Redução tímida no número de feminicídios em SC mostra ‘atendimento escasso’, diz especialista

Entre 1º de janeiro e 30 de abril deste ano, 22 mulheres foram vítimas de feminicídio em Santa Catarina. Segundo o Boletim Mensal de Indicadores do CSSPPO (Colegiado Superior de Segurança Pública e Perícia Oficial), o número é menor comparado ao mesmo período em 2022, no qual 25 mulheres foram assassinadas vítimas de discriminação de gênero.

Número de feminicídio em SC cai em abril.  – Foto: Freepik/Divulgação/ND

De acordo com Patrícia Zimmermann, delegada coordenadora do DPCAMI (Delegacias de Proteção à Criança ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso), não existe uma causa específica para as pequenas alterações. “Isso faz parte do próprio crime mesmo, muda muito”, diz.

Segundo os dados, o Planalto Norte catarinense aparece no topo dos indicadores de feminicídio no Estado, com sete mortes pelo crime entre janeiro e abril deste ano. De acordo com a delegada, o destaque da região se mostra frequente ao longo dos anos.

“Joinville é a cidade mais populosa do Estado. Então onde há grande concentração de pessoas, é onde concentra a maior estatística desse tipo de delito também. Talvez seja isso o motivador”, completou.

Número de feminicídio por região em SC entre 1 de janeiro a 30 de abril. – Foto: CSSPPO/Reprodução/ND

Violência doméstica

De acordo com Patrícia, somente em 2022, a Polícia Civil identificou 90 mil vítimas por fato de violência doméstica familiar. Até maio deste ano, os números já alcançam 36.774 vítimas por fato pelo delito. Na maioria dos casos, são mulheres entre 25 e 34 anos.

“Isso demonstra que a Polícia Civil tem realmente uma demanda dos casos de violência doméstica familiar”, explica Patrícia.

Rede de atendimento escassa

Para Maria Cláudia Goulart, psicóloga e especialista em violência de gênero, as taxas de feminicídio em Santa Catarina continuam altos, embora tenha uma pequena diminuição na comparação entre um ano e outro.

“O número ainda é muito alto e é muito relevante que a diminuição tenha sido de três casos. No nosso Estado a rede de atendimento ainda é muito escassa, diversos municípios sequer tem profissionais da rede de atendimento capacitados para atender esse tipo de situação”, complementa.

Dentro da Polícia Civil, a delegada da DPCAMI explica que o órgão tem priorizado as investigações de violência de crimes contra a mulher.

“Ano passado foram capacitados psicólogos para expandir a dinâmica de grupos de homens autores de violência. São ações que visam diminuir a incidência e diminuir o aumento de casos de violência contra mulher, ou seja, ações de empoderamento da mulher com o objetivo de evitar a reincidência desse crime desse delito”, conclui Patrícia.

Aumento no número de feminicídios no interior

Conforme a pesquisa feita por Jackeline Romio, doutora e mestre em Demografia Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), desde 2015 vem sendo registrada uma expansão da morte violenta contra em municípios fora da região metropolitana dos estados brasileiros.

“Isso tem a ver com o que o pesquisador Daniel Cerqueira [Atlas da violência 2019] nota como movimento de espraiamento e interiorização do crime e sequente crescimento da morte violenta ligado às novas rotas de criminalidade nas diversas cidades do interior dos estados. Estes novos cenários se juntam a uma política de flexibilização do porte e posse de arma (Decreto nº 9.685 de 15 de janeiro de 2019) que também ampliou a letalidade de todas as formas de violência, inclusive a doméstica”, aponta a pesquisa.

Canais de denúncia contra a violência doméstica

 Disque denúncia da Polícia Civil – 181
Disque denúncia – 180
Polícia Militar- Emergências – 190

Para adicionar o Ligue 180 no WhatsApp, basta enviar uma mensagem para o número (61) 9610-0180 ou pelo link.

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