Quatro enchentes em quarenta anos: entenda porque o Rio Iguaçu alaga tanto União da Vitória

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Atualmente, nível do rio chega a quase oito metros; um terço da cidade está inundado. Há 40 anos, rio passou de 10 metros e alagou 70% do município. Relevo do Paraná e curvas do rio Iguaçu contribuem para enchentes
Nos últimos 40 anos, as cheias do Rio Iguaçu provocaram pelo menos quatro grandes enchentes na cidade de União da Vitória, no sul do Paraná: em 1983, 1992, 2014 e, agora, em 2023.
Na noite desta terça-feira (17), o nível do rio se aproximava de 8 metros, inundando quase um terço da cidade, segundo a prefeitura. O nível considerado normal é de aproximadamente 2 metros. Saiba mais abaixo.
Especialistas explicam que a região alaga com tanta frequência por causa da geografia da cidade e do rio considerado o maior do Paraná.
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A chance do fenômeno atingir União da Vitória é tão alta que uma placa instalada há 30 anos junto a um poste com as marcas das últimas cheias alerta: “Enchente maior está por vir”. Veja abaixo.
Placa instalada em 1993 em União da Vitória
Rafael Torquato/RPC
O presidente da Sociedade de Estudos Contemporâneos – Comissão Regional Permanente de Prevenção contra Enchentes do Rio Iguaçu (SEC-CORPRERI), Dago Woehl, destaca que União da Vitória cresceu em áreas sujeitas à inundação, próximas ao centro urbano.
“As nossas cheias são difíceis de serem combatidas porque a cidade ‘escolheu’ um péssimo lugar para ficar, terreno com baixíssima declividade e porta de entrada do terceiro planalto”, explica.
Woehl também destaca que, na região de União da Vitória, o rio segue por cerca de 27 quilômetros de curvas, passa por um estreitamento e, por fim, chega nas corredeiras em Porto Vitória.
“É difícil que a cidade de União fique totalmente embaixo da água, mas não é impossível”, alerta.
Enchente volta a atingir União da Vitória (PR)
RPC
Leia também: Entenda porque o Rio Iguaçu continua a subir, mesmo sem chuva
Rio Iguaçu
A geografia do rio na região da cidade também contribui para as cheias.
O Rio Iguaçu tem 1.320 km de extensão. Ele atravessa o Paraná de leste a oeste: nasce na região de Curitiba e segue sentido Foz do Iguaçu, sendo a atração principal das Cataratas.
Na região chamada de Médio Iguaçu, o terreno mais plano está em União da Vitória, que tem altitude mais baixa que a nascente do rio: Curitiba fica 900 metros acima do nível do mar e União, 765.
Diferença de altitude entre as cidades de Curitiba e União da Vitória
Arte/RPC
Logo depois de União da Vitória, o rio “sobe” para o terceiro planalto paranaense.
Além de ser o ponto mais baixo entre essas duas regiões, na planície de União da Vitória o rio tem muitas curvas – onde a possibilidade de transbordo é maior.
É o que explica o professor de pós-graduação em Geografia e Meio Ambiente da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Francisco Mendonça.
Ele ressalta que nessas curvas a velocidade da água diminui e o relevo serve como anteparo, acumulando mais materiais como areia e dejetos humanos, fazendo com que o rio perca a profundidade.
O desmatamento no entorno do rio também contribui para as cheias, pois a vegetação, que poderia evitar que a água da chuva escorresse rapidamente para o rio, não existe mais.
Quantidade de curvas do rio na região de União da Vitória favorece enchentes
Arte/RPC
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Tentativas de evitar enchentes
Para impulsionar o “escoamento” do rio, há cerca de 10 dias a Copel abriu os vertedouros das três grandes hidrelétricas que ficam no Rio Iguaçu:
Gov. Bento Munhoz da Rocha Netto (Foz do Areia), em Pinhão, na região central do Paraná;
Gov. Ney Braga (Segredo), em Mangueirinha, no sudoeste;
Gov. José Richa (Salto Caxias), em Capitão Leônidas Marques, no oeste.
Os vertedouros são estruturas das usinas hidrelétricas que ajudam a controlar a vazão do rio, funcionando como uma espécie de ralo, segurando ou soltando o excesso de água. A vazão é a quantidade de água que flui por um canal em determinado período de tempo.
Historicamente, outros esforços tentaram combater as enchentes, segundo o presidente da Sociedade de Estudos Contemporâneos – Comissão Regional Permanente de Prevenção contra Enchentes do Rio Iguaçu (SEC-CORPRERI).
“As principais medidas foram o sistema de previsão e alerta; a definição do risco das enchentes e a legislação sobre uso do solo (até onde se pode construir – com as ventanias de cada administração achando que quando a água chegar eles vão dar um jeitinho) e a definição de obras de duplicação e alargamento da calha do rio, que podem reduzir uma cheia como a de 1983 em 1,15 metro”, lembra Dago Woehl.
Alagamentos em União da Vitória
União da Vitória é uma das cidades mais castigadas pelas chuvas que atingem o Paraná neste mês.
O Rio Iguaçu invadiu milhares de casas. Segundo a prefeitura, até a noite de terça-feira (17), mais de 2.100 pessoas foram atendidas e mais de 700 estão em abrigos.
Em todo o estado, são mais de 62,6 mil pessoas afetadas pelas chuvas.
Veja também: VÍDEO: Temporal atinge abrigo com pessoas que saíram de casa por conta da chuva, em União da Vitória
Enchentes históricas
Entre as maiores enchentes de União da Vitória, está a de 1983. Naquele ano, o Rio Iguaçu passou de 10,4 metros e alagou cerca de 70% da cidade.
Há menos de 10 anos, em 2014 outra enchente assolou o município. O nível do rio passou de 8 metros e 40% da cidade ficou sob água.
Em contrapartida, há três anos o município sofria com estiagem. Em maio de 2020 o Rio Iguaçu registrou o nível mais baixo desde 1931, quando o monitoramento foi iniciado: 1,29 metros.
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