Pinacoteca se coloca como o acesso à arte para novas gerações

Pinacoteca se coloca como o acesso à arte para novas geraçõesMarcella Oliveira

Quando o trajeto de dentro do carro permite uma vista mais ampla na Avenida Tiradentes no coração pulsante de São Paulo, as árvores do Parque Luz parecem abraçar o edifício de tijolinhos vermelhos e colunas clássicas que evocam uma grandiosidade histórica. A parada em frente à escadaria da entrada principal provoca um momento de silêncio e contemplação, mesmo que não seja a primeira visita. O visitante ao seu lado faz o mesmo. O burburinho de um grupo de jovens te traz de volta ao presente. É hora de subir as escadas e entrar nessa construção testemunha do passado, guardiã do presente e de olho no futuro: a Pinacoteca de São Paulo.

Cada passo permite uma descoberta contínua. As paredes de tijolos, os vãos iluminados, as passarelas de metal. Obras contemporâneas espalhadas pelo casarão. A caminhada pela galeria, onde está parte do acervo próprio de 12 mil obras do museu, coloca-nos frente a frente com quadros como Antropofagia, de Tarsila do Amaral, e Saudade, de Almeida Júnior. É uma viagem pela história da arte no edifício Pina Luz. Há Portinari, Di Cavalcante, Beatriz Milhazes, Adriana Varejão.

O Pina Luz foi concebido no final do século XIX pelo renomado arquiteto Ramos de Azevedo – responsável por projetos como o Mercado Municipal e o Theatro Municipal de SP – para abrigar o Liceu de Artes e Ofícios. E no fim de 1905 torna-se oficialmente sede da Pinacoteca e símbolo de expressão da arte brasileira, abrigando diversidade, diferentes formas de expressão e muita paz.

Ao sair do icônico prédio de tijolinhos, o Parque Jardim da Luz surpreende com suas esculturas em meio às árvores. O museu conta ainda com outros dois edifícios: a Pina Estação e a recém-inaugurada Pina Contemporânea. Cada espaço tem sua própria identidade e papel na promoção da arte. Pina Estação carrega uma forte memória histórica como ex-sede da repressão política durante a Ditadura Militar e agora se dedica à arte e à memória democrática. Aberta em 2023, Pina Contemporânea, por sua vez, representa um marco na inclusão e na modernidade, adaptada para receber grandes obras contemporâneas e oferecer espaços abertos ao público.

Juntos, os três edifícios abrigam, em média, 16 exposições por ano e, em 2023, receberam cerca de 880 mil visitantes. A responsabilidade de captar recursos, cuidar da comunicação e do atendimento ao público é do diretor de relações institucionais da Pinacoteca, Paulo Vicelli. Considerando o museu também um espaço de resistência e transformação social, Paulo enfatiza a importância de atrair jovens, tornando a Pinacoteca relevante e acessível. “Eu começo meu dia sempre pensando em como posso tornar um museu relevante para uma jovem de 13, 14 anos, que já saiu de casa sabendo tudo que está acontecendo pelo mundo”, diz. Para ele, a comunicação eficaz e a inclusão de novas linguagens são essenciais para capturar a atenção do público e diversificar o acesso à arte. “Quero fazer da Pina um lugar cada vez mais acessível”, contempla.

Na instituição há 12 anos, divide a gestão com o diretor-geral, Jochen Volz, também responsável pela curadoria, e com o diretor administrativo e financeiro, Marcelo Costa Dantas. Sob a direção de Vicelli, a Pinacoteca passou por transformações significativas. Desde a implementação de uma estratégia de comunicação robusta até a modernização das redes sociais do museu – ele moldou uma nova era para a instituição.

“Quando eu cheguei, nem redes sociais o museu tinha”, lembra. Hoje, a Pinacoteca não é apenas um espaço expositivo, mas um ponto de encontro dinâmico para diferentes formas de expressão artística e um portal de entrada para muitos visitantes que têm seu primeiro contato com a arte ali. “Atualmente, de 80 a 90% do nosso público é o que a gente chama primo visitante, ou seja, está visitando o primeiro museu da vida aqui. Então, a Pina tem uma responsabilidade muito grande de ser essa porta de entrada”, analisa.

Ao destacar o poder da comunicação, rebate pensamentos do gênero “uma foto no Instagram de uma exposição pode não atrair um visitante, que já terá visto os vídeos na internet”. “É como quando alguém posta um hambúrguer. Ele serve para te dar desejo e não suprir sua vontade. É um gatilho para você ir até a lanchonete. Com a arte é a mesma coisa. O contato com a obra já vem antes de você sair de casa”, acredita. “Aqui no museu você vai viver a experiência. Como é recebido, o que vê, se a obra é menor ou maior do que você esperava, como a luz bate nela. Se a sala está cheia ou não, se passa alguém com um perfume forte perto de você. Arte é uma vivência que não pode ser resumida por uma foto no Instagram, ela tem que ser o que vai te motivar a ir e viver essa experiência”, descreve.

 

Feito por pessoas

Com um jeito tranquilo e simples de falar, Vicelli comenta alguns desafios. “Comunicar uma exposição dos Gêmeos é fácil. Mas há outras que exigem uma estratégia mais desafiadora”, conta. Abrir as portas do museu para eventos, por exemplo, é uma forma de trazer o público para perto, prática que tem sido adotada há cerca de dez anos. Almoços corporativos, desfiles de moda, espetáculos de música. “A partir dessas experiências, quem vem pode ser capturado pela Pina. Por isso também é importante ter outras linguagens, não só artes visuais, para que as pessoas comecem a se abrir”, afirma.

Criar uma comunidade de apoiadores também faz parte da diretoria de Vicelli. “Temos um programa de amigos a partir de R$ 200 por ano. Buscamos o entendimento do brasileiro para a causa, de doar para promover esse tesouro nacional”, acredita. “Somos um museu vivo graças ao envolvimento da comunidade e da sociedade civil, que doa recursos para que possam ser adquiridas obras de arte contemporânea brasileira”, acrescenta.

Aos 44 anos, Vicelli reflete sobre sua própria jornada. Nascido em Rio Claro, no interior de São Paulo, a paixão pela arte começou com uma coleção de LPs de música clássica do pai e livros de arte, como um estampado na capa a obra A Leiteira, do pintor Johannes Vermeer. “Sou aficcionado por Vermeer, sua habilidade técnica para pintar, representar a luz, o silêncio. Ele tem 37 quadros, sendo 35 em exibição, e já percorri o mundo para vê-los”, conta, para enfatizar sua paixão pela arte.

Com o sonho de ser diplomata, mudou-se para São Paulo para cursar Relações Internacionais na PUC. Mas foi o intercâmbio na Inglaterra aos 18 anos que o transformou. A vivência internacional abriu-lhe os olhos para a oportunidade de trabalhar com arte e cultura. De volta ao Brasil, o último estágio antes de se formar foi no Itaú Cultural, onde ficou por dez anos. Em 2012, chega à Pinacoteca já com o cargo atual. “Mantenho aquela essência de curiosidade. Foi uma construção, né? Sair do interior sem nenhum contato e hoje conversar com grandes doadores, grandes colecionadores, ter acesso às coisas que eu tenho como diretor da Pinacoteca é um privilégio”, conclui.

 

 

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