Homem grávido? Jovem relata preconceitos contra pessoas trans que têm filhos: ‘hoje me vejo como pai, pai parturiente’

Nando Barros é piauiense, cantor, pai do Heitor de 1 ano e casado. Ele participou da 1ª Semana de Visibilidade Trans do Piauí e contou sobre como é ser um homem trans parturiente. ‘Homem grávido’: jovem fala sobre combate a preconceitos contra pessoas trans no PI
Arquivo pessoal
Nando Barros, de 26 anos, é pai de Heitor, de um ano, ele é um homem trans que gerou o próprio filho e contou ao g1 sobre o processo da gravidez e o enfrentamento de preconceitos vividos. Na terça-feira (24) ele participou da mesa Pais Parturientes da 1ª Semana da Visibilidade Trans do Piauí.
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“Nós da comunidade trans, às vezes por conta de problemas, bagagens familiares, não conseguimos nos ver como mães ou pais de forma tão natural quanto pessoas cis, e era assim comigo. Mas depois que tive o neném foi maravilhoso”, disse.
“Eu comecei a me enxergar como pai que está se construindo, um pai que está tentando evoluir a cada dia, um pai que consegue suprir toda a demanda do filho e é muito bom, muito, muito, muito bom. Depois de tudo que aconteceu durante a gestação, que eu passei por alguns preconceitos, eu estou vivendo coisas muito maravilhosas com meu filho”, completou Nando.
Atualmente, Nando é casado com Lidiane Barros e tem dois enteados, dos quais cuida como filhos: uma menina de 13 anos e um menino autista de 15 anos. Segundo ele, as crianças o ajudam a cuidar de Heitor.
“Mas é um processo, ser pai é um processo. Todo dia a gente aprende uma coisa nova, todo dia a criança traz uma novidade, mostra algo que a gente não estava esperando. E ser pai que dá à luz é isso, é gerar seu filho, gestar, passar por todas as dificuldades que todo mundo que já gestou uma criança sabe o que é, e passar por todas as alegrias que só a gente também sabe o que é”, conta Nando.
Além das experiências comuns de uma gestação, o pai de Heitor disse que teve episódios de pressão alta durante a gravidez devido à transfobia (preconceito que pessoas trans sofrem por serem o que são) durante o pré-natal, além das mudanças físicas.
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Nando se entendeu como uma pessoa trans aos 16 anos. Foi quando percebeu que não se identificava com o gênero que lhe foi atribuído no nascimento. Atualmente, ele é cantor e está feliz com o homem e pai que se tornou.
“A intimidade que a gente tem com o filho é maravilhosa, é uma coisa que realmente parece de outras vidas, então é desafiador por toda a questão social, mas é muito bom quando a gente consegue se ver dentro do papel. Eu estou conseguindo hoje em dia me ver como pai, pai parturiente. E consigo, hoje em dia, passar para outras pessoas que não conseguem entender ainda”, disse.
Nando esteve na terça-feira (24), junto com Bernardo, outro homem trans de Teresina que também esteve grávido, na roda de conversa sobre Pais Parturientes da Semana da Visibilidade falando sobre sua experiência como pai.
Semana da Visibilidade
1ª Semana da Visibilidade Trans no Piauí terá shows culturais, palestras e serviços de saúde para população LGBTQIAPN+; veja programação
Reprodução
A Semana da Visibilidade é uma realização do Coletivo 086, criado e coordenado por pessoas trans, em parceria com outras organizações e com patrocínio da Lei Paulo Gustavo, de incentivo financeiro ao setor cultural.
“O tema é ‘Saúde Trans Específica, Cuidados e Qualidade de Vida’, escolhemos então o mês de setembro, pois é o mês da prevenção ao suicídio e as taxas de suicídio entre pessoas trans são altíssimas”, explicou Rodrigo Moara, um dos organizadores do evento.
“A Semana pretende promover a conscientização, a inclusão e a celebração das vidas e das histórias de pessoas trans, travestis, transmasculinidades, não-bináries e de outras identidades de gênero dissidentes”, finalizou Rodrigo.
A programação é gratuita, aberta ao público e não é necessário fazer inscrição. Para aqueles que desejam certificado de horas, basta informar no momento do credenciamento no início de cada atividade.
Veja a programação aqui.
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