Remédios tarja preta são vendidos sem receita em farmácias de Porto Alegre e Alvorada

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Uso sem acompanhamento médico pode causar dependência, e farmácias podem ser enquadradas por tráfico de drogas. Medicamentos controlados são vendidos sem receita em farmácias de Porto Alegre e Alvorada
Duas farmácias da Região Metropolitana de Porto Alegre vendem sem receita remédios de uso controlado, usados para tratamento de transtornos como depressão e ansiedade. O flagrante foi feito pela reportagem da RBS TV após denúncia da mãe de uma pessoa que se tornou dependente deste tipo de medicamento após comprá-los irregularmente no estabelecimento.
Na farmácia de Porto Alegre, quem deseja comprar o remédio com embalagem tarja preta sem receita precisa informar uma senha, que é o nome de uma mulher e de uma empresa onde ela supostamente trabalha. Uma produtora da RBS TV conseguiu comprar, usando essa senha, uma substância usada em tratamentos de depressão e transtornos de humor.
Por vender sem receita, um funcionário da farmácia cobra até ser três vezes mais do que o valor do remédio em outras farmácias. Ele diz que depois consegue uma receita médica para legalizar a venda.
“A gente não pode [vender sem receita], mas a gente consegue a receita. Eu só não te dei o desconto que daria se tu tivesse receita”, afirma o atendente no momento da venda.
As caixas de remédios compradas sem receita nas duas farmácias foram entregues ao Departamento de Narcóticos da Polícia Civil. Segundo a polícia, vender medicamentos controlados sem receita médica se equipara ao tráfico de drogas, com pena de até 15 anos de prisão. Quem compra pode ser enquadrado em porte de drogas.
“A farmácia pode ser interditada. Os órgãos de vigilância são acionados, e a farmácia vai ter as questões administrativas junto a esses órgãos. Na questão penal, que vai ser apurada pela delegacia, vai ser aberto um inquérito para investigar a prática”, diz a delegada Cristiane Becker.
Remédios controlados, que podem causar dependência, são vendidos sem receita em farmácia de Porto Alegre
Reprodução/RBS TV
Remédios causam dependência
Se consumidos sem acompanhamento médico, esses remédios podem causar dependência.
“Especialmente aqueles medicamentos que tem tarja preta na caixa. São medicações que podem potencialmente desenvolver dependência. Assim como a gente tem informações de que algumas drogas podem causar dependência, essas medicações também podem”, diz Cristiane Stracke, coordenadora de Saúde Mental da Secretaria de Saúde de Porto Alegre.
Um dos efeitos dessa dependência são alucinações ou crises convulsivas.
“Pode apresentar a síndrome da abstinência, resposta do corpo à falta daquela medicação. Um dos efeitos mais perigosos para a pessoa é ter crises convulsivas, que podem acontecer em qualquer lugar. A pessoa pode estar dirigindo, em casa, trabalhando… “, diz Patrícia Desaibro, médica psiquiatra especialista em adições.
“O efeito agudo mais imediato é ter comportamentos bizarros enquanto está dormindo. Na verdade, a pessoa está dormindo mas ela segue fazendo coisas como se estivesse acordada, e ela não se lembra. Então, ela pode estar dirigindo um carro de noite, pode ir no fogão cozinhar e acabar botando fogo nas coisas, porque é como se estivesse sonâmbula. E ela não consegue se lembrar do que aconteceu no dia posterior a ter tomado essa medicação”, completa a média.
Foi o que aconteceu com a filha de uma mulher aposentada, que prefere não se identificar. A jovem ficou internada em uma clínica por 30 dias, para desintoxicação.
“Ela me contou da farmácia, e eu descobri. Ela precisou fazer internação psiquiátrica, para ‘desmame’, como eles chamam, para desintoxicar. Ficou 30 dias em uma clinica psiquiátrica, para então conseguir sair bem e retomar a vida dela”, diz a mulher.
A filha dela conseguia os medicamentos em uma das farmácias mostrada na reportagem. Para comprovar o fato, a própria mãe foi ao local: “Saí de lá com quatro caixas, que era o que ela vinha usando. Fui lá comprovar se realmente conseguia com facilidade, e foi muito mais fácil do que eu pensei”, diz a mãe.
Outro caso também foi flagrado em Alvorada, na Região Metropolitana de Porto Alegre, onde um produtor da RBS TV conseguiu comprar o mesmo medicamento vendido na Capital.
E os casos não são isolados: uma mulher, que foi dependente química de medicamentos controlados, diz que fazia compras sem receita em outros três estabelecimentos por três anos.
“Tive um caso de alucinação, em que achei que minhas irmãs estavam fazendo uma visita. Fui para a frente da minha casa abrir o portão de madrugada. Minha sorte foi que, bem na época, tinha um sobrinho fazendo vestibular, ele ouviu o barulho e disse: ‘Não tem ninguém, vamos voltar’. Isso, pra mim, foi muito claro”, diz a mulher, que não se identifica.
Reportagem da RBS TV conseguiu comprar medicamentos sem receita em farmácia de Porto Alegre
Reprodução/RBS TV
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