Conheça a história de Laurimar Leal, o santareno reconhecido no Brasil e no exterior por sua contribuição à arte

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Laurimar Leal consolidou-se como um dos maiores artistas da história de Santarém e da Amazônia brasileira, destacando-se pela especial e intensa dedicação à pintura e à escultura. Artista plástico santareno Laurimar Leal
Reprodução / Redes sociais
O santareno Laurimar dos Santos Leal, 84 anos, é um dos nomes mais lembrados no Estado do Pará, quando o assunto é artes plásticas. Dom que ele começou a manifestar ainda na infância. Mas também é conhecido e prestigiado fora do Brasil, por seu estilo surrealista amazônico.
Por sua importância no cenário cultural e histórico de Santarém e região, o artista plástico foi homenageado recentemente com a criação do Museu Virtual da Amazônia Laurimar Leal (MUVALL).
O MUVALL foi inaugurado em uma cerimônia para convidados e a imprensa local na noite do dia 21 de setembro de 2023, no Instituto Cultural Boanerges Sena (ICBS), em Santarém.
De acordo com Cristóvam Sena, diretor do ICBS, o MUVALL foi criado para divulgar o trabalho do artista, que perdura por décadas. O objetivo da iniciativa que partiu do professor Miguel Borghezan é que o mundo conheça Laurimar e seu legado.
“A ideia da criação do Museu Virtual da Amazônia Laurimar Leal partiu do professor Miguel Borghezan. Ele é o maior colecionador de peças do Laurimar. Tem mais de 150 peças. Ele conversou a Tamara Saré que é fotógrafa e com o Paulo Nascimento, que é artista plástico igual o Laurimar, e o Paulo Nascimento fez a limpeza das peças que ele possuía e a Tamara bateu fotografia, e a filha do Miguel é quem montou o esquema da construção do museu virtual. Eu considerei a ideia excelente, uma homenagem ao Laurimar Leal, esse artista mocorongo fabuloso, e muitas reuniões para construção do museu virtual foram realizadas no ICBS”, contou Cristóvam Sena.
Laurimar Leal conta sobre sua obra
Miguel Borghezan, idealizador do MUVALL, destaca que além de perenizar as obras de Laurimar Leal numa expressão conjunta, um dos principais objetivos do museu é homenagear o artista em vida.
“Queremos dedicar-lhe pelo menos reconhecimento no âmbito do mundo virtual, para que todos conheçam um pouco da obra incansável, intensa, imensa e profunda do artista. Eu conheço o Laurimar Leal desde 1982 e ao longo desses 40 anos acompanhei um pouco da evolução das suas obras por meio da pintura. Ele é artista não só da pintura, é também escultor e produz outras obras, mas nós queremos destacar a pintura porque ele teve preocupação em retratar a cultura indígenas, notadamente da cultura indígena tapajônica”, explicou Borghezan.
Qualquer pessoa pode ter acesso a todo o conteúdo do acervo do MUVALL adquirindo um ingresso virtual. O valor é acessível e ajuda a manter a plataforma no ar, além de valorizar o trabalho do artista.
Um pouco da história
Filho de Joaquim de Sousa Leal e Julieta Brígida dos Santos Leal, Laurimar que nasceu em 24 de julho de 1939, foi criado pelas tias Raquel e Judith de Sousa, que foram suas primeiras professoras.
De acordo com relatos da 3ª edição do livro Tupaiulândia, Edição Especial Ilustrada, de Paulo Rodrigues dos Santos, por volta dos 9 anos de idade, Laurimar começou a fazer artesanato de cerâmica, e seu primeiro trabalho artístico foi um presépio com os reis magos para a Prefeitura Municipal de Santarém.
Foi na adolescência que Laurimar Leal, além da cerâmica, começou a experimentar suas habilidades para a pintura e escultura, e na juventude se aventurou também na música e no restauro, e se destacou na criação de figurinos e adereços para o carnaval santareno.
Eclético por natureza, e dono de um timbre afinado, em 1960, Laurimar formou o grupo musical Os Brasas, no qual foi cantor e intérprete.
No ano seguinte, foi para o Rio de Janeiro (RJ), onde frequentou a Escola de Belas Artes do bairro do Flamengo, onde aperfeiçoou técnicas de pintura ao longo de cinco anos, depois retornou para Santarém.
Obra de Laurimar Leal também destaca lendas amazônicas
Acervo MUVALL
Na década de 70, o amor pelo carnaval aflorou e Laurimar em parceria com Renato Sussuarana, fundou a agremiação Ases do Samba. Renato fazia letras dos sambas enredos da escola. E de acordo com relatos históricos, a dupla também era responsável pela criação das fantasias, alegorias e adereços que garantiram muitas premiações à Escola de Samba no carnaval de Santarém.
Veia de restaurador
No finalzinho da década de 70, mais precisamente no ano de 1978, após receber um convite do prefeito Coronel Antônio Carlos Nunes, de Monte Alegre, Laurimar mudou-se para aquele município levando com ele uma equipe de auxiliares.
Por dois anos, o artista plástico executou trabalhos de pintura, escultura, assim como a decoração do carnaval montealegrense, que teve como grande destaque a reprodução de elementos rupestres da Serra da Lua.
Também em Monte Alegre, restaurou a Praça da Igreja de Santa Luzia com temas regionais e realçou a miscigenação do local, por meio de esculturas de um índio, um branco e um negro.
Pinturas do Centro Cultural João Fona, Patrimônio Histórico e Cultural de Santarém, foram restauradas por Laurimar Leal
Adonias Silva/G1
De acordo com relatos de Wilde Dias da Fonseca, no livro “Santarém: Momentos Históricos”, 1ª edição, como restaurador Laurimar Leal também realizou trabalhos na Catedral de Nossa Senhora da Conceição e na antiga Prefeitura de Santarém, onde hoje funciona o Centro Cultural João Fona. Ele restaurou ainda, pinturas das Igrejas São Sebastião e São Raimundo Nonato em Santarém, e na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no município de Aveiro, no oeste do Pará.
Escultura gigante de vaso cariátides de Laurimar Leal, na Praça Barão de Santarém
Arquivo / g1
Admirado dentro e fora do Brasil
Em 1980, o artista plástico foi contratado pela Companhia de Fiação e Tecelagem de Juta (Teceja), ganhando um espaço para desenvolver sua paixão pela pintura. A produção artística do santareno ganhou corpo e projeção no oeste do Pará e em várias partes do Brasil e do mundo, uma vez que boa parte dos turistas que passavam por Santarém adquiriam obras de Laurimar Leal.
Pintura de Laurimar Leal retrata a frente da cidade de Santarém antes da construção da Orla
Reprodução / Redes sociais
E foi por meio de sua arte que Laurimar passou a ser admirado por grandes nomes dentro e fora do Brasil. Pra se ter uma ideia, em 1989 o paisagista Roberto Burle Marx, que vivia no Rio de Janeiro (RJ) esteve no oeste paraense para fazer um trabalho pra uma mineradora, e fez questão de vir a Santarém para conhecer pessoalmente o Laurimar Leal. Os dois se tornaram grandes amigos.
Inquieto e sempre buscando aprimorar sua arte, em 1995 o artista plástico fez intercâmbio cultural em Paris, França, a convite da instituição não-governamental Sol 3. Durante três meses na França, dedicou-se à pintura de quadros sobre lendas amazônicas.
Os críticos de arte franceses classificaram as obras do santareno como de estilo surrealista amazônico.
Últimos trabalhos em Santarém
Laurimar Leal foi diretor do Centro Cultural João Fona por muitos anos, e apesar do vínculo com a Prefeitura de Santarém, conseguiu manter sua produção de telas retratando as belezas paisagísticas da Amazônia, a cultura indígena, crenças, tradições e elementos próprios das cerâmicas Tupaiu, Konduri, Pauxis, Gurupatuba e Mundurucu, dos povos que habitaram a região.
Obra de Laurimar Leal ressalta traços da cultura indígena tapajônica
Acervo MUVALL
Segundo o próprio Laurimar, depois que ele perdeu praticamente toda a visão devido ao glaucoma em 2005, continuou a pintar, mas precisou substituir os pinceis pelas mãos, imprimindo a partir daí uma arte de característica peculiares. Mas o problema de visão se acentuou levando a perda total, e o artista parou de pintar.
Sem condições de continuar produzindo e vivendo da sua arte, Laurimar recebe uma pensão da Prefeitura de Santarém. O benefício foi concedido por meio de lei municipal sancionada em 23 de abril de 2004 pelo então prefeito Joaquim de Lira Maia.
Último quadro pintado por Laurimar Leal: Canoa à vela
Acervo MUVALL
O legado artístico de Laurimar Leal tem valor inestimável, sendo representativo da cultura e das tradições dos povos originários do Baixo Amazonas.
Parte desse legado está retratado no documentário “Laurimar e outras lendas”, dos autores Miguel Ângelo, Chico Caprario e Bob Barbosa. A obra foi produzida em 2010.
Obras de Laurimar em Santarém
São Pedro Pescador – na Praça do Pescador
Escravo Liberto – Praça da Liberdade
Santa Clara, Nossa Senhora de Lourdes e Santa Bernadete – no Colégio Santa Clara
São José Operário e São Sebastião – na Praça de São Sebastião
São José – na Igreja da localidade de São José, no planalto santareno da BR 163.
Reproduções gigantes de vasos de cariátides, urnas funerárias e muiraquitãs – na Praça Barão de Santarém.
Curiosidade sobre Laurimar Leal
Iniciou estudos na Escola Municipal de Ensino Fundamental Profa. Hilda de Almeida Mota, no antigo Teatro Vitória de Santarém, e no
Cursou o 4º ano primário na Escola Estadual de Ensino Médio Álvaro Adolfo da Silveira.
Curso o 5º ano primário no antigo Grupo Escolar Barão de Santarém, hoje Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Frei Ambrósio.
Cursou o ginásio no Colégio Interno Seminário Franciscano de Ipuarana, na cidade de Campina Grande, Estado da Paraíba, no nordeste brasileiro.
Concluiu o Científico no Colégio Dom Amando, em Santarém.
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