Mulher morta por bala perdida da PM sofreu ‘seis paradas cardíacas, uma por filho’, diz marido


Edneia Fernandes Silva morreu após ser atingida por uma bala disparada por um policial militar durante a Operação Verão no litoral de São Paulo. A vítima era mãe de seis filhos. Edneia Fernandes Silva (à esq.) deixou seis filhos após ser atingida por uma bala perdida em Santos, SP
Arquivo Pessoal
Edneia Fernandes Silva, a mãe de seis filhos atingida na cabeça por uma bala perdida disparada por um PM em Santos (SP), durante a Operação Verão, sofreu seis paradas cardíacas antes de morrer. As informações foram divulgadas ao g1 nesta sexta-feira (28) por Givaldo Junior, marido da vítima e pai dos menores.
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Edneia foi baleada em 27 de março, na Praça José Lamacchia, no bairro Bom Retiro. Ela foi internada em estado grave em uma unidade de saúde, mas não resistiu e morreu na noite seguinte. Givaldo contou que a companheira conversava com uma amiga no local quando foi atingida. Ele disse ter ouvido apenas um disparo durante a ação da PM – apesar da corporação alegar confronto.
“Ela teve seis paradas cardíacas, uma por filho”, desabafou Givaldo. “Hoje eu não tenho ajuda de ninguém. Sou só eu, meus filhos e Deus”.
O autônomo de 33 anos acrescentou que estava com Edneia há 17 anos. Eles tiveram seis filhos juntos, sendo três meninas, de 2, 11 e 13 anos, e três meninos, de 5, 7 e 16 anos.
‘Justiça de Deus’
Edneia Fernandes Silva, de 31 anos, foi atingida na cabeça por uma bala perdida em Santos, SP
Reprodução/Redes Sociais
Givaldo contou que, antes do ocorrido, trabalhava como vigia no período noturno enquanto a esposa cuidava os filhos. Ele relembrou que, pela manhã, ela saía para trabalhar como cabeleireira e fazer estágio em uma clínica odontológica. Neste momento, era ele quem ficava em casa.
“Ela estava aprendendo [no estágio] para poder dar prosseguimento na profissão que queria fazer [seguir], que era enfermagem”, explicou o homem.
Givaldo disse ter socorrido a esposa assim que ouviu o tiro, perto de casa. Ele ressaltou que, apesar da dor, encara os dias após a perda da mulher com um pouco mais de tranquilidade desde a confirmação de que a bala partiu da arma de um PM.
“Saí na porta e já tinha acontecido. Socorri a minha esposa e a levei para o hospital. Só escutei um disparo. Não escutei nada de troca de tiro, nada disso”, afirmou.
O homem lembrou da companheira com emoção, contando que ela era uma “excelente pessoa” e que sempre buscava o bem do próximo. Enquanto revezavam os cuidados com os seis filhos, eles “corriam atrás” para oferecer uma vida cada vez melhor à família. “Espero que, se a Justiça da Terra não for feita, que a Justiça de Deus seja feita”, finalizou Givaldo.
Bala disparada por PM
Coronel da PM afirma que bala perdida que matou mãe de seis foi disparada por PM
Edneia foi atingida por um disparo efetuado por um policial militar, de acordo com o laudo expedido pela Polícia Técnico-Científica. Agora, o Inquérito Policial Militar (IPM) será encaminhado à Justiça Militar, que dará continuidade ao processo na esfera judicial.
Em entrevista ao repórter Gianvitor Dias, da TV Globo, o chefe da Comunicação Social da Polícia Militar, o Coronel Emerson Massera, disse que a ocorrência começou com a perseguição de criminosos em atitude suspeita, sendo que, em determinado momento, eles dispararam cinco vezes contra os PMs.
“Um dos policiais, para se defender, efetuou apenas um disparo. Só esse policial efetuou o disparo e a perícia identificou que justamente esse disparou atingiu a senhora Edneia, o qual nós lamentamos muito”, afirmou Massera.
De acordo com o coronel, o policial militar que efetuou o disparo foi afastado e transferido para outro batalhão, também no litoral paulista. Ele informou, ainda, que não vê elementos para pedir a prisão preventiva do autor do disparo.
“Nós tínhamos até então a materialidade de um homicídio. Agora nós temos a materialidade e a autoria. O policial evidentemente não quis causar esse homicídio, por isso nós estamos trabalhando com homicídio culposo [quando não há a intenção de matar]”, disse.
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Relembre o caso
A prima de Edneia, Thayna Santos, disse à época que a mulher ficou internada em estado grave, desde que foi baleada, por volta das 18h de 27 de março na Praça José Lamacchia, no bairro Bom Retiro. A morte foi confirmada na noite de 28 de março.
De acordo com o boletim de ocorrência, Edneia estava sentada no banco da praça conversando com uma amiga. Segundo a prima, ela havia acabado de deixar um dos seis filhos no barbeiro quando foi baleada.
Thayna criticou a postura da PM quando a vítima levou o tiro, pois, segundo ela, não teve operação para resultar no disparo. “Não houve operação, só três motos da Rocam que passaram […]. Um único tiro vindo do policial foi o que atingiu ela”
De acordo com o BO, após o tiro, testemunhas socorreram a vítima e a levaram à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Zona Noroeste. Em seguida, ela foi transferida à Santa Casa de Santos.
Thayna disse que os moradores das comunidades querem viver em paz e criar os filhos com dignidade. “Precisamos de amparo real, afinal, a polícia deveria proteger a população e não destruir a vida de inocentes. […] não é justo tratarem as famílias da comunidade como lixo, como se fôssemos bichos”.
Versão do BO
Tiroteio ocorreu na Praça José Lamacchia, no bairro Bom Retiro, em Santos (SP)
Thais Rozo/g1
Policiais militares da Rocam faziam patrulhamento em motos pela Avenida Hugo Maia, sentido Jovino de Melo, quando viram uma motocicleta em alta velocidade entrando na avenida. Eles pediram para o motociclista parar, mas o piloto não obedeceu, fugiu e entrou na praça.
Para se resguardar, a equipe da PM parou de acompanhar o veículo e ficou parada no cruzamento da Avenida Hugo Maia com a Jovino de Melo. Neste momento, segundo o boletim de ocorrência, o motociclista e o garupa teriam atirado aproximadamente cinco vezes em direção aos agentes.
Um dos PMs reagiu e efetuou um tiro contra os suspeitos. Em seguida, os homens abandonaram a moto e correram em direção ao beco da praça, disparando mais cinco vezes. Os policiais fizeram o retorno pela Rua Washington de Almeida e acessaram a praça pelo lado oposto.
A moto foi encontrada sem a chave na ignição. Em pesquisa no sistema, a equipe constatou que não havia queixas de crimes envolvendo o veículo. Durante essa consulta, eles foram informados por testemunhas de que a mulher em questão havia sido baleada e socorrida.
No baú da moto, a PM encontrou um conjunto de capa de chuva preto, um boné vermelho e um carregador de celular. Também foi requisitada perícia para o local e exame residuográfico para as mãos do PM que fez o disparo. A pistola dele também foi apreendida.
O caso havia sido registrado como homicídio tentado e localização e apreensão de veículo na Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Santos. Os suspeitos não foram encontrados. O veículo abandonado foi encaminhado para as dependências do 7º Distrito Policial (DP).
Operação Escudo
PM da Rota morto era da capital de SP e estava em serviço quando foi atingido por criminosos
Arquivo Pessoal
A Operação Escudo foi deflagrada na região após a morte do PM da Rota Patrick Bastos Reis, em julho de 2023. Na ocasião, o agente foi baleado durante patrulhamento em Guarujá (SP).
Nos 40 dias de ação, segundo divulgado pelo secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, 958 pessoas foram presas e 28 suspeitos morreram em supostos confrontos com policiais. Desde o início da ação, instituições e autoridades que defendem os direitos humanos pediam o fim da operação.
Operação Verão
José Silveira dos Santos (à esq.) e Samuel Wesley Cosmo (à dir.)
Reprodução
A Operação Verão foi estabelecida na Baixada Santista desde dezembro de 2023. No entanto, as 2ª e 3ª fases, que contaram com reforço policial, foram decretadas logo após os assassinatos do soldado PM Samuel Wesley Cosmo, no último dia 2, e do cabo José Silveira dos Santos, no dia 7 de fevereiro.
A Defensoria Pública de São Paulo, em conjunto com a Conectas Direitos Humanos e o Instituto Vladimir Herzog, pediu à Organização das Nações Unidas (ONU) o fim da operação policial na região e a obrigatoriedade do uso de câmeras corporais pelos policiais militares.
Mortes de policiais
No dia 26 de janeiro, o policial militar Marcelo Augusto da Silva foi morto na rodovia dos Imigrantes, na altura de Cubatão. Ele foi baleado enquanto voltava para casa de moto. Uma grande quantidade de munições estava espalhada na rodovia. O armamento de Marcelo, no entanto, não foi encontrado.
Segundo a Polícia Civil, Marcelo foi atingido por um disparo na cabeça e dois no abdômen. Ele integrava o 38º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M) de São Paulo, mas fazia parte do reforço da Operação Verão em Praia Grande (SP).
Policiais militares Marcelo Augusto da Silva, Samuel Wesley Cosmo e José Silveira dos Santos, mortos na Baixada Santista (SP)
Reprodução/Redes Sociais e g1 Santos
No dia 2 de fevereiro, o policial das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Samuel Wesley Cosmo morreu durante patrulhamento de rotina na Praça José Lamacchia. O agente chegou a ser socorrido para a Santa Casa de Santos (SP), mas morreu na unidade.
Uma gravação de câmera corporal obtida pelo g1 mostra o momento em que o soldado da Rota foi baleado no rosto durante um patrulhamento no bairro Bom Retiro (assista abaixo).
Vídeo mostra o PM da Rota sendo baleado no rosto em viela no litoral de SP
Cinco dias depois, o cabo PM José Silveira dos Santos, do 2⁰ Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP), morreu ao ser baleado durante patrulhamento no bairro Jardim São Manoel, em Santos. Na ocasião, outro policial militar foi baleado e está internado.
VÍDEO: g1 em 1 Minuto Santos

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