Montanhista buscado de helicóptero em trilha para receber rim comemora um ano do transplante: ‘nova oportunidade de viver’


Ricardo Medeiros estava a mais de 150 km e a 7.500 pés de altitude quando foi informado que havia um doador compatível em Juiz de Fora. A partir dali, uma grande mobilização foi montada para que ele chegasse em boas condições e em tempo hábil para fazer a cirurgia. Após o transplante, Ricardo já fez várias trilhas e escaladas, incluindo a subida até a Cabeça de Peixe
Arquivo Pessoal
Setembro de 2023 será marcado para sempre como o mês da virada de chave na vida do montanhista Ricardo Medeiros de Oliveira, que estava no alto da Pedra do Sino, na Serra dos Órgãos, em Teresópolis, quando descobriu que havia encontrado um doador compatível para transplante de rim em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira.
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A ligação foi recebida a cerca de 7.500 pés de altitude e a mais de 150 km da cidade mineira, sendo que, para o sucesso do procedimento, ele não poderia demorar mais de três horas para chegar na Santa Casa de Misericórdia.
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Quarenta minutos depois, com mobilização dos batalhões do Corpo de Bombeiros de Teresópolis e Rio de Janeiro, do hospital mineiro e da clínica de hemodiálise em Petrópolis, um helicóptero chegou até Ricardo e, em menos de 2 horas, ele estava em Juiz de Fora para realizar a bem-sucedida cirurgia. Reveja no vídeo acima.
“Depois de 11 anos fazendo a hemodiálise, 9 na fila esperando o transplante, o momento que aconteceu realmente foi uma surpresa enorme, porque eu já estava bem desanimado devido há anos de espera. Mas, como eu sempre digo, na hora certa, no lugar certo, no tempo certo, tudo aconteceu’, relembrou.
Já totalmente recuperado, ele conversou com o g1 sobre os momentos vividos antes e durante o transplante e sobre como está a nova rotina, que inclui muitas novas trilhas feitas com os amigos.
Retorno gradual
Segundo Ricardo, depois da cirurgia e alta para voltar para casa, em Petrópolis, o retorno à rotina foi gradativo.
“Eles voltaram a me liberar para minha rotina, aos poucos. A partir de quatro meses comecei a fazer minhas caminhadas de leve, a sair e viajar com mais cuidado. Com seis meses eu fui liberado para fazer tudo, para ir para onde eu quisesse, sem me preocupar com máscaras, essas coisas que têm essas restrições no início”, explicou.
“É um tempo normal que para paciente transplantado, correndo tudo bem, começa a voltar à normalidade da vida”, disse ele, que foi se acostumando também ao novo peso e à alimentação.
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“Após o transplante, de início, a gente sempre ganha um pouco de peso, até devido à adaptação do medicamento, porque mexe muito com o organismo. Então a gente tem que fazer uma dieta mais controlada. Mas aí depois que a gente já vai se adaptando e vai voltando na rotina, conseguimos voltar para o peso normal. Eu não tive um ganho de peso, mas como a minha vida é bem ativa, consegui manter. Engorda um pouquinho, emagrece e vai nessa pegada de tipo sanfona, mas, graças a Deus, está tranquilo. Consegui me adaptar bem aos remédios e não tive problema com reações”, festejou.
Um ano depois, o montanhista ainda vai à Santa Casa de Juiz de Fora para fazer acompanhamento médico e recebe a orientação para se prevenir de quedas ou algum tipo de pancada na região abdominal.
Recuperado do transplante, o montanhista Ricardo Medeiros voltou às trilhas com os amigos
Arquivo Pessoal
“Fora isso, está tudo correndo muito bem. Os exames estão todos normais, sem nenhuma mudança drástica para me preocupar. Então, é mês a mês vivendo e aproveitando essa oportunidade nova que Deus me deu”.
Gratidão
Com o sucesso da cirurgia e com a qualidade de vida restabelecida, o montanhista festeja a possibilidade de fazer antigas e novas trilhas:
“Já fiz várias trilhas, escaladas e viagens para conhecer parques nacionais como o Maciço das Prateleiras, a Pedra do Sino e outras no Parque nacional de Itatiaia (RJ) e também o Pico da Bandeira, no Parque Nacional do Caparaó (MG). Caparaó e Itatiaia foram viagens de 3 dias, coisa que não conseguia antes devido à hemodiálise”.
Além disso, viveu a aventura de escalar a Cabeça de Peixe e os ‘dedinhos’ do Dedo de Deus, ambas no Parque Nacional da Serra dos Órgãos.
“Ter tido essa oportunidade de voltar a ter uma vida normal, porque uma vida de hemodiálise é muito sofrida, tanto física como psicologicamente, ter uma liberdade maior para tudo, para alimentação, para ingerir líquidos, é muito gratificante”.
Ricardo Medeiros no Pico da Bandeira, no Parque Nacional do Caparaó, em Minas Gerais
Arquivo Pessoal
Umas das demonstrações de gratidão é manter o vínculo afetivo com a clínica por onde frequentou há quase uma década:
“Sempre que posso, vou na Clínica Renalle, para ver enfermeiras, como a Cíntia e a Hellen, e todo o pessoal. Porque a gente praticamente é uma família, foram 11 anos juntos ali. Se não fosse também as pessoas da clínica correr atrás para que tudo acontecesse da forma que aconteceu [ligando para o Corpo de Bombeiros solicitando um helicóptero], tudo seria muito mais complicado. Só tenho a agradecer a oportunidade que Deus me deu, a Santa Casa que realizou o transplante, que cuida de mim até hoje, a Clínica Renalle, que me acolheu e cuidou de mim por tantos anos”, lembrou com carinho.
Convidado a deixar uma mensagem de otimismo a quem também aguarda por um transplante, ele finalizou:
“O transplante de órgãos é um gesto de muito amor de ambas as partes e salvou minha vida me dando uma nova oportunidade de viver. Seja forte, tenha fé em Deus pois diante das nossas fraquezas podemos conhecer a nossa verdadeira força”.
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