Médica que atendeu criança que morreu após picada de escorpião em Piracicaba diz a CPI que não sabia que havia soro em UPA

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Profissional diz que quando recebeu a informação, equipe já havia perdido acesso na veia de Jamilly Vitória Duarte, de 5 anos, que foi transferida, mas não resistiu. Família denuncia negligência e demora em atendimento. Jamily Vitória Duarte, de 5 anos, morreu após ser picada por escorpião em Piracicaba (SP)
Arquivo pessoal
A médica que atendeu a garota de 5 anos que morreu após uma picada de escorpião, em Piracicaba (SP), informou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura o caso, na Câmara, que não sabia que a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) onde fez o atendimento tinha soro antiescorpiônico. O depoimento aconteceu nesta terça-feira (17) e as informações foram divulgadas pelo Legislativo.
O caso ocorreu no dia 12 de agosto deste ano e a vítima é Jamilly Vitória Duarte, que recebeu o primeiro atendimento na UPA do bairro Vila Cristina, que é gerenciada desde o mês de julho pela Organização Social de Saúde (OSS) Mahatma Gandhi.
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Segundo a Câmara, a médica relatou aos vereadores que Jamilly estava andando e consciente quando chegou à UPA, mas apresentava quadro de sudorese (transpiração) e vômito, por isso avaliou o caso como grave. Mas não a encaminhou à sala de emergência porque o protocolo da unidade era de que isso precisava ser feito após uma avaliação detalhada do quadro.
A médica informou que prescreveu medicamentos para os sintomas e iniciou procedimentos para a transferência da criança para um hospital.
Prédio da UPA Vila Cristina, em Piracicaba
Isabela Borghese/ Prefeitura de Piracicaba
Ela também disse ter encontrado dificuldades para requisitar a vaga porque a unidade estaria com o sistema instável e, além disso, não teria conseguido inserir o número do cartão da paciente. Segundo a profissional, a falta de documentos da criança também teria dificultado o procedimento.
Questionada sobre o motivo de não ter prescrito o soro antiescorpiônico para Jamilly, a médica disse que não sabia que havia o insumo na unidade e que teria perguntado para uma pessoa da equipe, que teria informado que não havia o soro.
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A profissional de saúde disse que só soube da existência do soro depois que a menina já havia perdido o acesso venoso (entrada por meio de agulha na veia para aplicação de medicação) e a equipe tentava restabelecer.
Segundo a médica, depois disso, outros profissionais de saúde teriam afirmado que também não sabiam sobre a existência do medicamento no local e que o soro fica em uma sala onde ela nunca teria entrado e que nunca teria sido apresentada a ela.
A profissional afirmou que prescreveu o soro posteriormente, enquanto Jamilly ainda estava na UPA.
A médica alegou que não auxiliou na tentativa de acesso venoso na criança porque a equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) teria chegado e assumido o atendimento para a transferência da paciente.
Ela admitiu que haveria outras possibilidades de acesso, mas que o acesso venoso central, para o qual somente o médico é habilitado a fazer, levaria mais tempo e ela corria risco de não conseguir. Por isso, teria optado pela transferência.
A testemunha garantiu que prestou assistência à Jamilly e que só teria se afastado quando precisou solicitar a vaga, em um computador que fica na própria sala de observação, mas que estaria a poucos metros do leito dela.
A profissional não soube dizer em quanto tempo o soro antiescorpiônico deveria ser aplicado, mas admitiu que o ideal seria que o procedimento fosse adotado assim que ela chegou à unidade.
A médica não trabalha mais na UPA. Ela afirmou que se formou em junho deste ano, não é pediatra e prestava atendimento na ala de pediatria como clínica geral. A profissional não tinha experiência em serviços de urgência e emergência.
Criança morre após ser picada por escorpião em Piracicaba
O que dizem prefeitura e OS
Em nota, a OSS que administra a unidade informou o acesso na veia da paciente foi feito após avaliação com a médica, mas esse acesso foi perdido e foram feitas novas tentativas de restabelecê-lo, que não tiveram sucesso devido à desidratação da criança.
A organização social admitiu que foi constatada a existência do soro na unidade após a perda do acesso na veia de Jamily, quando o Samu já estava no local para realizar a transferência.
“Diante deste contexto, foi em comum consentimento entre as equipes em realizar a transferência imediata da paciente para Unidade de Terapia Intensiva da Santa Casa de Piracicaba, por associar a recursos de alta complexidade e possibilidade de administrar o soro antiescorpiônico”, acrescentou.
A OSS garantiu que “é de conhecimento da equipe que a UPA Vila Cristina é referência para casos de escorpionismo, cabendo ressaltar que a coordenação da unidade havia participado de orientações sobre fluxos de soro”. Também garantiu que os profissionais são treinados para este tipo de atendimento.
“Destacamos, por fim, que é preciso atentar-se que o tempo de atendimento na UPA, considerando a entrada e saída da unidade, foi pouco mais de uma hora, tempo muito menor que interstício da picada e socorro pela família e a permanência na Santa Casa”, finalizou.
A Prefeitura de Piracicaba informou que está à disposição para contribuir com todas informações necessárias para a Comissão da Câmara Municipal e que a gerência da UPA é de responsabilidade da OSS Mahatma Gandhi.
Patrícia das Graças Adriana Duarte denuncia falha no atendimento médico à filha de 5 anos picada por escorpião, em Piracicaba (SP)
Heitor Moreira/EPTV

‘Chegou gritando, desesperada’
Mãe de Jamily, Patrícia das Graças Adriana Duarte relatou que a filha chegou à UPA no dia 11, um dia antes da morte, gritando de dor, e ela informou imediatamente na recepção que a menina havia sido picada por escorpião – o fato ocorreu na frente da casa do avô. De acordo com a mãe, se tratava de um escorpião amarelo.
Ela também afirmou que depois de mais de uma hora recebeu a informação de que não havia o soro na unidade.
“Ela chegou gritando, desesperada. Todo mundo ficou paralisado. Disse que era picada [de escorpião], mas foram pegando meus dados com maior calma. Se tivessem falado logo que não tinham o soro, eu teria ido para a Santa Casa com minha filha”, disse.
“Quando ela chegou na Santa Casa, foi difícil achar a veia dela. E ela foi piorando. Lá pelas 2h da madrugada, ela piorou, começou a dar parada cardíaca, e veio a óbito por volta das 8h”, contou a mãe.
De acordo com o site oficial da prefeitura de Piracicaba, o procedimento adotado pela mãe é o recomendado. A Secretaria de Saúde orienta, em caso de picada de escorpião, que a população procure a UPA mais próxima.
“Quando existe uma sintomatologia mais grave é dado o primeiro atendimento na UPA e, caso ocorra a necessidade, o paciente é encaminhado à Santa Casa de Pìracicaba, referência em administração do soro antiescorpiônico em nossa região”, diz o texto atribuído à coordenadora das Urgências e Emergências, Flávia de Sá Molina.
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