Remoto e híbrido: entenda o que mudou no mundo do trabalho e como se adaptar

A pandemia de 2020 trouxe uma nova realidade para o mundo do trabalho, forçando empresas e profissionais a se adaptarem a modelos remotos e híbridos. O trabalho à distância se tornou uma opção popular entre os empregados, mas o movimento de retorno aos escritórios têm ganhado força no mercado, gerando impasses e necessidade de reinvenção.

Resumo

A pandemia iniciada em 2020 trouxe mudanças nos modelos de trabalho, com crescimento dos tipos remoto e híbrido;
Pesquisas mostram que a preferência dos profissionais pelo trabalho remoto contrasta com as ofertas de vagas majoritariamente presenciais;
Cada setor da economia se adapta de forma diferente aos modelos presencial, híbrido e remoto;
O surgimento do movimento da “Grande Renúncia” nos EUA reflete uma insatisfação com os modelos tradicionais de trabalho;
As empresas precisarão se adaptar a novas categorias de trabalho mais flexíveis e voltadas para as necessidades individuais dos colaboradores.

Segundo pesquisa da startup Revelo, 79% dos profissionais preferem se demitir a perder o sistema de trabalho remoto. Porém, mesmo com o crescimento de 16,6% entre novembro de 2022 e janeiro de 2023 da oferta de vagas híbridas e de 32,6% de vagas remotas, elas representam apenas 2,48% e 2,7% do total de vagas, respectivamente, enquanto 94,82% delas são totalmente presenciais, revela a plataforma de divulgação de ofertas de emprego Infojobs.

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Outro estudo feito pela RH Tech InfoJobs com o Grupo Top RH mostra o descompasso entre o desejo dos funcionários e a vontade das chefias. Segundo o levantamento, 58,3% dos profissionais disseram que se sentem menos produtivos no fim de um dia de trabalho presencial. Para 64,4% dos entrevistados, a qualidade de vida piorou ao voltar para o escritório. Entre os respondentes, 47,2% estão em modelo presencial, 33,2%, no híbrido, e 19,5% trabalham apenas remotamente.

“Acredito que, com o passar do tempo, haverá um equilíbrio pelo simples fato de que, se por um lado os profissionais necessitam trabalhar, também as empresas necessitam deles. Percebo que, em algumas empresas, temos resistências de natureza mais cultural que operacional, em função da insegurança e/ou desafios que a gestão remota ou híbrida trazem”, defende a professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) de Gestão de Pessoas e Comportamento Organizacional, Miriam Rodrigues.

Para Bruno Martins, CEO da Trilha Interativa, consultoria de desenvolvimento e recolocação profissionais, a melhor forma de fazer é por meio de indicadores de produtividade e performance.

“O fato de o trabalho não estar sendo bem realizado quando o formato é o remoto deve ser levado em consideração e vice-versa, mas há outros fatores subjetivos que podem prevalecer também como o engajamento e a saúde mental dos trabalhadores”, afirma Martins. 

Diante desse cenário, como conciliar os anseios de colaboradores e gestores? É possível o trabalho híbrido ou remoto em todos os setores? Quais as vantagens e desvantagens de cada modelo?

Diferenças entre os setores

Cada setor da economia é um universo com características próprias e aspectos relacionados à sazonalidade. No entanto, existem áreas que podem se adaptar melhor a determinados tipos de trabalho.

O presencial é o mais apropriado a setores que exigem a prestação física de serviços por parte do colaborador, como o industrial, de alimentação (restaurantes, bares e padarias), transporte, e, em muitos casos, o de saúde, que eventualmente também pode ser realizado à distância.

O híbrido e o remoto contemplam uma gama maior de setores. “No caso do híbrido, ele pode ser implementado em situações em que o serviço pode ser realizado alguns dias da semana de forma remota, mas a integração entre a equipe e o alinhamento de estratégia precisam ser mantidos para que a cultura da empresa seja fortalecida. Há quem defenda esse formato como a melhor opção porque atenderia às duas partes”, diz Martins.

Exemplos de áreas em que este modelo pode ser usado são a administrativa, de marketing, financeira, de consultoria e educacional, a qual oferece cursos tanto presenciais como à distância (EaD).

Em relação ao totalmente remoto, o setor de tecnologia já utilizava o expediente mesmo antes da pandemia. Ele é mais apropriado para casos em que o trabalho pode ser realizado sob demanda por especialistas que estão baseados em outras regiões ou até mesmo por empresas cujos funcionários têm uma boa comunicação virtual e nas quais o trabalho não exige contato direto com clientes.

“O coworking, categoria que se baseia no compartilhamento do espaço e de recursos de escritório, é outra modalidade que surgiu no final da década de 1990 e é um modelo de trabalho que vem ganhando cada vez mais espaço, em especial no caso de profissionais liberais (médicos, advogados, psicólogos), bem como para empreendedores ou usuários independentes”, afirma a professora da UPM.

A Grande Renúncia

Um fenômeno que teve início durante a pandemia nos Estados Unidos, mas que tem se prolongado e acabou se espalhando por outros países, foi o da “Grande Renúncia” ou “Movimento antitrabalho”. Trabalhadores esgotados pelas jornadas de trabalho durante a crise sanitária de Covid-19 e frustrados com suas condições de trabalho precárias e hostis começaram a questionar todo o modo de vida contemporâneo e iniciou-se uma mobilização em massa a favor de greves, da recusa de retorno ao serviço presencial e de demissões em massa.

Segundo Ana Celano, PhD em Administração, professora e pesquisadora do Ibmec RJ, até o final de 2021 mais de 47 milhões de americanos haviam deixado seus empregos voluntariamente, um número muito maior do que as médias usuais do país, tendência que continuou em 2022 e segue existindo.

“Existe um forte componente geracional. Entre os colaboradores que não querem mais trabalhar nos modelos tradicionais a maior parte integra a geração Z, chegando a 50% na geração Y e caindo para 30% aproximadamente em relação a geração X”, explica ela. De acordo com o CEO da Trilha Interativa, esses indivíduos que compõem o movimento são jovens que nasceram num mundo digitalizado e que trabalham bem de forma remota. “Geralmente, atuam em áreas como tecnologia da informação e marketing”, diz ele.

“Como este movimento de antitrabalho é relativamente novo e as condições culturais e econômicas nos EUA e Brasil são significativamente diferentes, previsões são arriscadas. Porém, este movimento não é específico dos profissionais americanos e já ganhou a adesão de pessoas outros países, sendo reforçado pelas redes sociais”, afirma Rodrigues.

Celano acredita que as empresas precisarão de muita sensibilidade para realizar mudanças culturais e principalmente fomentar o diálogo com os colaboradores, já que essa escuta será fundamental neste processo. “Sempre será perigoso generalizar, pois cada empresa tem um posicionamento, atua em um determinado ramo e possui diferentes perfis de pessoas em seus quadros, então será necessário fazer os ajustes de forma bem negociada, se possível sem imposições”, afirma.

“Com certeza os tempos sólidos e de alta previsibilidade não retornarão. O caminho aponta para a multiplicação de modelos, cada vez mais adaptados as necessidade de indivíduos e não de grupos, modelo este ao qual as empresas estavam acostumadas no passado”, conclui a professora do Ibmec RJ.

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