MIS inaugura exposição sobre B.B. King, o rei do blues, com momentos raros da vida do guitarrista

‘B.B. King: Um Mundo Melhor em Algum Lugar’ conta com objetos pessoais do rei do blues, inclusive duas das famosas guitarras Lucille. Exposição conta história de B.B. King, o rei do blues, no MIS, em São Paulo
Cinthia Bueno / MIS
Antes de ouvir qualquer nota de guitarra elétrica, duas portas recebem os visitantes. Uma se abre para uma parede, sem saída. A outra dá para dentro da simulação de um cenário comum nos Estados Unidos dos anos 1920. As fotos nas paredes de um corredor estreito retratam as plantações de algodão do sul daquele país. As luzes vermelhas esquentam o ambiente numa referência ao calor forte da região. A situação impressiona e incomoda, de propósito.
Provavelmente, o visitante que chegar à nova exposição do Museu da Imagem e do Som (MIS), na Zona Sul de São Paulo, vai motivado pela curiosidade ou pela paixão por música e um dos seus nomes mais brilhantes. Mas, de cara, ele vai ter uma noção do quão improvável foi a jornada de B.B. King, da infância pobre ao estrelato.
A curadoria de “B.B. King: Um Mundo Melhor em Algum Lugar” é dividida entre o atual diretor do MIS, André Sturm, e Cacau Ras, músico, produtor e professor.
“Quando eu estava estudando sobre o B.B. King, eu me deparei com um Green Book verdadeiro”, conta Sturm. “É um livro que foi editado até os anos 60 como um guia. Um guia para pessoas negras saberem, nas cidades americanas, em quais [lugares] elas poderiam entrar, em que hotéis poderiam se hospedar, quais restaurantes as aceitariam. Foi muito impactante. Aí eu decidi que eu tinha que falar da segregação, em paralelo, e cruzando com a vida do B.B. King.”
Dois exemplares do infame Green Book estão nas paredes da exposição, que começa em preto e branco, descrevendo a situação radical da segregação racial nos Estados Unidos, do começo do século XX e de décadas que ainda viriam.
B.B. King nasceu em 1925, no estado do Mississippi, no sul dos EUA. Região que pegou em armas contra o norte do país apenas 60 anos antes, justamente para defender o regime escravista. Se o racismo era escandaloso em todo o país, imagine os reflexos do conflito no sul.
Cabine em frente a fotos de B.B. King. Nas paredes é possível ler a história do músico em ordem cronológica
Cinthia Bueno / MIS
Assentos separados em ônibus, entradas de estabelecimentos exclusivas para pessoas brancas ou negras, linchamentos. Contexto que limitava as aspirações de toda uma população livre da escravidão, mas encarcerada pela violência da discriminação.
Logo a exposição ganha cores e música, à medida em que o visitante acompanha o desenvolvimento da carreira de B.B. King. Inúmeras fotos ao lado de grandes nomes da música e outras personalidades, disponibilizadas pelo B.B. King Museum, ajudam a entender a importância e a influência do homenageado.
Ele foi um dos pioneiros da guitarra elétrica no blues, um gênero nascido no campo, tocado majoritariamente no violão.
As guitarras pretas da Gibson viraram uma marca registrada do músico. Todas ganharam o mesmo nome, Lucille.
André Sturm explica: “Ele era um jovem ainda e teve um incêndio onde estava tocando. Todo mundo saiu correndo, e ele se deu conta de que a guitarra tinha ficado lá dentro. Ele entrou no incêndio e quase morreu. Depois, o B.B. King conta que soube que o fogo tinha começado por causa de uma briga por uma mulher chamada Lucille. Ele batizou suas guitarras de Lucille para lembrar-se de nunca mais pôr a vida em risco por causa de um bem material”.
“O rei consagrado”, diz frase em exposição de B.B. King, ao lado de uma foto do músico segurando um prêmio
Cinthia Bueno / MIS
Morto em 2015, aos 89 anos, os feitos de B.B. King foram tantos com essa guitarra que, hoje, a Gibson tem uma linha de instrumentos com este nome dedicada a ele.
Duas Lucille estão expostas. Uma delas autografada depois de um show em São Paulo, em 2012. Hoje, a guitarra faz parte do acervo do Bourbon Street Music Club, casa de shows paulistana.
Itens particulares, como documentos, partituras e prêmios recebidos completam o acervo exposto aos visitantes. No fim da visita, quem quiser pode passar algumas horas ouvindo alguns dos mais de 40 álbuns de estúdio escritos e gravados pelo artista.
Serviço
Onde: Museu da Imagem e do Som (MIS), na Av. Europa, 158, Jardim Europa
Quando: até 8 de outubro
Como: de terças a sextas, das 10h às 19h. Aos sábados, das 10h às 20h. Domingos e feriados, das 10h às 18h. Ingressos custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Às terças, a visitação é gratuita

Adicionar aos favoritos o Link permanente.