente, mais duradouro e por certo preocupante, eis que abstenção revela desinteresse, algo ruim para vitalidade de qualquer democracia.

2026 está logo aí, mais dois anos. Lula virá pela reeleição? Tudo indica que sim. Uma por vontade dele, outra por ausência de opções tão viáveis quanto ele no campo da esquerda. À direita, há um leque de postulantes com a quase-certeza de Bolsonaro fora do páreo. Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, Romeu Zema e agora, como uma nova carta integrando esse “baralho”, Pablo Marçal.

Se a esquerda tem o problema da carência, a direita tem o problema da super-oferta de candidatos. Os desafios são diferentes, porém igualmente intensos. Um jogo ainda sendo jogado e cujo desfecho só o futuro dirá qual é.

Para ler mais textos meus e de outros pesquisadores, acesse www.institutoconviccao.com.br

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